Equivocos da democracia portuguesa - 85
Eis-nos chegados ao olho do furacão onde fomos colocados pela irresponsabilidade de alguns. Como era de esperar, após a demissão do governo, a situação iria evoluir para o caos duma forma exponencial. Tinha-mo-lo dito e aí estamos. As agências de "rating" não confiam na situação em que Portugal se encontra, nem acreditam naquilo que por aí virá. Não adianta, esses "rapazotes" virem com um discurso muito responsável, nem as mensagens em inglês, nem os artigos de opinião publicados no World Street Journal. Isso só vem confirmar aquilo que já aqui tínhamos enunciado, as agências de "rating" não confiam nesta gente que se prepara para tomar o poder, e que ainda não foi capaz de apresentar nenhuma medida coerente. Até os seus próprios acólitos pedem para se calem e apresentem algo de sustentável quando o tiverem, porque agora só mostraram que não tinham nada. Que o digo o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa que acha que, por enquanto, o seu partido é um deserto de ideias. (Só a título de exemplo, quando questionado sobre o fim da avaliação dos professores, Marcelo foi peremptório: "Não concordo. Tem que haver avaliação. Quando se termina uma deve-se implementar outra, o que não foi o caso. Não se termina uma avaliação a meio duma ano lectivo. Tudo isto foi fruto do mais básico eleitoralismo". Pensamos não serem necessários mais comentários, dada a eloquência do discurso). Mas a ânsia de "ir ao pote", foi maior do que a responsabilidade de empurrar o país para uma crise sem precedentes. O PR está muito preocupado, e com razão, embora o devesse estar mais, quando criou as condições para que isso acontecesse, nomeadamente com o seu discurso de tomada de posse, que veio dar o sinal de assalto ao poder, que nos veio a colocar nesta situação. Ele que, em tempos, achou que não se deviam criticar as agências de "rating" quando o assalto começou, é o primeiro - agora e tardiamente - a dizer que elas estão a exagerar e a ir longe de mais. É tarde para estes actos de contrição, embora pensemos que, mais vale tarde do que nunca. Até aproveitou para dizer que agora "vai passar a ser mais contido"!!! É pena que não o tenha sido no passado, criando condições para potenciar a crise em que vivemos. Entretanto, o país tem que continuar a viver e a financiar-se, o que se torna cada vez mais difícil. Só nos resta o empréstimo directo a bancos que estejam interessados a ajudar-nos - empréstimos de curto prazo, com juros mais baixos - embora elevados quando comparados com o que acontecia a algum tempo atrás - o que significa que é colocar pionés numa cadeira onde em breve outros se vão sentar. O que atendendo àquilo que fizeram - não fosse a gravidade da situação - até apetecia dizer: "É bem feito"! As condições de evitar a entrada de entidades externas em Portugal são cada vez mais um desígnio. A margem é cada vez mais estreita, e agora, assitimos ao "jogo do empurra" de quem é que vai pedir essa ajuda. O PS sempre disse que não concordava e que não era necessário, o PSD não o quer patrocinar porque isso tem custos eleitorais que podem ser importantes, o PR diz que não é nada com ele, mas com o governo - parece que foi só com ele o criar das condições para que esta situação fosse criada. A nossa posição é clara e desde à muito conhecida. Em primeiro lugar o PR deveria ter patrocinado um governo tecnocrata acima dos partidos com o objectivo último de criar condições para reequilibrar as contas públicas. Mas para isso seria necessária coragem e determinação, qualidades que estão nos antípodas do actual PR. Apesar disso, parece que na última reunião do Conselho de Estado, o PR acompanhado por Vitor Bento e Bagão Félix, colocaram a hipótese de haver um acordo de pedido de ajuda ao FMI - directamente e sem passar pela UE (!) - com o acordo do PR, PSD e CDS/PP, segundo informação publicada pelo Expresso. (Para quem tão melindrado ficou com o governo a quando da apresentação do PEC, parece que não se importa de fazer o mesmo à UE, com quem temos compromissos assumidos). Como diz o povo, "olha para o que eu digo e não para o que eu faço!". Mas agora, parece que já não é assim. Cavaco veio dizer que se deve pensar na ajuda europeia e não no FMI. É neste diz e não diz, neste emaranhado de confusão que nos encontramos, mais pressionados e depauperados. Pensamos que para além disso, se haveria de aproveitar este tempo para reformular a "praxis" dos partidos já demasiado gastos face ao que os portugueses desejam. Esperemos que outros surjam, mais próximos das populações, e não aqueles que se foram - ao longo do tempo - arrumando nos espaços que ocuparam e se foram aproveitando disso. Basta ver a vergonha daquilo que se passa na AR - casa da democracia onde devia haver mais empenho - e não o "folclore" a que assistimos todos os dias. E não basta para isso, fazer maratonas para votação de Decretos-Lei à última hora, para dar a ideia de que trabalharam muito durante a legislatura. Esta atitude não dignifica os partidos, nem a AR, nem a própria democracia. Depois à que pensar na criação duma Nova República, que traga uma nova esperança e uma nova atitude, para bem da democracia. E não esta irresponsabilidade "arrapazada" a que vamos assistindo. O jornalista Luís Delgado diz que se entrou numa "histeria colectiva para a entrada do FMI". Aqui está uma afirmação curiosa, vinda dum homem conotado com a direita e, sobretudo, com o PSD. Ele que foi sempre tão caústico com o governo, agora parece que compreendeu que a entrada do FMI não é o melhor - basta ver o que está a acontecer na Grécia e na Irlanda com a receita aplicada - face à pressão que o PSD está a fazer para que ele venha. Parece que é importante para este partido que ele venha. O mais grave é que, se calhar, essa é a verdade. A dita "agenda oculta" existe e cada vez é mais claro, para todos, que a vinda do FMI até ajuda. O que estamos a assistir é a uma gobalização selvagem em que vale tudo e as populações, essas não contam. Por curiosidade, deixamo-vos aqui um link que pode dar uma resposta interessante quanto preocupante. O link é o seguinte http://www.youtube.com/watch?v=QiY8QB1fNAY&feature=player_embedded é só clicar e ver, e já agora... pensar. (Já agora, analisem as declarações do homem forte do BPI - Fernando Ulrich - sobre o FMI. As que fez à duas semanas, e aquelas que proferiu a semana passada). Julgamos aí descobrir aquilo que está a acontecer e que, sistematicamente, tem sido ocultado aos portugueses, bem como, às populações dos outros países que estão a passar por uma situação semelhante à nossa. À que reflectir, à que pensar. O inevitável pode não o ser, desde que tenhamos consciência daquilo que nos rodeia.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home