"A Mão de Fátima" - Ildefonso Falcones
Em 1568, nos vales e montes das Alpujarras, ouve-se um grito da rebelião: fartos de injustiças, saques e humulhações, os mouriscos enfrentam os cristãos e iniciam uma luta desigual que só poderia terminar com a sua derrota e consequente dispersão por todo o reino de Castela. Entre os sublevados encontra-se o jovem Hernando. Filho de uma mourisca e do sacerdote que a violou, é repudiado pelos seus, devido à sua origem, e pelos cristãos, por força da cultura e dos costumes da sua família. Durante a insurreição conhece a brutalidade e crueldade de uns e de outros, mas também encontra o amor na figura da corajosa Fátima dos grandes olhos negros. Depois da derrota, obrigado a viver em Córdova e face às dificuldades da vida quotidiana, todas as suas forças se concentrarão em conseguir que a sua cultura e religião, as dos vencidos, recuperem a dignidade e o papel que merecem. Mas para isso deverá correr riscos... Os leitores de "A Catedral do Mar" encontrarão neste segundo romance do autor os mesmos ingredientes que conduziram ao enorme sucesso do primeiro: o rigor histórico, que se entrecruza com um apaixonado relato de amor e ódio, de ilusões perdidas e esperanças que conferem sentido à vida e a lançam pelos caminhos da aventura. Deste modo, Falcones constrói um romance grandioso, que pretende reflectir a tragédia do povo mourisco numa altura em que se celebra o quarto centenário da sua expulsão de Espanha, mas que relata também uma vida singular, a de um homem fronteiriço e apaixonado que nunca se resignou à derrota e que lutou pela convivência entre os povos. Livro pleno de actualidade, num momento em que se defrontam, mais uma vez, as ideias cristãs e muçulmanas. Historicamente, parece que estamos a assistir ao refluxo daquilo que o Ocidente cristão fez ao longo de séculos sobre o Oriente muçulmano. Numa altura em que tanto se fala da Al-Quaeda e do ódio desta ao ocidente, talvez seja bom lembrar aquilo que o ocidente fez noutros tempos, com todo o cortejo de barbárie, muitas vezes, encabeçada pelo clero cristão. Talvez seja um bom livro para reflectirmos sobre tudo isto, e analisarmos que, por vezes, as coisas não estão tão distantes assim. Este livro não impede a leitura de outros mais profundos sobre a matéria, mas tem o condão de espicaçar a curiosidade de conhecermos outros escritos que falem deste tema, para os podermos analisar com mais rigor e, sobretudo, desapaixonadamente. Ildefonso Falcones de Sierra, - o autor -, é advogado e exerce em Barcelona. Com "A Catedral do Mar", o seu primeiro romance, transformou-se num exito internacional sem precedentes, tendo sido publicado em mais de quarenta países, onde foi reconhecido pelos leitores e pela crítica. Conquistou vários prémios, entre eles, Euskadi de Plata 2006, para o melhor romance em língua castelhana, o Qué Leer para o melhor livro espanhol de 2006 o prémio Fundación José Manuel Lara para o livro mais vendido em 2006 e o prestigioso galardão italiano Giovanni Boccaccio 2007 para o melhor autor estrangeiro. Com mais de quatro milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Ildefonso Falcones é o maior "best-seller" espanhol de romance histórico. Agora que se cumpre o quarto centenário da expulsão dos mouriscos da Península Ibérica, "A Mão de Fátima" torna a deleitar o leitor com uma história apaixonante e rigorosamente documentada. A edição deste magnífico livro é da Bertrand Editora. P.S.: Neste "post-scriptum" gostava de fazer referência à mão de Fátima e ao seu simbolismo. Por vezes vêem-se pessoas com essa jóia ao pescoço, e que não são muçulmanas, por isso, à que esclarecer o seu significado. A mão de Fátima (al-hamsa) é um amuleto em forma de mão com cinco dedos, que, segundo algumas teorias, representam os cinco pilares da fé: a profissão de fé (shaada); a oração cinco vezes ao dia (salat); a esmola legal (zakat); o jejum (Ramadão) e a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida (hadj). Curiosamente, este amuleto também aparece na tradição judaica. Quem for a Espanha, nomeadamente, visitar o Alhambra, em Granada, verá no seu acesso, logo à entrada, este mesmo amuleto, símbolo bem evidente da permanência mourisca em Espanha, naquilo a que os árabes chamam Al-Andaluz (Andaluzia).
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