Turma Formadores Certform 66

Tuesday, February 22, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 74


No final da semana passada, assistimos a alguns factos que nos deixaram apreensivos quanto ao futuro, como vimos alertando desde já algum tempo atrás. É que o capital - financeiro e não só -, está ávido de mudança para um governo que lhes seja mais favorável, embora este não os deva ter desiludido muito, mas há quem queira mais e mais. As palavras de Soares dos Santos, presidente do Grupo Jerónimo Martins, é disso uma evidência. Depois de ter utilizado, numa conferência de imprensa, linguagem menos própria, visando sobretudo o primeiro-ministro, mereceu deste apenas um breve e significativo comentário. Disse José Sócrates: "Não basta ser rico para ser bem-educado". Nesta questão, estamos com o primeiro-ministro, porque Soares dos Santos pode não concordar com muitas coisas, até com o governo, mas existe um respeito institucional que é sempre merecido a um primeiro-ministro, que está lá, porque a maioria do povo o elegeu, coisa que não aconteceu com Soares dos Santos. Nós, também, temos muitas divergências com o PM e com o governo, - como muitos portugueses - mas isso não basta para se ter uma linguagem imprópria, linguagem de nível de sarjeta. Mas o mais surpreendente, foi o grande magnata Joe Berardo, que já veio defender, em entrevista ao Expresso no fim-de-semana passado, que admite que Portugal tem que mudar de regime evoluindo até para "um novo género de ditadura". Entretanto, o Procurador-Geral da República, em entrevista dada ao mesmo semanário, assumia a promiscuidade da política com a justiça. Fazendo fortes ataques ao poder político, mas não deixando de afirmar que, "quando disse que não havia nada contra o PM, depois de consultados os investigadores, foi quando começaram os ataques contra si próprio e ao que ele representa". Até o sindicato dos magistrados não escapou, - e aqui com propriedade -, facto para o qual já tinhamos alertado em crónica anterior. Todos sabemos que, a nossa democracia vem apodrecendo, dia após dia, não tanto pela incapacidade do regime, mas essencialmente pela incapacidade dos políticos que temos. Já aqui o dissemos, que temos saudades dos políticos que iniciaram a democracia entre nós, onde o Parlamento era o local onde se poderia assistir a debates profundos e interessantes. Hoje, basta olhar para o Parlamento, para ver a falta de estatuto, de nível, que por lá campeia. Alguns políticos já foram admitindo que mais de metade dos deputados não está lá a fazer nada, nem têm nível mínimo para lá estar. Coisa que aliás já todos nós constatamos. Mas pensamos que em democracia existe sempre o espaço suficiente para se criar alternativas a esta ou outras situações que possam advir. Temos alertado para que todos, mas mesmo todos, estejamos atentos aos sinais. É que os interesses mais inconfessados, - alguns deles que ficaram adormecidos em 1974, e não mortos, como muitos pensaram -, começam a renascer das cinzas. Quando no Oriente se assiste a um sopro de democracia e liberdade, ansiosamente desejada pelas populações, entre nós, - na Europa ,- à quem, a coberto das dificuldades por que passamos hoje em dia, se aproveite delas, para apelar ao regresso ao passado saudosista, onde os interesses do capital (selvagem) é que valiam. Mais uma vez apelamos que estejamos todos atentos aos sinais.

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