Turma Formadores Certform 66

Friday, March 25, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 82


A triste saga de Portugal lá vai continuando. Ontem a agência Fitch desceu em dois níveis o "rating" da República, estando à beira de ser considerado "lixo". O argumento para isto foi simples. "O que hoje está mal, amanhã estará pior" a isto chama-se a Lei de Murphy. O governo demissionário, apesar de tudo, parece que dava garantias que o futuro não posiciona no horizonte. Merkel já ontem o tinha afirmado (vidé a nossa crónica de ontem) duma maneira veemente: "Seja quem for governo em Portugal tem que seguir estas políticas". Passos Coelho lá foi também ao beija-mão de Merkel - que ele criticou a outros - para ouvir um "raspanente" e uma advertência, ou seguimos o que está definido para Portugal, ou nada de bom virá por aí. É bom que reflictamos sobre tudo isto. Depois deste "golpe palaciano", segundo as palavras da constituicionalista Isabel Moreira, parece que quem para ele contribuiu obteve uma vitória de "pirro". Talvez isto não afecte os partidos e as máquinas partidárias e seus dirigentes, mas afecta a maioria do povo português que, diariamente, luta para sobreviver. Mas isso não conta para os políticos, e quando eles são irresponsáveis, ainda conta menos. Santana Lopes já veio dizer que "não acha que o seu PPD/PSD tivesse andado bem em tudo isto" e até o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, ontem numa conferência, afirmou que "não achava bem que o PSD não tivesse aprovado o PEC". Nem sempre estamos de acordo com as afirmações de Marcelo Rebelo de Sousa, mas pensamos que ele tem razão, porque está a por acima dos interesses partidários o interesse nacional. O PEC era importante para a credibilidade de Portugal na UE, situação que hoje é, de veras, preocupante. Jean-Claude Junker, o presidente do Eurogrupo, já veio afirmar que aquilo que estava acordado com Portugal terá que ser cumprido, sabesse que isso foi dito a Passos Coelho, que se deve estar a sentir muito desconfortável no papel que está a desempenhar, por vontade própria ou por vontade de outros. As sondagens divulgadas pela SIC e pelo JN, sobre a justeza da crise política, são bem evidentes daquilo que os portugueses pensam. Podíamos não estar bem, mas seguramente, agora estámos bem pior e, ainda por cima, sem a perspectiva de que haja uma evolução positiva no futuro mais imediato. O PSD sabe que o país está a seguir com atenção o desenrolar da situação, e como pretende ganhar as eleições, e para isso, tem que ampliar a sua base de apoio, depois de ontem se ter falado de aumento de impostos, achou que deveria compensar esta situação para não perder eleitorado. Vai daí, recorreu à mais fácil arma de arremesso, que são os professores. Hoje vai ser discutido na AR uma proposta do PSD para acabar com a avaliação dos professores. Pode dar votos - e com certeza dará - mas os professores não podem esquecer que a sua avaliação foi uma proposta do governo apoiada pelo PS e pelo... PSD!!! A que se deve tanta bondade? Que interesses são esses que fazem rasgar acordos que antes subscreveram? (Embora isso seja habitual no PSD, veja-se o que se passou com o chamado "pacto para a justiça"). E é bom lembrar que a avaliação dos professores foi acordada com muitas das suas estruturas, excepto as que são afectas ao PCP. Estranha coligação de interesses. Será que julgam que os portugueses não estão a ver tudo isto? Será que pensam que somos assim tão estúpidos? E meus amigos a "procissão ainda vai no adro". Seria bom que lessem o recente livro de Passos Coelho - "Mudar" - para se começar a ver as diferenças, e este ainda não foi eleito PM. Só a título de rodapé gostavamos de dizer que muito se tem falado sobre um entendimento político de base alargada, e há até, quem tenha citado o nome dos partidos que gostavam que dela fizessem parte. Pois ontem na SIC Notícias assistimos a um frente-a-frente entre Francisco Assis e Aguiar-Branco. A maneira como este último se colocou no debate foi bem elucidativo daquilo que nos espera. Numa postura arrogante de quem é vencedor (de quê, perguntamos), Aguiar-Branco levou o debate para uma picardia de quem já se sentia PM. Para já, o PSD ainda tem que ganhar as eleições, depois o candidato a PM não é Aguiar-Branco, a menos que este esteja a preparar as habituais rasteiras que são frequentes dentro do PSD. Debates deste poderam contribuir para tudo, mas jamais para criar pontes de entendimento futuras, como bem disse Francisco Assis, que sempre teve, mesmo na AR, uma postura muito dialogante e aberta. Quanto a nós a nossa posição é clara e já por diversas vezes defendida neste espaço. Defendemos um governo acima dos partidos, um governo tecnocrático para endireitar o país, o que daria tempo para a refundação da democracia numa 3ª República limpa destes factores de perturbação. Sabemos que isso não colhe junto das forças políticas, não porque já não tenham pensado nisso, mas sobretudo, porque os afecta directamente. É o grito da auto-proclamada "classe política". Porque aos portugueses, o que mais importa é ver a sua vida melhorada, colocando-se á margem desta "guerra de rapazolas" (António Barreto dixit), que só nos vieram colocar numa situação ainda pior e, agora, e cada vez menos, sem esperança no futuro próximo.

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