Conversas comigo mesmo - XX
Uma das parábolas bíblicas mais conhecidas é a "parábola do semeador". Os terrenos que nela são apresentados, por Jesus, não são mais nem menos do que as diversas atitudes que podemos tomar face à palavra de Deus e aos seus apelos, precisamente aquelas atitudes que Ele tantas vezes encontrou no decurso da sua missão: 1. A atitude dos que se fecham na sua auto-suficiência ou nas suas rotinas e são incapazes de se abrirem a qualquer impulso de mudança ou de progresso. "São os terrenos duros daquele caminho onde a semente cai mas não germina"; 2. A atitude dos que aderem facilmente à mensagem, se entusiasmam e até se comprometem com generosidade. Porém, face às primeiras dificuldades, logo abandonam o caminho iniciado. "São os terrenos de pouca profundidade onde a semente germina mas seca, por não poder enraizar-se"; 3. A atitude dos que pretendem servir a dois senhores e conciliar o inconciliável, rejeitando ou adiando as opções necessárias para a desabrochar de uma vida nova. "São os terrenos infestados de espinhos asfixiantes que impedem a semente de dar os seus frutos"; e, finalmente, 4. A atitude humilde e fecunda dos que, reconhecendo em si as atitudes atrás descritas, as combatem com perseverança para as neutralizar, dando assim à palavra de Deus o acolhimento propício à produção de bons frutos. "Estes são a boa terra". E nós, que "terra" somos ou temos sido? Aceitar o desafio desta pergunta é caminho para a tornar melhor. Entretanto, o Livro da Sabedoria realça bem o enorme contraste entre as atitudes de Deus e as atitudes do homem. O homem mostra o seu poder reprimendo, dominando, escravizando e destruindo os seus adversários, enquanto Deus manifesta o seu, inspirando o arrependimento, perdoando, insuflando novo espírito, sugerindo novos caminhos, estendendo a mão para ajudar em novas arrancadas. E assim nos ensina que o justo deve ser humano, isto é, amigo dos homens. A parábola do trigo e do joio, ao aceitar e defender a sua convivência, não pretende fazer tábua rasa de todos os valores, quer antes salientar o perigo da intolerância e da impaciência que destroem muito mais do que constroem, o perigo do "justo" se desumanizar e endurecer, julgando-se "senhor" da verdade e do bem. A bondade e a maldade não são exclusivo de ninguém, de nenhuma pessoa, de nenhum grupo, de nenhuma ideologia ou instituição. Não há "homens-trigo" nem "homens-joio". O joio será sempre joio e não poderá mudar-se em trigo. Mas um homem não morre necessariamente do mesmo lado em que nasceu, muda, aprende, evoluciona para o bem ou para o mal, para "trigo" ou para "joio". Mas só a Deus pertence a destrinça e o juízo definitivo.
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