Equivocos da democracia portuguesa - 86
Finalmente aconteceu o inevitável que já à muito se esperava. Portugal viu-se obrigado a pedir ajuda à UE através do FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira). A tal conduziu a leviandade e a irresponsabilidade da oposição, sobretudo, do PSD, partido com grandes responsabilidades neste processo. Esta situação não aconteceu agora, como muitos o pretendem fazer crer, este processo de endividamento começou à já muito tempo, - diríamos que à quase duas décadas -, onde o PSD também tem responsabilidades. Mas a ânsia de "ir ao pote" foi maior do que a responsabilidade para com um país muitisecular. Estes "rapazolas" com vontade de serem estadistas(!) são a nossa vergonha, são os vendilhões, os traidores que venderam a sua própria pátria. A irresponsabilidade é tamanha. Ainda hoje no Expresso on-line, Duarte Pacheco faz comentários despropositados sobre a situação. Ainda não percebeu que após as eleições, - ganhe quem ganhar -, há a necessidade de se criarem condições para uma base alargada de consenso em torno do governo que se vier a formar, e que declarações irresponsáveis como ele fez, não ajudam em nada a criar essas mesmas condições. Outro dirigente laranja - Miguel Macedo - dizia hoje que afinal o governo teve que pedir ajuda. Como se isto fosse um jogo de futebol, como fosse uma brincadeira de "playsation", ele - e o seu partido - que tanto defenderam a entrada do FMI, até afirmaram que estariam disponíveis para governar com ele. Uma vergonha sem dúvida. Apesar disto, cumpre aqui deixar ficar uma palavra para José Sócrates. Todos sabemos que não gera consensos a nível do tecido nacional, embora uma boa parte dessa imagem tivesse sido feita, dia após dia, pela oposição que viram nele um líder forte e determinado, a quem era difícil fazer frente. Um dirigente do BE - Fernando Rosas - dizia à dias que "Sócrates era um político duro". Esta foi a principal razão da situação que lhe criaram. Nunca um político, em Portugal, depois de 1974, foi tão atacado, caluniado, ofendido como Sócrates. Mas ele resistiu e, ao que parece, ainda vão ter que "levar com ele" nos próximos tempos. Tivemos muitas divergências com José Sócrates, e disso é testemunho muito do que, ao longo de muito tempo, fomos escrevendo neste espaço, mas também sabemos que nesta hora difícil que Portugal atravessa, ele foi dos que mais lutaram para evitar o inevitável, que era o de pedir ajuda externa. Todos sabemos, que após a crise criada pela oposição, as coisas se tornaram muito mais difíceis, mas mesmo assim, parecia que se iria resisitir, pelo menos por mais algum tempo. Mas a atitude dos principais banqueiros deste desgraçado país, deram o golpe final, anteontem, com a retirada da ajuda ao governo português. Estes também são verdadeiros traidores, porque enquanto aumentam os seus lucros à nossa custa, foram criando as condições para esta situação. Será bom verificar as declarações de Fernando Ulrich - líder do BPI - que foram feitas a semana passada e aquelas que o próprio fez dois dias depois. O FMI era mau de mais para vir para Portugal, depois passou a ser a melhor solução para o nosso país. Estes "colarinhos brancos" de tão despudurada vergonha, - nem percebemos porque ainda têm à-vontade para aparecer na televisão a falar para milhões de espectadores, muitos dos quais, sofrem diariamente na pele, a estorção desavergonhada propiciada por estas criaturas insígnes. A banca que foi a causadora de muito do que aconteceu no mundo - e também em Portugal - aparece agora como o seu carrasco. Triste ironia, digna das "farpas" dum Ramalho Ortigão, ou da acutilância dum Eça de Queiróz. O mais incompreensível é que estes banqueiros compravam dívida ao seu país a 3% e a 4% e iam vendê-la ao BCE a 1%. Até aqui se vê o saque que fizeram a Portugal. Esta atitude só é compreensível face ao próximos "stress tests" a que vão ter que se sujeitar em Junho. (Mas se essa foi a razão principal, é caso para ficarmos preocupados com a tão falada saúde financeira destas instituições). Mas mais perplexos ficamos quando sabemos que esta situação foi criada pela não aprovação do PEC4, por ser demasiado gravoso, dizia o PSD - o mesmo partido que no WST dizia que o chumbou porque as medidas eram insuficientes - e agora, dão o seu acordo a uma ajuda externa que será muito mais penalizadora para todos nós, fazendo parecer o PEC4 um bálsamo face aquilo porque temos que passar. A encenação já tinha sido montade à muito, basta ver as declarações de hoje do chefe do FMI, Dominique Strauss-Kahn, com o habitual "afiar do dente" que estas instituições tão bem sabem por em prática. O PM, à horas atrás, não esclareceu que tipo de ajuda se irá pedir. Ontem, falava-se dum empréstimo intercalar - aquilo que tecnicamente se chama de "bridge loan" - embora Durão Barroso disse-se que desconhecia tal figura no seio da UE. Contudo, dado que o governo é "de gestão", será pouco crível que se faça um pedido de ajuda mais abrangente, que vincularia o novo governo. Esperemos para ver que tipo de ajuda será requerida, mas seja ela qual for, será sempre penalizadora para Portugal e os portugueses. Apesar de não diabolizarmos o FMI - como temos visto por aí - também sabemos quais são as suas receitas, - já cá os tivemos por duas vezes (1977 e 1983) -, mas sobretudo, porque vemos aquilo que está a ser aplicado à Grécia e à Irlanda e, o que é mais grave, aos fracos resultados que daí têm advindo. Esses "rapazolas", na sua ânsia de serem poder, não olharam para isto com muita atenção - ou então pouco lhes importa, afinal, quem vai pagar isto tudo somos nós e não eles - mas talvez se enganem. Talvez venham a herdar - caso ganhem as eleições - uma cadeira cheia de pionés que os faça lembrar que, num período da nossa já longa História, eles traíram, traíram Portugal, traíram todos nós. Esperemos que os portugueses - que vão ser as principais vítimas desta irresponsabilidade - saibam dar a resposta adequada nas eleições que se aproximam.
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