Turma Formadores Certform 66

Thursday, March 03, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 75


Apesar das muitas diferenças, os dois grandes partidos têm muito em comum, daí - como já por várias vezes afirmamos -, a substituição dum por outro, será uma mera mudança de rostos e não de políticas, como o passado já nos mostrou. Mas se ainda houvessem dúvidas, a aliança quanto ao vencimento dos gestores públicos entre PS e PSD, que inviabilizaram a moção apresentada na semana passada na AR pelos outros partidos. Depois, à que safar a face, e vir a terreiro afirmar que pretendem fazer alterações a esse nível, mas não da forma que a moção rejeitada prefigurava. Tudo isto não passa, mais uma vez, dum jogo de sombras, que não pode escapar aos portugueses. Na hora da verdade, a política do PS e do PSD são muito comuns, - basta analisar os respectivos programas -, embora embrulhado em papéis diferentes, para dar a ideia de que são coisas diversas. O CDS - partido que por vezes aparece como o grande justiceiro - também não fica de fora de tudo isto. Veja-se o que o Expresso da semana passada trás sobre a compra dos submarinos. Mais uma vez o Wikileaks na berlinda, mas não deixa de ser sintomática a crítica que o embaixador dos EUA faz, e que será, seguramente, semelhante à de muitos portugueses, quando viram tal desaforo. Não nos podemos esquecer que a sua aquisição, cujo pagamento começa a ocorrer agora, está a pesar duma maneira brutal nas contas públicas, que se queriam equilibradas. Mas aí estão os contribuintes para se sacrificarem mais um pouco, com vista a fazer face a compromissos assumidos por políticos esbanjadores (leia-se Paulo Portas, então ministro da defesa). Para quem tanto fala na defesa dos contribuintes não deixa de ser sintomático o ridículo de que estes senhores se cobrem. Ainda por cima, parece que os ditos submarinos não trazem sistema de mísseis, o que segundo o tal embaixador, não deixa de ser estranho. Estes "brinquedos caros" apenas servem para dizer que os temos e nada mais. É como se tivessemos um grande exército, muito bem fardado e cheio de medalhas, mas que não dispusesse de armas, apenas as necessárias para os desfiles, isto é, armas a brincar. Mas o contribuinte aí está para pagar tais desvarios. Por outro lado, o ministro das finanças já vai alertando para as medidas adicionais que por aí vêem, e que o contribuinte, mais uma vez, terá que assumir a factura. Como dissemos em anterior crónica, as medidas apresentadas - na nossa opinião - são insuficientes. E os discursos de José Sócrates e Passos Coelho (que até já se disponibilizou para analisar a questão) são disso um sintoma mais do que evidente. Teixeira dos Santos já vem colocar a questão publicamente em cima da mesa para que não restem dúvidas. E assim vai a nossa democracia. Os casos sucedem-se, os equívocos também. Até a justiça, Ministério Público e polícia que tão arredada tem andado dos portugueses, acaba por descobrir que no caso Rui Pedro, foram precisos treze anos (!!!) para se acusar o presumível criminoso. Que justiça se fará agora, passados tantos anos? Que problemas irão surgir durante o processo, à medida que ele for avançando? Enfim, é o Portugal no seu melhor... No meio de tudo isto, o desencanto das populações é enorme e, sobretudo, nos mais jovens que não vêm acesso a uma carreira profissional. Daí que, a exemplo do que vem acontecendo nos países árabes, comece a circular um e-mail com a convocatória para uma manifestação de indignação marcada para o dia 12 deste mês em Lisboa e Porto. Estamos certos que terá uma boa adesão, mas é preciso estar atento à possível instrumentalização dum direito de cidadania. (Cidadania que, ao fim de mais de trinta anos de democracia, ainda não sabemos exercer). Contudo, é preciso não esquecer que, nos países árabes luta-se pela liberdade face a ditaduras ferozes, mas em Portugal, existe uma democracia, e o governo que temos - gostemos ou não - foi eleito pela maioria da população e, portanto, legítimo. Mas, como vimos dizendo à muito tempo, é preciso estar atento aos sinais, agora é esta nova "geração à rasca" mas, como é facilmente comprovável, "à rasca" estamos todos nós. Como voltou a lembrar Mário Mendes, no dia em que abandonou o cargo de secretário-geral do SSI, as restrições ao nível das prestações sociais, a crise "soit disant", pode ser o rastilho para grandes convulsões sociais a curto prazo. E vindo de quem vem, acho que esta afirmação deve merecer, de todos nós, a nossa maior atenção.

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