Equivocos da democracia portuguesa - 128
Esta foi uma semana cheia de acontecimentos, que viria a terminar com o maior esbulho do governo sobre os portugueses, a saber, o aumento brutal do IVA na electricidade e no gás. Já aqui falamos dos estilhaços provocados pela venda do BPN, onde até Marcelo Rebelo de Sousa não ficou indiferente, quando afirmou que "as condições do BPN foram impostas pelos credores". Afinal, não é só a "troika" a impor coisas aos portugueses, num governo de figurantes sem rumo ou estratégia. Depois foi o escândalo dos "boys" do PSD e do CDS - são 75, por enquanto - a quem foi dada a oportunidade de engordar o Estado e os seus bolsos pessoais, numa altura em que se pede que a despesa deste diminua, coisa bem difícil de se ver, apesar das críticas e das sugestões(!) dadas ao anterior governo. Depois foi o imposto extraordinário que taxou toda a gente, mas deixando de fora os dividendo e as mais-valias, numa clara e escandalosa protecção a todos aqueles que já têm muito. Também aqui MRS viria dizer que "só os trabalhadores pagam". Agora, foi o aumento "colossal" do IVA para a electricidade e gás, que passa da taxa reduzida para a taxa normal, isto é, de 6% para 23%!!! Ainda se deixa no ar a possibilidade de aumento de impostos para 2012, num saque organizado a todos nós e digno de processo criminal. Para quem se propôs não aumentar impostos antes de ser governo, não deixa de ser interessante verificar o despudor destas medidas, porque quanto à despesa do Estado ainda não se viu nada, como ontem Poul Thompson do FMI, bem salientou. É mais fácil atacar aqueles que nada podem fazer do que as mordomias dum Estado corrupto onde tudo parace ser legitimado à luz de algo que o cidadão comum não vê. Só para dar um exemplo, e como afirmamos na última crónica, o caso da chefe de gabinete do ministro da economia que está a ganhar o dobro da sua antecessora, só porque é "boa". Medidas como esta do aumento do IVA, para além de ser um roubo perpetado sobre as populações, não é inevitável, como o ministro das finanças quis fazer crer. Por exemplo, porque não se aumentou o IVA sobre alguns produtos que não têm incorporação nacional, como por exemplo, os plasmas, e se foi atacar a electricidade e gás de que carecem as populações e a indústria? Como se pretende tornar as empresas mais competitivas, quando este aumento da energia vai levar algumas à ruptura, e as que sobreviverem, não terem grande margem de manobra para competirem no exterior? Como se pretende incentivar o crescimento económico utilizando medidas restritivas como esta? Este governo anda à deriva, porque não sabe o que fazer. Vejamos outra questão, a saber, o encerramento de escolas, política tão contestada pela anterior oposição - hoje governo - e que logo se apressou a aplicar o modelo como algumas pequenas alterações, só para dizer que não era igual, mas com as mesmas consequências. Agora, os professores que tanto criticaram o governo anterior, ainda nada disseram, nem vieram para a rua. Será que têm a consciência pesada por terem ajudado a colocar este governo no poder, pensando que iam resolver o seu problema? Mas ainda voltando à questão orçamental, o ministro afirmou à dias que havia um desvio de 1,1% face aos objectivos para este ano, para justificar o imposto extraordinário. Agora sabe-se que o desvio é de 1,7% já contabilizado o referido imposto!!! Afinal em que ficamos? Para quem acusava o anterior governo de mentir, convenhamos que este não é um modelo de seriedade. Ainda ontem os elementos da "troika" afirmavam que "não deviam existir apenas cortes, mas se deviam criam condições para o crescimento". E que vemos? Por cá, parece que ninguém percebe nada - e se calhar não - porque medidas para o crescimento nem vê-las. Alterou-se o código laboral, os trabalhadores ficaram mais vulneráveis, agora afirma-se que se vai baixar fortemente a TSU, - compensadas pelo aumento do IVA, pois claro -, mas as gorduras do Estado lá continuam. Com todos estes problemas em cima da mesa, Passos Coelho, lá foi de férias após ter trabalhado menos de dois meses!!! Desta irresponsabilidade estamos todos cheios. Isto são atitudes que não dignificam nem os políticos nem a política, onde a mentira faz parte da estratégia, ainda mais agravada porque apareceram no poder, acusando de mentiroso o governo anterior, prometendo tudo a todos, para logo que lá chegaram fazerem ainda pior. Para quem tanto criticou o PEC 4 - ainda se lembram? - que era bem menos restritivo do que a política que se está a seguir. Até Merkel - com todas as críticas que lhe fazemos - reconheceu que seria - o PEC 4 - uma boa estratégia para Portugal. Prefilam-se no horizonte privatizações muito importantes que nos vão atingir a todos nós, desde logo, as "Águas de Portugal". Um bem público, que devia continuar público, vai ser entregue à voracidade do capital privado. Nesta política de terra queimada, onde o empobrecimento do país e das populações é por demais evidente, não se vislumbram grandes coisas para benefício das populações. A única maneira de ter benefícios e mordomias, nestes tempos difíceis, é arranjar um lugar no governo, ou um lugar dum qualquer "boy" seja lá onde for. Como ontem afirmava um conhecido jornalista, quando comentava o aumento do IVA, "bem prega Frei Tomás". O despudor e a insensibilidade com que tudo isto é feito é bem a evidência da política ultra-liberal que este governo professa e para a qual tanto alertamos no passado recente. Não deixa de ser curioso que, muitos dos que criticavam o anterior governo, agora se mantenham calados, pelo incómodo que tudo isto lhes trás. Talvez um certo peso na consciência seja a razão disso, e não venham dizer que todas estas medidas têm a ver com o passado. Porque não é assim, e até prometeram não o fazer, embora de vez em quando caiam na tentação, porque os argumentos lhes fogem. Política de mentira, governo de mentira. Governo fantoche, representante dos interesses estrangeiros que tanto se quis evitar e que os actuais (des)governantes tudo fizeram para que viessem, na sua assumida ânsia de ir ao pote. Só que, enquanto se governa no pote tão desejado, as populações estão cada vez mais depauperadas, e Portugal cada vez mais pobre e divergente duma Europa que, embora também ela em crise, aparece bem mais robustecida. Pobre país este que tem esta classe política, embora, se calhar, temos os políticos que merecemos e que alguns ajudaram a colocar no poder. Entre o passado recente e a actual governação, façam a comparação, sincera e desapaixonada, e vejam ao resultado que chegam. E ainda a procissão nem sequer saiu do adro...
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