Turma Formadores Certform 66

Sunday, April 17, 2011

Conversas comigo mesmo - X


Neste fim de Quaresma e início da Semana Santa, - neste Domingo de Ramos - que nos prepara para a Páscoa, é altura de reflectirmos sobre o sentido da vida e da morte. "Que a morte quando vier / não venha matar um morto...", assim começa um belo poema de Sebastião da Gama. Isto significa que há outras mortes para além da inevitável morte física. Mortes que é preciso identificar e combater. Por isso os "túmulos", nem sempre têm a ver com cemitérios. Referem-se antes a situações, a estados de alma, a atitudes de vida que nos imobilizam e tornam inúteis ou "mortos" aos olhos de Deus. "Túmulos" bem conhecidos onde tantas vezes caímos: o egoísmo, a rotina, a auto-suficiência, o comodismo, a resignação, o desânimo. É destes "túmulos" que Jesus nos quer tirar. Por isso, mais uma vez, Ele vem ao nosso encontro. E, com voz forte e amiga, nos brada como a Lázaro: "Saí para fora!". E oferece-nos o seu Espírito para um novo nascimento, para um modo novo de vivermos. Esse Espírito que aparece como água que sacia as nossas sedes mais profundas da vida e de sentido, como luz que nos faz ver o verdadeiro rosto das coisas, dos outros e de Deus, o que somos e o que podemos ser, como a vida e ressurreição capaz de nos arrancar de todas as nossas "mortes" e de nos fazer viver de modo mais autêntico e feliz. Esse Espírito que S. Paulo nos exorta a acolher e a assumir como sinal e condição da nossa pertença ao Senhor. Contudo, nem sempre é fácil. Sobretudo, quando a perda de alguém que veneramos nos atinge com a violência dum soco e as memórias nos deixam marcas profundas na alma. Para mim, não tem sido fácil, disse-vos que se completaram à dias dez anos da morte de minha mãe, e esse "túmulo" do desencanto, da perda, da saudade, ainda não foi selado. Vai queimando como fogo, porque nem sempre somos capazes de nos libertar da perda e deixar para trás a experiência de vida que a morte encerra, que faz com que nos sintamos agrilhoados e sem esperança. Eu que vos tenho falado de esperança, agora descambo para o desespero. Perdoem-me mas ninguém é perfeito, e muitas vezes, o grito da alma é mais punjente do que tudo o resto. Nesta sociedade de valores - sobretudo monetários - os outros os mais profundos da alma humana ficam desfocados, e quem se atreve a falar deles, corre o risco de ser considerado pouco saudável mentalmente. Porque o dinheiro é o poder, é a marca que diferencia, - mas também, que divide -, os homens entre si. Como dizia o Abbé Pierre - fundador do Instituto "Companheiros de Emmaus" - "com dinheiro não se fazem homens. Com homens que se amam faz-se tudo, até o dinheiro necessário". Tomemos isto como reflexão, nem aproximar da Semana Santa, onde os valores deverão ser mais elevados, nem que seja só... por uma semana.

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