Turma Formadores Certform 66

Tuesday, April 12, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 87


A situação que Portugal enfrenta, prende-se não só com a crise económica mas também com a crise política que entretanto surgiu. Depois da demissão do governo, assistimos a uma especulação desenfreada sobre Portugal das empresas de "rating". Não deixa de ser estranho que com as exportações a aumentar e a despesa a diminuir as empresas de "rating" continuassem a cortar a notação a Portugal. Já aqui tinhamos dito, que essas empresas representavam interesses outros - inclusivé de compradores da nossa dívida - para atacar um país, logo a UE e o euro, objectivo final. (Ver comentários anteriores sobre esta matéria neste espaço). Nessa altura, ninguém aceitava esta ideia. O PR dizia que "não se deviam criticar estas empresas, que era mau para o país", embora agora tenha mudado de opinião, e ache que afinal, as coisas foram longe de mais e até duma forma incorrecta. Mais uma vez, Cavaco chega tarde, o que é de admirar, vindo dum economista considerado como ele. Agora que, alguns economistas apresentaram uma queixa na Procuradoria-Geral da República contra estas empresas, parece que finalmente muitos acordaram para o problema que, já à muito tempo, tinhamos denunciado neste espaço. Apesar de tudo isto, o circo político continua. A torrente de informação e contra-informação que nos tem atingido nos últimos dias tem sido avassaladora. Agora, temos o PSD a querer que o governo apenas negoceie algumas coisas, deixando espaço para uma outra negociação após eleições. Como é possível que um partido com as responsabilidades do PSD ainda não tenha percebido que agora tudo será feito como a UE quiser e não como o PSD quer? Até Cavaco, na cimeira da Hungria que se realizou a semana passada, foi tentando dar "recados" à Europa. Primeiro, dizendo que não podia mediar os acordos com os partidos, porque não tinha sequer "staff" para isso!!! (Como é possível esta afirmação, quando Ramalho Eanes - com um "staff" bem menor - mediou governos de iniciativa presidencial?) Afinal a "magistratura activa" de que Cavaco falava, o que é? É fazer discursos inflamados para criar condições para levar os seus acólitos para o poder? Mas as coisas não ficam por aqui. Cavaco quis ser sibilino quando pediu "mais imaginação à Europa face à questão portuguesa". O presidente da comissão de economia e finanças da UE, Olli Rehn, não tardou em responder. "Já estamos a ser muito imaginativos para com Portugal". E acrescentou, "espero não continuar a ter que dialogar na praça pública com as autoridades portuguesas que muito estimo". Recado duro, quase humilhante, a que o PR português se expôs. Cavaco ainda não percebeu que lá fora ninguém olha para ele como o homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". Olham para ele como o presidente dum país que está a pedir ajuda e que está a braços com uma crise política que ele próprio potenciou. Enfim, estamos bem servidos... Mas os equívocos continuam. Parece surreal que um país com estas dificuldades se dê ao luxo de jogar "ping-pong" com esta situação. A UE acha que todos os partidos - sobretudo, os do arco governamental - devem subscrever o acordo para esta ajuda, bem como, a participação e envolvimento do PR. Este diz que não faz nada, porque não é nada com ele(!), o PSD acha que se deve negociar, mas só um bocadinho, porque depois eles é que vão negociar(!), o PS acha que deveria ser o PR a fazer a mediação, e em tudo isto, a Europa deve olhar para nós como um bando de malucos acantonados no extremo ocidental da mesma Europa. Saga digna do Astérix e do Obélix... Contudo, no discurso de encerramento do XVII congresso do PS, no domingo passado, José Sócrates anunciou que ele e o governo liderarão as negociações, - como achamos que devia ser - acrescentando, "que terá por base... o PEC 4". A UE já veio dizer que a base negocial seria o PEC 4, que o BCE, a Comissão Europeia e os nossos parceiros europeu, já tinham considerado "bom e corajoso" a quando da sua apresentação a 11 de Março passado, que gerou tanta polémica interna e que levou à queda do governo. Isto é, como já anteriormente tinhamos escrito neste espaço, a vitória da oposição foi uma "vitória de pirro". Afinal, porque se criou a crise política, para que serviu? Apenas e só pela ânsia do poder, porque quanto ao PEC desenganem-se. Vai ser o PEC 4 mas, desta feita ... agravado! Que responsabilidade têm certos partidos na nossa democracia? Parece que estamos num daqueles enredos típicos de opereta. Afinal, levamos na mesma com o PEC 4 e, ainda por cima, mais agravado. Isto significa o cúmulo da irresponsabilidade. Bem sabemos que a Europa não tem andado bem, sabemos das tendências liberais que a enfermam, mas achamos que os estados membros - nomeadamente os periféricos - não devem ser os joguetes de que a Alemanha dispõe a seu belo prazer. É preciso que a Alemanha perceba que também ela beneficiou do UE. A quando da queda do "muro de Berlim", a Alemanha tinha uma economia deficitária, hoje a posição inverteu-se, não só pelo trabalho dos alemães, mas também por aquilo que beneficiou, como economia com mercado amplo, da própria UE. Talvez muitos não saibam, mas convém esclarecer e reflectir sobre isto. A atitude quase imperialista da Alemanha é absurda e injustificável. Como dizia Mário Coelho "quando se fizer a história desta UE, veremos a tacanhez de princípios que a ela presidiram, bem como, os seus verdadeiros culpados". Sabemos todos que esta não é a Europa que queremos, contudo, esta é a Europa que temos. Hoje chegam os técnicos da Comissão Europeia, do BCE e do FMI a Portugal. (Alguns até já vieram ontem, nomeadamente a "comissão de resgate"). Veremos como vão correr as coisas, mas não nos esqueçamos que os países periféricos - como o nosso - são os "danos colaterais" da guerra à inflação do BCE. E isso, não pode ser escamoteado, salvo o que ninguém compreenderá o que se está a passar, e fragilizará as instituições europeias, que ainda não vieram dizer nada de substancial sobre o assunto, ou talvez não possam. Afinal já conhecemos a receita que estas instituições trazem na bagagem, esta é já a terceira vez que por cá aparecem. A primeira foi negociada por Vítor Constâncio e a segunda por Ernâni Lopes assessorado - imaginem - por Manuela Ferreira Leite. Sabemos que teremos que fazer muitos sacrifícios por um período não inferior a cinco anos - dificilmente será em tempo mais curto - mas que poderiam ter sido evitados se não fosse a irresponsabilidade da oposição. Como já aqui dissemos, se achavam que o governo era mau, deveriam derrubá-lo - é assim em democracia - mas deixar de aprovar o PEC 4 foi uma irresponsabilidade - como estamos agora a confirmar - que nos vai custar a todos muito caro, até Marcelo Rebelo de Sousa o afirmou. O mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que no passado domingo, afirmou que o PSD ainda não apresentou nada, e que Passos Coelho fez bem em deixar cair a privatização, embora parcial, da CGD. "Seria uma tonteria" afirmou. Mas neste emaranhado de equívocos, ainda não tinhamos visto tudo. Agora foi a "contratação" de Fernando Nobre para ser cabeça-de-lista por Lisboa pelo PSD e até candidato a presidente da AR. Que os partidos tentem "contratar" figuras que lhe possam render votos - a exemplo do que acontece no futebol - até é compreensível, agora que figuras "independentes" como Fernando Nobre, depois do discurso que usou ao longo das últimas presidenciais, deixar-se "contratar" é um pouco de mais. Foi o fim da "expressão de cidadania" que ele tão bem incorporou, foi uma pasada de terra atirada àqueles que acreditaram na sua seriedade e propósitos. Curiosamente, já neste espaço, afirmamos que Fernando Nobre tinha um discurso "enrolado" que parecia que se queria resguardar para algo no futuro. E aí está a resposta, embora quando escrevemos isso, estavamos longe de pensar que ele iria aparecer nesta situação. Como dizia Marx, "o poder corrompe", nós acrescentamos que embora ainda não sendo poder, mas na ânsia de lá chegar - agora por outra via - já se deixou corromper. O próprio tem a noção da situação em que se colocou, afirmando que "poderá vir a ser alvo do desprezo de muitos". (Já agora, não deixem de visitar a sua página no Facebook e leiam o que por lá se está a escrever - aliás, já não podem ver porque a página foi entretanto retirada!!!). Vá lá, que ainda tem discernimento para o admitir. Com tudo isto, a política dos actuais partidos é o que é, a cidadania independente afinal é uma fraude, o FMI está à porta e o consenso parece cada vez mais difícil, é neste emaranhado de situações que pensamos que há a necessidade urgente de se refundar o regime, até para o proteger, caso contrário, poderemos vir a ter uma surpresa nos tempos próximos. É nesta linha de raciocínio que, já por diversas vezes termos afirmado, que achamos que os actuais partidos já não representam a maioria das populações, daí o termos sugerido que se criem outros mais próximos dos anseios e angústias das populações, que criariam as condições da refundação duma Nova República, mais responsável e empenhada. Enquanto é tempo.

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