Equivocos da democracia portuguesa - 88
Afinal Sócrates falou pessoalmente com Passos Coelho. (E isto faz toda a diferença face áquilo que nos tinham dito até aqui para criar a crise política). Aquilo que tinha sido dito é que tinha havido apenas um telefonema. Passos Coelho até tinha afirmado que "nunca mais se reuniria com Sócrates, e muito menos, a sós". Pelo que soubemos à dias pela boca do próprio Passos Coelho é que, para além do telefonema, se reuniu com Sócrates em S. Bento e... a sós! Ontem, Pacheco Pereira mostrou na "Quadratura do Círculo" o SMS que receberam todos os deputados do PSD, sobre a negociação do PEC 4 em Bruxelas pelo governo e que não deveriam falar sobre o tema para não prejudicar as negociações!!! Afinal o que mudou? Porque se criou uma crise política? Porquê tanto segredo? Tanto utilizaram o "cliché" de mentiroso para com Sócrates e agora que "cliché" utilizam para com Passos Coelho? Porque se vem instalando tanto secretismo na política portuguesa, que leva a que, uma simples reunião para informar sobre o PEC, tivesse que ser escamoteada aos portugueses? Para onde estamos a caminhar? Ficamos surpreendidos que o homem impoluto - Passos Coelho - tenha alinhado nesta situação, ele que tanto tem falado sobre a transparência na vida política. Porquê tudo isto? - perguntamos. Como já por variadas vezes escrevemos neste espaço, até tinhamos uma boa opinião sobre Passos Coelho que poderia trazer uma lufada de ar fresco à política portuguesa. Contudo, situação após situação, vamos mudando de opinião. Afinal talvez estejamos enganados. É mais um igual a todos os outros. E mesmo dentro do seu próprio partido parece que as coisas não andam lá muito bem. As recusas de nomes de peso do PSD para participarem nas listas de Passos Coelho são sintomáticas que algo de muito errado se passa dentro da sua própria estrutura. Até as desculpas que dão para a não participação, são de tal modo débeis que dão a entender - se calhar é isso que pretendem - que não querem nada com o actual líder do PSD. E é neste cenário que, temos a perfilar-se no horizonte, o possível PM para uma próxima legislatura. Como olharão os estrangeiros - nomeadamente aqueles que estão cá a negociar o apoio a Portugal - para tudo isto? Que garantias sentem num futuro executivo que possa vir a ser liderado por Passos Coelho? E os portugueses, todos nós, como interpretamos tudo isto? A partir de agora a situação exige estabilidade política e determinação na implementação das políticas que nos vão ser impostas, e não tanto esta deriva ao sabor da corrente a que vamos assistindo. À dias, Ricardo Salgado - o homem forte do BES - afirmou em entrevista à RTP1, que não achava bem a privatização, mesmo parcial da CGD. Poderia admitir uma entrada de capital pequena para reequilibrar a CGD na bolsa, mas nada mais do que isso. A impreparação de Passos Coelho é cada vez mais evidente, o que deveria fazer com que se exposesse menos, para não dar a ideia de que está perdido em tudo isto, e que não tem qualquer estratégia para o caso de vir a ser governo. Pensamos que isso seria bom para ele - porque o resguardava -, e também para o país - visto as instâncias que nos vão financiar estarem atentas a tudo isto. Mais recato seria bom para todos, e o país só tinha a ganhar com isso. Agora é o tempo da acção e não tanto das palavras. Finalmente, embora tardiamente, veio alguém confirmar aquilo que todos sabiamos, a pressão das empresas de "rating" sobre Portugal duma forma especulativa e pouco transparente. Quem o veio afirmar publicamente no New York Times foi o sociólogo norte-americano Robert Fishman, que admite - tal como o governo sempre tinha afirmado - que "Portugal não necessitava de ajuda externa". "A culpa não foi dos políticos portugueses mas sim dos mercados especulativos". Admite que se trata duma especulação contra o euro e contra as democracias, e que os países que agora estão na mira são a Espanha, Itália e Bélgica. Estamos convictos de que isto tem o seu fundamento, mas ninguém fez nada antes para evitar esta situação. As empresas de "rating" são monstros descontrolados ao serviços de especuladores que são também os seus accionistas. O que torna este ciclo infernal verdadeiramente inexorável. Pensamos que é preciso uma consciência global sobre o mal que estas empresas estão a fazer à Europa, às democracias, ao euro, aos países. Muito se tem falado na criação duma empresa de notação financeira europeia - que cremos, viria ajudar e muito a combater esta especulação - mas empresas destas não são fáceis de criar, embora a vontade política seja determinante, coisa que ainda não vimos com clareza. Enquanto a Europa não enfrentar o problema de frente, assisitiremos a esta situação, aqui e ali, até ao enfraquecimento da própria UE, e quando isso se der, iremos todos a correr fazer qualquer coisa, só que se corre o risco de já ser tarde de mais. Esta UE liberal, ou se capacita de que deve mudar de estratégia, ou é a própria UE que está em causa. Por cá, só nos resta esperar pelas restrições que por aí vêm, mas as restrições irão, seguramente, levar a uma certa agitação social. A conferência de bispos portugueses já para isso alertou. Poderemos vir a estar - a curto prazo - face a um fenómeno de implusão social devastador que terá consequências inimagináveis para Portugal. O ex-militar de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, já veio a terreiro fazer afirmações polémicas. Será um desabafo sobre a situação que vivemos, ou será algo mais do que isso? Começam a aparecer sinais preocupantes no nosso horizonte político-militar que não podem ser desprezados. Olhemos para eles com clareza antes que seja tarde de mais.
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