Equivocos da democracia portuguesa - 83
A semana que findou, como a que agora começa, promentem ser muito activas e quentes, dignas duma pré-campanha eleitoral que, de facto, já começou. Campanha essa para a qual Portugal está a ser empurrado, depois do principal partido da oposição, coligado inclusivé com a extrema esquerda parlamentar(!) - estranha coligação - ter chumbado o PEC 4 que será inevitável num futuro governo, seja lá ele qual for. Por ironia do destino, até pode ser que o PSD tenha que vir a aplicar este PEC num futuro próximo, só que mais agravado, porque durantes estes dois próximos meses, a situação vai agravar-se porque os políticos estão mais interessados numa campanha eleitoral do que no interesse do país. E até já começaram as confusões dentro do PSD. Enquanto Passos Coelho admitia o aumento do IVA em dois pontos percentuais, bem como o aumento do imposto sobre os combustíveis, Miguel Relvas, por seu turno, afirmava que não haveriam aumento de impostos. Curiosamente, foi Passos Coelho que, em entrevista à SIC, se viu obrigado a recuar, o que mostra bem o espaço de manobra que ele tem dentro do seu próprio partido. Depois do "puchão de orelhas" em Bruxelas protagonizado pela sua correligionária política Angela Merkel, e do elogio desta a Sócrates - o mesmo se diga de Sarkozy - Passos Coelho não teve uma auspiciosa entrada nos areópagos europeus. Quase ignorado pelos seus pares, que não lhe perdoam o ter colocado a UE e a zona euro em causa devido a minudências políticas que em nada beneficiam a Europa, Portugal e, muito menos, os portugueses. Bem andou uma figura próxima do PSD e ex-ministro das finanças Miguel Cadilhe que pôs o dedo na ferida quando afirmou: "Uma ajuda externa não é uma ajuda é um resgate e o resgatado é Portugal". E concluiu: "Como diz o povo entendam-se, entendam-se, que diabo, entendam-se". Aqui fica o recado dum sénior da nossa política insigne professor de Economia e gestor público, figura grada do PSD a este "grupo de rapazolas" candidatos a "estadistas". Achamos que esta gente ainda não percebeu o que isto significa, a menos que, o FMI, com quem até estão interessados em governar (!), seja a entidade que, cabotinamente, permita ao PSD aplicar a sua agenda ultra-liberal, escudando-se atrás do FMI. Agenda oculta que, por incrível que pareça, ainda ninguém conhece, nem sabemos se o próprio PSD tem alguma ideia do que quer fazer. Para já, a única coisa que se vai ouvindo são medidas avulsas como a "privatização parcial da CGD" e pouco mais, desarticulado dum todo que faz com que ninguém perceba o que de facto vem por aí. Mas o certo, é que o famoso PEC4 que levou a esta crise terá que ser aplicado - o aviso já foi dado a Passos Coelho pela UE - com medidas que serão até mais gravosas dado o impasse em que Portugal se encontra e que continuará pelos próximos dois meses, até à realização de eleições. O receio do PSD de conquistar votos entrou na fase do vale tudo. Na sexta-feira passada, o PSD - mais uma vez com a estranha coligação parlamentar - votou o fim da avaliação dos professores. Medida irresponsável que, ironia das ironias, tinha contado com o apoio deste partido junto com o PS na sua aprovação e aplicação. Este golpe de rins é uma desavergonhada "caça ao voto" sem se preocupar com o bem-estar das escolas e da educação. Esta é uma medida que leva ao inevitável, a entrada dos sindicatos nas escolas e o controlo das mesmas por estes. É estranho que o actual modelo de avaliação que terminava em Dezembro próximo, viesse a ser interrompido agora. Nunca tal se faz a meio do ano lectivo. A única justificação é a "compra" de votos a qualquer preço, não importando o ensino para nada, porque a ambição política de "ir ao pote" é bem mais importante para esta gente. A situação foi de tal modo embaraçosa para o próprio PSD, que levou a inúmeras declarações de voto, desde logo, de Pacheco Pereira que afirmou: "O fim da avaliação dos professores é demagógico e populista, é entregar as escolas aos sindicatos". Por sua vez, Maria José Nogueira Pinto, deputada independente pelo PSD, viria a afirmar: "A suspensão da avaliação é algo que não deveria ter sido feito". Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, mostrou também o seu desagrado não só por isto, mas também, pela não aprovação do PEC. Disse: "O PEC deveria ter sido aprovado, até porque se o PSD vier a ser poder vai ter que o aplicar". E vira ainda a afirmar que "o voto na AR foi contra Sócrates". Estranho sentido de responsabilidade, não se importando de mergulhar Portugal numa crise ainda maior do que aquela por que está a passar!!! Na entrevista que Passos Coelho deu à SIC, viu-se que existe um vazio de conteúdo, a única coisa que ficou, como disseram os comentadores políticos que fizeram a análise do debate, foi que tudo ficou adiado. "Em breve, teremos o projecto pronto para apresentar aos portugueses" disse Passos Coelho, o certo é que já o disse por várias vezes, e até agora, ainda não se viu nada. Como em tempos afirmamos, tivemos muitas esperanças em Passos Coelho, visto ser um líder jovem, que achavamos capaz de rupturas. Hoje pensamos que é mais do mesmo, talvez não por vontade própria, mas porque dentro do seu partido, há quem não o deixe sair de determinadas baias. E isso é preocupante. A sondagem ontem efectuada para a TVI/Inercampus, dá a vitória ao PSD, mas sem maioria absoluta, o que significa que, caso se venha a confirmar, é mais do mesmo. O que leva a que seja necessário haver entendimentos entre as diferentes forças políticas. (Passos Coelho até o admitiu mesmo que tivesse maioria absoluta!). Mas não é com afirmações como as que Miguel Macedo fez sexta-feira em Viseu que isso se conseguirá. Avisinham-se tempos difíceis para os portugueses, mesmo para aqueles que se queriam ver livres de Sócrates. Porque se calhar Sócrates não era o problema, o verdadeiro problema é aquilo por que vamos ter que passar, seja lá quem for o futuro primeiro-ministro. E não será só por dois ou três anos, desenganem-se os que assim pensam, será mais um trabalho duma geração, que terá que implicar novas formas de trabalhar, novas formas de pensar, novas formas de estar neste mundo globalizado.
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