A crise financeira e a recessão - XIII
Afastado, ao que parece, o fantasma da deflação, à que enfrentar outras dificuldades não menos prementes. Todos nós sabemos das dificuldades que a economia portuguesa está a enfrentar, juntamente como outras economias europeias e mundiais. O fenómeno não é só português, o que vem agravar ainda mais a situação, em virtude de ser-mos uma economia frágil e periférica, necessitamos sempre do comportamento das economias dos outros países, desde logo a espanhola, com quem temos um envolvimento muito grande. Ora, como todos sabemos, a economia espanhola está ainda pior do que a nossa, o que vem dificultar ainda mais a recuperação. Contudo, à que não esquecer, que a economia do país vizinho é mais forte do que a portuguesa, e que apesar das suas debilidades actuais, poderá vir a recuperar mais rapidamente. Embora os sinais de recuperação comecem a aparecer, é minha convicção que tal, só se verificará de facto em 2011. Tudo isto bem a propósito do recente relatório do FMI sobre a economia portuguesa que foi divulgado a semana passada. Todos sabemos do comportamento do FMI face aos países onde se foca, e nós particularmente, que assistimos a uma intervenção muito violenta nos finais dos anos 70, início dos 80, quando Portugal esteve próximo da bancarrota, onde se viria a salientar o então Ministro das Finanças, Vitor Constâncio, e que lhe granjeou rasgados elogios a nível internacional pela maneira como se bateu na defesa de Portugal. Mas, apesar disto, o relatório do FMI não deixa de colocar algumas questões pertinentes. Desde logo a necessidade de reduzir o déficit público que é muito elevado, algo que já a UE tinha imposto a Portugal, com a necessidade de o ter a 3% em 2013. O importante é saber como fazê-lo. É sabido que o problema do déficit é desde logo um problemas de elevado nível de despesa pública que não se consegue controlar. Este sempre foi o drama da economia portuguesa, e sempre sobrou para a população arcar com as responsabilidades. Talvez não se lembrem, mas mesmo Salazar nos anos 30 teve que o fazer, o que conduziu a uma depauperação dos portugueses duma forma dramática. Só que os tempos eram outros, e o padrão-ouro vigorava com toda a sua pujança, coisa que hoje não acontece para além do efeito de economia fechada que se vivia em Portugal. Assim, o FMI diz que será necessário reduzir a massa salarial pública ou, diria eu, reduzir o número de funcionários. A máquina pública sempre foi uma máquina pesada e descontrolada, onde a imposição de rigor é algo difícil, quiçá, quimérico. Se a isso juntarmos a descida da receita, motivada pela crise que atravessamos, estámos num caldeirão de difíceis proporções. Embora o governo diga que não vai aumentar impostos, penso que tal vai ser difícil, poderá não os aumentar este ano - coisa que duvido - mas no futuro, julgo que não poderá deixar de o fazer. Desde logo, o IVA terá que aumentar, visto ser um imposto que dá receita imediata, e para reduzir o déficit penso que não existirá outra solução. Considero má a opção de aumentar os impostos, visto já termos uma excessiva carga fiscal, mas a maneira de o evitar não é fácil e, muito menos, consensual. Claro que isso torna as empresas, e desde logo a economia, menos competitiva face ao exterior, mas não vislumbro outras alternativas no curto prazo para se buscar o equilíbrio das contas públicas tão desejado e imposto pela UE. O relatório do FMI pode ser demasiado rigoroso, como sempre o é, pode até ser considerado uma ingerência política em Portugal - como alguns partidos afirmaram - mas quem tem responsabilidades governamentais, ou aspirações a elas, não foi por aí, porque sabe que o caminho é estreito, doloroso e longo. Mas quando se lê o referido relatório com atenção, não se pode deixar de concordar com algumas das medidas que lá aparecem. É que as alternativas não são muitas, e o tempo é cada vez mais escasso.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home