Equivocos da democracia portuguesa - 125
E a saga liberal aí está com toda a força, entranhando-se como um cancro, a coberto do memorando da "troika", indo muito para além dele, numa desforra ultraliberal dos interesses privados sobre os públicos. Apressou-se Passos Coelho a aumentar impostos - quando disse que nunca o faria, tal como outros - e não é um aumento qualquer, para começar 50% do subsídio de Natal não é coisa pouca. (Se tivesse tributado os dividendos já não seria preciso penalizar os pensionistas). Mas, o mesmo Passos Coelho que enquanto oposição tinha um sem número de items para diminuir a despesa do Estado, ainda não foi capaz de apresentar nenhum, pelo menos coerente. Agora, Passos Coelho vai deixando cair a talhe de foice, em algumas visitas que faz - e no meio dos seus sequazes, não vá o diabo tecê-las -, que o aumento de impostos não vai ficar por aqui, e que em breve outros se lhe seguirão. Agora, mais uma vez duma forma informal, aparece o aumento das tarifas dos transportes em Agosto, e que rondarão os 15%. Quando se pede contenção, quando se pede que as pessoas deixem os carros em casa, que utilizem os transportes públicos, um aumento destes tem, desde logo, um efeito preverso. Como irão as populações, com o seu cada vez mais magro salário, fazer face a tudo isto? E é que os aumentos vão muito para além daquilo que se esperava. O caso do aumento dos transportes, embora estando inscrito no memorando da "troika", nele não consta qualquer valor, muito menos de 15%! (E o expectro da privatização aí está e bem visível, ao fim e ao cabo, estamos com um governo liberal). Claro que, logo aparecem as centrais sindicais a dizer que isto é mais um roubo perpetrado pelo governo, e o PCP tal como o BE, põem-se em biscos de pés para cada um falar mais alto. Que hipocrisia! Será que todos nós já esquecemos que estes partidos se uniram ao PSD e ao CDS, numa estranha coligação para derrubar o governo anterior? Será que os sindicalistas - que fazem o seu papel ao reinvidicarem o melhor para os trabalhadores - sobretudo a CGTP, em que a sua direcção é maioritariamente militante do PCP, e por isso responsáveis por este governo estar no poder, não têm um pingo de vergonha? Que esperavam? Aumentos de salários, impostos pesados sobre a banca - que nos desgraçou e continua a fazê-lo impunemente, (veja-se o caso do BANIF que já está a aplicar "spreads" de 7%!!!) -, que iriam aparecer impostos sobre as grandes fortunas, que a saúde ia ser mais barata, que as reformas iam aumentar, que as escolas não iam encerrar, que os professores iam ter um período dourado de pleno emprego? Se isso pensaram foram, de facto, muito ingénuos. Quando se chumbou o PEC4 por ser muito gravoso para as populações, que dizer agora, e daquilo que ainda está para vir? O PM que não admitia nenhum orçamento rectificativo, - afinal tinha aprovado um com o PS à poucos meses que daria para cobrir as situações -, agora já pensa de maneira diferente, e ainda por cima o tenta justificar, mais uma vez, com a ajuda à banca. Afinal que país é este? Ouçam o que tem que dizer a isto D. Januário Torgal Ferreira, uma voz da Igreja, - ela que não é um modelo de grande progressismo -, já não consegue ficar calada. Isto para não falar da engorda de gestores na CGD, desde logo, fiéis de Passos Coelho como Nogueira Leite. Afinal para quem tanto criticou os "boys" dos outros, o que estava à espera era duma oportunidade para lá colocar os seus. (Embora os restantes partidos do arco governamental - CDS e PS - não possam criticar aquilo que foi a sua política enquanto governo). E agora, depois de muita trapalhada, vem Passos Coelho dizer que o interpretaram mal - onde é que já ouvimos isto - é caso para dizer que "colossal" são as disparatadas afirmações que fez. E ainda temos este excelso governo apenas à um mês cumprido ontem! Assim, torna-se cada vez mais difícil o apelo de Basílio Horta, quando afirmou que "a diplomacia deve fazer negócios em nome de Portugal". Com que vontade o farão, com que motivação, quando assistem a tudo isto. Com um euro demasiado forte para a nossa economia, esta cresceu a taxas decrescentes nos últimos anos, e não pensem que foi só desde que Sócrates chegou ao poder, isto vem acontecendo desde início dos anos 90. Mas a imagem do país é a imagem da UE, sem rumo, sem destino, vivendo o dia-a-dia a ver se se mantém unida e se mantém o seu maior símbolo, o euro. A Sra. Merkel acha que a reunião extraordinária que existiu era de somenos importância, até pôs a hipótese de não participar nela, quando ela é crucial para a UE e para o euro, como bem salientou a directora-geral do FMI, - Christine Lagarde -, que não deixou de lançar um alerta veemente, bem como de Durão Barroso, num discurso emotivo e desesperado. Mas Merkel acha que não é assim, tornando mais evidente que o seu projecto é, certamente, o aniquilar da UE que ela nunca quis, ou nunca soube, entender. Até Barack Obama lhe terá telefonado para ver se consegue fazer entender a esta senhora que o mundo depende também da UE e daquilo que nela se decide. E no fim deste triste espectáculo, afinal foi aprovado mais um pacote à Grécia, os juros vão diminiur de 5,7% para 3,5% e o prazo de dilação de 7 para 15 anos, ainda por cima, - este pacote que é para a Grécia -, acaba por se estender aos outros países em dificuldades como Portugal e a Irlanda. Afinal para quê toda esta encenação. Todos sabemos que os "landers" alemães têm contestado fortemente Merkel, mas a UE deveria estar a cima de tudo isto. Triste espectáculo este, que a frente liberal está a dar - incluíndo o liberal governo português -, que nada têm feito para consolidar o projecto europeu que grandes estadistas, como Delors, Brandt, Kohl, Gonzalez, Soares, Palme, Mitterrand, lhes legaram. Esta é a época da mediocridade e dos mediocres que apareceram depois de verdadeiros estadistas terem cedido o palco, veremos quando isto acaba, e quando outros estadistas apareçam para por em ordem esta UE cada vez mais desunida.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home