Conversas comigo mesmo - XXIV
Nestes tempos difíceis que ocupam este tempo e espaço que vivemos, é bom reflectirmos sobre o que fizemos do mundo e das relações que temos com o que nos rodeia, pessoas, animais, bem como, o próprio planeta envolvente que vamos destruindo cirurgicamente. Nesta barca de tormentas em que vivemos, por vezes, - tal como nos escritos bíblicos - não equilibramos os nossos desejos e anseios com a nossa Fé. Somos, como na parábola, aqueles navegantes que, quando ao largo e logo que assume os primeiros sinais de tempestade, não sabemos o que fazer. Agarramo-nos por vezes, a fetiches que nos parecem tentadores e salvadores, mas no nosso íntimo a dúvida continua a fazer o seu percurso. Lembro-me da passagem em que Cristo caminha sobre as águas e os discípulos incrédulos, só acreditam quando lhe fazem o desafio de poderem ir ter com Ele caminhando também sobre as águas. Mas quando o primeiro sinal de afundamento aparece, a nossa Fé esvaie-se rapidamente. Nestes tempos conturbados estamos na nossa barca sem saber que rumo tomar. Na barca não está a sra. Merkel como alguns dizem, na barca estamos todos nós, vítimas de jogos pouco claros em que os pobres são mais pobres e os ricos acabam sempre por se "safar" nesta roleta russa para que nos arrastaram. É tempo de sairmos para a vida, enfrentando-a com imaginação, sinalizando os escolhos que a barca terá que evitar para não se afogar. Como diz Frei Fernando Ventura - sempre ele - "é tempo de deixarmos a religião e nos tornarmos homens de Fé" e acrescenta "que ninguém se atreva a vir à missa, sem antes ter saído do seu espaço para a vida". Numa altura, prenhe de interrogações onde o futuro é incerto, só a solidariedade com o outro - que por vezes está ao nosso lado e nem o vemos -, na paz para com os animais, no respeito para com a natureza e com o mundo, seremos capazes de levar esta barca a bom porto. "É tempo de trazer para a rua a revolução dos não-violentos antes que os violentas tragam a revolução para a rua", mais uma vez e ainda Frei Fernando Ventura. Mudemos a nossa visão da vida e do mundo, que este espaço e tempo que nos foi dado viver, seja preenchido com um espírito mais solidário e imaginativo. Já o Padre Américo de saudosa memória dizia, entre muitas outras coisas, "que cada paróquia cuide dos seus pobres". Pobres de dinheiro e de bens, mas também, aqueles outros - que embora tendo muito - são, por vezes, os pobres de espírito de que muitas vezes ouvimos falar. Tudo o que possuímos, - dinheiro, posição, bens materiais -, não passam dum empréstimo que a vida nos faz, que logo, legamos aos nossos descendentes ou a terceiros, quando a vida se esgota, quando a Páscoa - aqui entendida no verdadeiro sentido etimológico da palavra - a passagem -, nos diz que é tempo de deixarmos este palco para que outros ocupem o seu lugar, nesta infinita representação da vida. Sei que não é fácil entender isto para muitos, apenas o começamos a percepcionar quando os dias se vão esgotando e a teoria das probabilidades começa a ser-nos desfavorável. Talvez nessa altura, já seja um pouco tarde, embora, como diz o povo, "mais vale tarde do que nunca".
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