Equivocos da democracia portuguesa - 129
Cá voltamos aos nossos equívocos, mesmo em período de acalmia com o país a banhos, que é quando os governos implementam as medidas mais gravosas para evitar a contestação social. (Veja-se o caso do aumento brutal do IVA - 17% - nas tarifas da electricidade e gás). E já com a promessa de aumentar mais - talvez 2 pontos percentuais - já em 2012. Para um governo que tanto criticou o anterior pelo aumento de impostos não deixa de ser caricato. Só vem provar que - como dissemos em tempo oportuno - do que se tratava era de ir ao pote e não no bem estar dos portugueses que vêm a sua vida agravada fortemente com um governo que só está em funções à dois meses. E para quem tinha tantos projectos para a diminuição da despesa não deixa de ser estranho que ainda nenhuma tenha vindo a lume, embora Passos Coelho no Pontal, tenha afirmado que cortam na despesa diariamente, só que deve ser tão pouco, que ainda nenhum português deu por nada. Pelos vistos, nem os membros da "troika" que não se coibiram de o afirmar em conferência de imprensa. É preciso lembrar que foi em nome destes equívocos que o PSD e o CDS, ajudados pela esquerda radical, derrubaram o governo de Sócrates mergulhando o país numa crise política a somar à económica que seria determinante para a ajuda externa chegar e colocar o nosso país de joelhos, situação em que actualmente nos encontramos. Até gente mais próxima do actual PM, como Luís Delgado, já não podem esconder o desconforto da política seguida, ele que tanto criticou Sócrates até já veio - embora duma forma suave e cibilina - defendê-lo. É que o PEC 4 não implicava restrições tão fortes e, mesmo que viessem a existir outros, - e nós achavamos que seriam inevitáveis -, nunca chegaríamos à situação de protectorado em que actualmente nos encontramos. Apesar de mais de três décadas de democracia, os portugueses ainda não aprenderam que em política se deve racionalizar, mesmo - e sobretudo - em período eleitoral, e não encarar a refrega como um jogo de futebol. A resposta aí está, e aquilo que parecia o paraíso anunciado transformou-se num inferno social, por contraponto ao mal instituído de que se falava que afinal, veio-se a verificar que defendeu melhor os interesses de Portugal e dos portugueses, bem melhor do que os actuais governantes, na sua maioria inexperientes, que para além de não saberem o que fazer, andam a enriquecer o seu currículum para depois irem ocupar mais uns lugares de "boys" dos muitos que por aí existem. O desnorte está instituído e o mais fácil é ir sobre os mais débeis, em vez de atacar os mais ricos - veja-se a não tributação das mais-valias e dividendos - num circo de triste memória. A ânsia que tinham não era de ajudar Portugal e os portugueses, mas sim, como o actual PM confessou, o de "ir ao pote". Se dúvidas houvessem aí está a resposta, clara e contundente, que esmaga os portugueses diariamente, e ainda o pior não chegou. Para quem dizia e defendia que a crise tinha a ver com Sócrates e até negava a existência da crise internacional, só vem demonstrar que os interesses que tinham eram inconfessáveis e que, mais uma vez, os portugueses embarcaram no canto da sereia. Até Marcelo Rebelo de Sousa já não esconde algum incómodo que a política do seu correligionário político lhe está a causar. Mas a crise é generalizada, vejam-se as dificuldades que atingem os tão poderosos EUA, como aquela que desarticula, cada dia com mais evidência, a UE. Enferma dum modelo ultraliberal que não se ajusta aos princípios federalistas que nortearam a fundação da UE, os seus actuais dirigentes estão a desagragá-la, dia após dia, estilhaçando tudo aquilo que a Europa tinha conseguido criar como modelo social avançado, onde até os EUA vieram beber inspiração. Mas isso não importa aos actuais dirigentes que estão mais interessados em defender o seu projecto ultraliberal - que nunca foi solidário - face a uma Europa mais virada para o social, que foi a Europa que encontraram quando chegaram e que vêm a destruir. E se dúvidas houvesse, basta ver o que saiu da última cimeira entre Sarkozy e Merkel. Agora Sarkozy e Merkel falam dum governo europeu e até dum ministro das finanças europeu. Até já falamos disso nestas crónicas - afinal somos federalistas - mas atenção que aquilo que Sarkozy e Merkel defendem é um governo liderado pela França e Alemanha e nada mais do que isso. E nesta farsa liberal mascarada de federalista não nos incluímos de todo. É ver a reacção que eles têm quando se fala de "eurobonds", isso sim, um passo importante na afirmação federalista da UE. A Europa está em declínio, os EUA estão feridos - não se sabe se de morte ou não - mas estão sem a pujança de outros tempos. E com tudo isto, é visível que as coisas não estão a correr bem e que uma nova crise se aproxima inexorável e devastadora. Não queremos ser profetas da desgraça como Roubini, nem pessimistas como Zoelick, mas é evidente que algo se aproxima e não é necessário ser economista para o entender. Será o fim do sonho no célebre "no médio/longo prazo estamos todos mortos" de Keynes, ou será, em alternativa, o abrir duma nova perspectiva uma nova visão para o mundo, menos materialista - no conceito capitalista do termo - mas mais solidária, ou algo bem diferente de tudo isto, e que ainda não somos capazes de perspectivar? Teremos que aguardar para saber a resposta, e pensamos que não temos que aguardar muito para o saber.
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