Turma Formadores Certform 66

Sunday, March 20, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 79


E a crise aí está! A maneira como as coisas se precipitaram em apenas alguns dias, é que é um mistério. Como dissemos na crónica anterior, ou as situação ia evoluir para uma crise, ou Sócrates tinha alguma na manga. E essa dúvida, quanto a nós, permanece. Não compreendemos o que se passou com a apresentação do PEC 4 - ou como diz o governo - apenas as suas linhas orientadoras. Como é do conhecimento geral, isto até nem é novidade. Em 2004, com o governo Durão Barroso, a maneira como ele foi apresentado em Bruxelas, foi em tudo idêntico, à maneira como este o foi, e a única coisa que aconteceu, foi este ter que o discutir na AR, - por iniciativa do PS que apresentou um projecto de resolução -, sem que para isso houvesse lugar a tanto burburinho. (Como é do conhecimento geral, todos os países da zona euro têm que apresentar um PEC anualmente, em meados de Abril de cada ano). Mas mais surpreendente ainda, é a maneira como Passos Coelho inverteu a sua ideia sobre a possibilidade de contribuir para uma crise política. À dias, Passos Coelho afirmou que estava disponível para discutir todos os ajustes necessários à política económica para os anos de 2012 e 2013. Agora, diz que nem sequer está disponível para analisar aquilo que foi proposto pelo governo. Inclusivé, dispôs duma moção de censura do BE, à apenas alguns dias, e absteve-se, quando podia ter votado contra e fazer cair o governo. Que se passou de facto em tudo isto? É sabido que as tensões dentro do PSD são constantes e até recorrentes, - embora nos outros partidos o mesmo se verifique, contudo, é no PSD que tal assume maior visibilidade -, o que leva a que Passos Coelho, parece que quis evitar uma crise interna no seu partido, e para isso, não se importou de criar uma crise no país. Aliás, utilizando as palavras do próprio, parece estar na altura de "ir ao pote". Como já por vezes aqui afirmamos, a mudança de governo ou de partido, em nada vai contribuir para a alteração da política. Com isso, damos um sinal de instabilidade para a Europa, não só para os mercados, mas também, começa a surgir a interrogação de que seremos ou não capazes de continuar na zona euro. A maneira como tudo isto surge, depois dos elogios em Bruxelas sobre os planos apresentados - até Durão Barroso não escapou a fazê-lo. Como será que a UE olhará, daqui para a frente, para nós. Esta irresponsabilidade vai custar muito caro ao país, não só os custos de elaborar novas eleições, mas aqueles outros que daí derivam, porque a alternativa às políticas seguidas não existem. E quem o disser, ou está a mentir, ou de economia sabe muito pouco. O discurso será diferente, as pessoas também, mas tudo o resto será igual. Com a agravante de que, esta instabilidade está a criar condições para a entrada de entidades externas que imporão condições ainda mais gravosas. É notável que pessoas importantes do PSD venham defendendo a entrada do FMI desde à muito. É caso para dizer, que ganham eles com isso, e que ganhamos nós? (Será que pretendem, como alguns dizem, aplicar o seu programa liberal a coberto do FMI?) A situação até chega a ser caricata. À dias na AR, num debate entre Teixeira dos Santos e o deputado do PSD, Miguel Frasquilho, o ministro levou a que o deputado afirmasse que quando forem governo não serão necessárias mais medidas. É incrível como este deputado - que até é professor de Economia -, pode fazer tal afirmação. É certo que depois de se ver encurralado, lá foi dizendo que não era bem assim. Estas são as confusões da nossa democracia, que poderão vir a criar uma forte instabilidade nos dias mais próximos. Como disse um notável social-democrata, "é preciso passar uma rasteira ao governo, para o fazer cair". Parece que foi isso que aconteceu. E quem se preocupa com o país que somos nós todos? Como afirmou Karl Marx: "O fim dos regimes normalmente assume a forma de comédia". Parece ser este o caso, embora se vislumbre, para além da comédia, a tragédia. Os confrontos entre o PS e o PSD em nada vão ajudar. Mas, como este circo em que a política se transformou, parece que há sempre algo mais a acontecer. Ontem uma vice-presidente do PSD, Paula Teixeira da Cruz, veio afirmar que Sócrates teria faltado à verdade sobre o ter apresentado este PEC primeiro em Bruxelas e só de pois em Portugal. Horas depois, Sócrates no Porto, mostrou o e-mail que envio a Durão Barroso, em que se provava que afinal a afirmação da "laranjinha" era falsa. Mas apesar disto, o gabinete de Durão Barroso, veio afirmar que Sócrates tinha dito a verdade e, afinal, quem mentiu foi a vice-presidente do PSD!!! (É interessante verificar como Bruxelas vai acompanhando o triste espectáculo que se está a dar dentro das nossas fronteiras!). Acresce ainda que, para os que não se lembram, Durão Barroso também pertence ao PSD!!! Desde à muito que a Comissão Europeia, na pessoa do seu presidente, bem como outras figuras destacadas da UE, têm feito sentir alguma admiração por Sócrates, (a maneira como ele tem lutado para evitar a entrada de entidades externas a isso não é alheia), por isso, eles têm algumas dificuldades em entender o que está a acontecer em Portugal. Dizia-nos um euro-deputado à dias que, em Bruxelas, muitos pensam que estamos todos loucos, em criar uma crise política desnecessária num momento tão difícil para o nosso país. Mas, a ânsia de poder por parte do PSD, parece que se sobrepõe a tudo o mais. E nos portugueses ninguém pensa, utilizando-os apenas como arma de arremesso político, quando dá jeito para justificar as suas posições. Mas algo de surpreendente aconteceu no congresso do CDS/PP que está a decorrer, neste fim-de-semana em Viseu. Algumas das figuras importantes deste partido, vieram a terreiro afirmar que, caso se avance para eleições, o melhor seria um governo de base alargada com CDS/PP, PSD e... PS! Até ouve quem defendesse que este partido deveria votar favoravelmente o PEC apresentado, como foi o caso de Nobre Guedes (!). (A ideia que se criou da forma como o PEC foi apresentado já não colhe, o formalismo por muitos defendido, não passa dum pretexto). Afinal, se o PS é o causador de tão difícil situação, porque o querem agora no governo? Porque se estão a criar condições para que isso seja equacionado? E o PR que tem a dizer de tudo isto? Ele que criou estas condições com o seu tristemente famoso discurso de posse, abrindo caminho para levar o seu partido - PSD - para o poder, como olha para esta situação? Ainda não lhe ouvimos nenhuma palavra sobre este tema. O homem dos "tabús" criou mais um, mas o seu silêncio cúmplice, pode ter uma leitura bem mais complexa. Pode levar a que os portugueses comecem a olhar para o actual PR, não como o PR de Portugal, mas como o PR de uma facção. E isso, seria ainda mais grave. Esta semana que começa, será decisiva para sabermos se estamos confrontados com outra crise - agora política - ou se, finalmente, o bom-senso vai prevalecer.

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