Conversas comigo mesmo - IX
A Quaresma é um itenerário que visa a purificação da Fé e a renovação da nossa vida cristã. É um caminho feito de momentos distintos, mas inseparáveis e complementares, muito bem assinalados nos Evangelhos. 1. Subir o monte para orar... Precisamos de buscar as condições favoráveis à oração, de modo que ela se torne no que deve ser, uma experiência profunda da presença de Deus na nossa vida, uma contemplação gozosa da sua Luz e do seu Amor; 2. Escutar a palavra de Deus... Para nós, cristãos, a palavra viva e definitiva de Deus é uma pessoa: Jesus Cristo. Ele é, por isso, a nossa referência fundamental. -Escutá-Lo significa querer e procurar conhecer mais profundamente, quem Ele é, o que nos diz e ensina, o que nos pede e espera de nós. Escutá-Lo significa, acima de tudo, querer segui-Lo; 3. Voltar ao chão da vida e actuar... Não se pode ficar no "monte", como pretendia Pedro. A Fé em Jesus Cristo não nos separa do mundo nem nos deixa nas nuvens. Devolve-nos ao chão da vida, às pessoas e às situações concretas do dia a dia. Com a responsabilidade de sermos aí sinais da sua presença e atenção, e testemunhas da sua Luz e do seu Amor solidário. Desde os primeiros séculos que se proporcionavam aos catecúmenos - candidatos ao baptismo - uma catequese fundamental sobre o significado do baptismo e a sua vivência. A nível bíblico existem três narrações que contêm toda a experiência da Fé e da vivência baptismal, a saber: a experiência de uma libertação, na narração do encontro de Jesus com a samaritana junto à fonte de Jacob; a experiência de uma iluminação, no encontro de Jesus com o cego de nascença, junto à piscina de siloé e a sua cura; e, a experiência de uma vida nova, no encontro de Jesus com Lázaro morto, em Betânia, e a sua ressureição. O que estas narrações têm em comum, é que essa fonte, essa luz, essa vida é o Espírito agindo naqueles que O acolhem com fé. Espírito que é "dom de Deus" mais uma vez à nossa espera. Nesta caminhada através da Quaresma em direcção à Páscoa - festa maior do Cristianismo - temos que reflectir num dos conceitos mais importantes o baptismo. O cego de nascença em destaque no Evangelho, mais do que uma figura histórica, é uma figura simbólica representante da Humanidade e de cada um de nós. É também ilustração do significado profundo do baptismo. O banho que lhe abre os olhos e o faz ver é a imagem do baptismo pelo qual Jesus Cristo se torna Luz nas nossas vidas. De facto, para os primeiros cristãos, Baptismo e Iluminação eram palavras com o mesmo significado. O baptismo cristão, sacramento de Fé, é iluminação da pessoa toda, espírito e coração, sentimentos e conduta. Por isso, o iluminado por Cristo, isto é, o cristão, tem de caminhar na vida como Filho da Luz, como alguém que tenta sempre conduzir-se de acordo com os critérios e as inspirações que lhe vêm da vida e da palavra de Jesus. E "o fruto da luz", diz-nos S. Paulo, "é a bondade, é a justiça e a verdade". Eis um critério simples, claro e sempre válido para vermos até que ponto a luz de Cristo está presente e actuante na nossa vida. Se o cristão vive, de facto, em comunhão com Cristo, é normal que se identifique com Ele, com o seu pensar, o seu sentir, o seu actuar e o seu reagir, e se esforce por ser em tudo e para com todos verdadeiro, justo e bondoso. Coisa, aliás, que é cada vez mais difícil de ver em nós e/ou nos nossos semelhantes, mesmo naqueles que se sentem mais próximos da "praxis" cristã. A Quaresma convida-nos, mais uma vez, a contemplar serena e profundamente Jesus Cristo, esse Homem só, e a olhar, depois, a nossa própria vida para vermos até que ponto nos identificamos com Ele. Esta reflexão dedico-a a minha mãe que prefaz hoje dez anos que morreu. Que esteja em paz.
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