Turma Formadores Certform 66

Tuesday, November 24, 2009

Tributo ao cão que não é hipócrita


Vem este título a propósito dum artigo publicado no Jornal de Matosinhos no dia 13 de Novembro de 2009. O artigo é assinado pelo empresário Celso Isauro na rúbrica "Tribuna Livre". Ele nos conta as desventuras de quem tem um cão - ele próprio - duma raça considerada perigosa, (ao abrigo da actual lei), a par da intolerância que os vizinhos - alguns daqueles puristas que pensam que sem eles o mundo pára - e da perseguição, - porque disso se trata -, que essas pessoas lhe fizeram. Diz Celso Isauro no seu artigo, "Sim, tributo ao cão, que não sabe ser hipócrita como muitas pessoas, devendo merecer do homem toda a consideração. O mais altruísta dos amigos que o homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona ou mostra ingratidão ou deslealdade é o cão". Este Rottweiler, Pélé de seu nome, foi companhia deste empresário durante onze anos. Este assunto acabou por ir parar ao tribunal de Matosinhos (1ª instância), onde o Sr. Celso Isauro foi absolvido, porque não foram provadas nenhumas das acusações. A juíza que julgou o caso proferiu um verdadeiro "hino à vida e ao respeito pelos animais". É importante dizer que nunca tinha havido qualquer problema com o animal, apenas a incompreensão, intolerância e estupidez de quem nada sabe de cães, nem gosta de animais, e pensa que um Rottweiller é uma arma de guerra, não percebendo que, tal como os humanos, eles como nós, são fruto da educação que tivemos na meninice, ou pela ausência dela. A intolerância destas pessoas, levou a interporem um recurso para o tribunal da relação onde ele viria a ser condenado. Mas o animal não esperou por isso, com onze anos de vida e algumas complicações graves de saúde, o Pélé deixou o seu dono, quiçá para um mundo bem melhor e tolerante do que aquele em que vivemos, liberto da intolerância e preconceitos de alguns humanos. Pélé era um animal de pequeno porte, nunca tinha feito mal a ninguém, porquê esta intolerância? No entretanto, alguns pretensos "amigos" diziam que o melhor era abandoná-lo à sua sorte(!), mas Celso Isauro lá foi resistindo indo buscar a força ao grande amor que tinha pelo seu animal. Mas dê-mos a palavra a Celso Isauro: " Foram noites mal dormidas, dores sentidas e revoltas contidas. Fosse o meu Pélé pertença de outros extractos sociais a música seria outra". E mais adiante: " Já não terei o Pélé ao meu lado; beijando-me as mãos (sempre com alimento para lhe oferecer); já não me lamberá as feridas e as dores que apareciam nos encontros com a violência do mundo; já não guardará o meu pobre sono; já não vou correr para casa para estar ao seu lado; quando todos os amigos(?) me abandonaram, o Pélé permaneceu. E quando a última cena se apresenta, a morte leva-o nos seus (meus) braços e o seu corpo é deixado (levado) na laje fria, lá ao lado da sepultura, encontra-se o nobre cão (pobre dono), a cabeça entre as patas, os olhos tristes, mas em atenta observação, fé e confiança, mesmo na morte". E termina: " Pélé não sei para onde fostes, mas perdoa-me pelo que não consegui ou não fiz. Mas, se ainda me ouvires, confia não te esquecerei, lutamos contra tudo e contra todos, só a doença nos venceu, não te esqueças dos (as) que te perseguiram. Eu, por cá, sinto e viverei com nojo que a vida me proporciona, foste o meu melhor amigo e dedico-te o tributo ao cão que não foi hipócrita". Depois disto, que mais posso dizer. Num mundo intolerante, ávido de poder e insanidade, existem ainda verdadeiros oásis de ternura, amor e carinho. Aqui fica a minha homegagem a Celso Isauro, com um bem haja por tudo o que fez, e pela partilha que quis fazer com todos nós. Espero que o seu exemplo seja uma luz para muitos. Quanto a ti, Pélé, não te conheci, mas estou contigo como sempre estive, ao lado dos mais fracos, dos marginalizados, de todos aqueles que, como tu, vivem num mundo onde um animal é um simples objecto que se deita fora quando nos fartamos dele. Lá onde estiveres, que sintas esta homenagem, em prol dum mundo melhor do que aquele que conheces-te. RIP.

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