Equivocos da democracia portuguesa -76
Os factos mais recambolescos continuam a assolar a nossa democracia, mesmo vindo de sectores não políticos da sociedade. À quinze dias tivemos um destes casos, protagonizado pelo Prof. Medina Carreira na SIC Notícias. Este ex-ministro das finanças, veio-se tornando numa figura quezilenta, até um pouco grosseira, que o seu saber e o seu "curriculum" não faziam antever. Mas esta pseudo-frontalidade (leia-se, má educação) era objecto de gaúdio do jornalista Mário Crespo - figura destacada da SIC Notícias - quanto mais não fosse, porque Medina Carreira alarvava os mais palavrosos comentários sobre o actual governo. (Longe vão os tempo em que pensava de maneira diferente, quando foi ministro das finanças dum governo... socialista (!), então liderado por Mário Soares - I governo constitucional - 1976/1978). Mas enfim, as pessoas mudam, e mudam sobretudo quando não vêm satisfeitas as suas ambições, que ainda acalentavam, de voltar ao poder. O certo é que Medina Carreira era figura muito convidada do Jornal da Noite e do jornalista Mário Crespo, ao ponto de este criar um programa, de seu nome "Plano Inclinado", onde Medina Carreira tinha lugar cativo. Mas não há bela sem senão, e à dias este - sempre quezilento e achando-se detentor da verdade -, se envolveu numa acesa discussão com o próprio jornalista Mário Crespo (Isto a acreditar naquilo que se diz no "bàs-fond"). Final da história, o assunto foi tão grave que, Medina Carreira achou que não devia continuar no programa e este, foi simplesmente cancelado pela direcção da estação, sob a capa de uma reestruturação do dito programa. Como se vê, as coisas entre nós estão difíceis e vem-se gerando uma histeria colectiva que se começa a instalar perigosamente na nossa sociedade. Pensamos que faltam movimentos de cidadania, a mesma que foi encabeçada por Fernando Nobre nas últimas eleições presidenciais, que é normal nas democracias evoluídas como por exemplo nos países nórdicos e que por cá ainda não fez o seu caminho. Parece que, no subconsciente colectivo, ainda existem reminiscências dos tempos da ditadura que faz com que ainda tenhamos algum receio de mostrar as nossas ideias em público. Mas as dificuldades parece não pararem por aqui. Ao nível político, agora é o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, que já veio dizer que na próxima reunião do banco é provável que as taxas de juro voltam a subir. Isso significa que vão subir mesmo (fala-se em um quarto de ponto percentual). E as dificuldades vão-se agravar para os particulares, sobretudo aqueles que têm crédito, nomeadamente à habitação, (subirá em média 48 euros, segundo aquilo que se conhece, para já, das intenções do BCE); e, para o país, que perde o guarda-chuva de que até agora disfrutou. O efeito da reunião de Sócrates com Merkel, acabou assim, por ser anulado com este anúncio de Trichet. Mas este tem como missão contrariar as tendências inflaccionistas dentro da zona euro, e no limite, defender o próprio euro. E as tendências inflaccionistas estão a aparecer de novo, - Portugal não é excepção -, e quanto ao euro, todos sabemos os ataques que têm surgido nos últimos tempo e que têm sido veículados pelos especuladores sobre os países periféricos, como está a acontecer com Portugal. Não são boas notícias para nós. Como disse Jorge Sampaio, numa conferência que se realizou na quinta-feira passada, sobre o tema "Portugal e a UE": "Portugal está em apuros". Coisa que já todos nós tinhamos percebido. Nessa conferência estava também Rui Rio que afirmou que "não basta mudar de governo ou de partido, é necessário mudar de política". Afirmação inteligente que já vimos defendendo neste espaço à já algum tempo. (Embora, diga-se em abono da verdade que, o PSD não tem projecto para enfrentar as dificuldades por que hoje passamos). Se alguma coisa esta crise veio por a nú, foi a noção de que, a nível nacional, a baixa produtividade é o nosso "calcanhar de Aquiles", o que leva à desconfiança dos mercados sobre Portugal, sobretudo, a sua incapacidade para crescer fruto, essencialmente, da falta de produtividade crónica no nosso país. Já agora, convém pensar nos resultados da última sondagem conhecida, que dá um empate técnico entre esquerda e direita. Isto vem de certo modo ainda ampliar o problema.
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