Equivocos da democracia portuguesa - 126
Mais uma semana fértil em acontecimentos, e mais uma vez, envolvendo a trapalhada "colossal" de Passos Coelho, que afinal não o foi - segundo o vídeo do PSD -, embora outros responsáveis tenham dito o contrário, desde logo Miguel Frasquilho. E das duas uma, ou o vídeo é uma montagem para não estragar a imagem de Passos Coelho ou, Miguel Frasquilho mentiu, e se, de facto, mentiu, então Passos Coelho deveria tirar daí as suas conclusões se tiver força para isso. Como não o fez, a dúvida permanecerá. Mas Passos Coelho sobre este assunto como sobre outros, tem um comportamento em tudo igual aos anteriores PM's, que ele criticou. E é ver o discurso de Paulo Portas como também de alguns dirigentes do PSD, que tanto criticaram os "boys" e os "jobs". Mas, como em política vale quase tudo, estas palavras foram rapidamente metidas na gaveta - não vá alguém se lembrar delas -, para distribuir os "jobs" pelos "boys" da coligação, sendo a admnistração da CGD o exemplo acabado disso mesmo. A administração da CGD passa de cinco para sete administradores executivos, para cobrir todas as situações dos "tachos" institucionais que Passos Coelho criticou a outros. O que não deixa de ser estranho é que o aumento de administradores em nada se justifica - a não ser o "tacho" - porque se a CGD tem um único accionista que é o Estado, não se compreende a necessidade da criação dum "chairman" para arbitrar conflitos. Esta medida vai custar não os actuais 3 milhões, mas sim, 5 milhões de euros por ano a todos nós. Estranhamos o silêncio de muitos que criticaram a distribuição de "jobs" por Sócrates e agora parece que olham para o lado. E ainda por cima, as nomeações chegam com o cartão partidário. Enfim, é triste mas compreende-se porque em Portugal as pessoas continuam a olhar para os partidos como se de clubes de futebol se tratassem, em vez de olharem para eles como aqueles que vão gerir o nosso futuro em determinado momento histórico. Ainda voltando à CGD, verificamos que a "governance" da instituição vai ficar mais cara e duma forma injustificada, logo numa altura em que se pedem tantos sacrifícios às populações. (Por exemplo, as indemnizações por despedimentos de trabalhadores passar para 20 dias por cada ano, e já se fala de passar para 10 dias)! Pedro Rebelo de Sousa é um desses, um advogado de instituições que estão em conflito ou com negócios com a CGD! Isto além de ilegal, é incompreensível. Nogueira Leite - um homem de confiança do PM - até ficou incomodado por não ver o seu nome como vice-presidente, na lista inicial, conforme lhe tinham prometido (segundo o próprio). Ficamos a saber que não foi só Fernando Nobre que quis ser presidente da AR, outros desejaram cargos, e para isso, devem-nos ter incumbido de dizer mal do governo anterior, para os poderem justificar. Agora se compreende a atitude de, por exemplo, Nogueira Leite, que até já fez parte dum governo... socialista!!! Com todo este rearranjo o CEO fica sem poderes executivos, que ironicamente, deverá ser o homem que melhor conhece a instituição e os seus estatutos. (Quando instado a comentar o incómodo de Nogueira Leite, Faria de Oliveira apenas disse que o incomodado não deveria conhecer bem os estatutos da instituição. Não eram precisas mais palavras...). O que tudo isto significa é que aumentou, e muito, o preço da "surveyance", apenas e só, para supervisionar o trabalho dos outros. Mas a vergonha, ou melhor a falta dela, na área financeira não fica por aqui. E agora o ministro das finanças vem anunciar não um, mas dois orçamentos rectificativos(!) - não à fome que não dê em fartura -, sendo o primeiro para acomodar o financiamento à banca. (É bom lembrar que, antes de ser governo, Passos Coelho achava que não iam existir orçamentos rectificativos!!!). Mas apesar de tudo isto, Fernando Ulrich (BPI) numa conferência organizada pelo Diário Económico veio afirmar que "o plano da "troika" para o sector financeiro não existe". Para ele o resto - que se aplica a todos nós - é excelente, mas o que se aplica à banca afinal é mau e carece de ser revisto e reformulado. Já agora, gostaríamos de ouvir estes senhores a comentarem o aumento dos bilhetes na Metro de Lisboa e Porto em aproximadamente 20%!!! Com certeza que vão achar bem, para a defesa da Pátria e a Bem da Nação, segundo a fórmula utilizada no Estado Novo, porque eles não andam de metro. Mas já os ouvimos saudar o fim das "golden share" - teve lugar no passado dia 25 do corrente -, na PT, Galp e EDP, abrindo assim caminho a que tubarões internacionais entre por aqui dentro. Há até quem ache que deveria o Estado deter 35% das acções destas instuições de forma a garantir a "maioria de bloqueio". Mas como é que o Estado poderá fazê-lo quando tudo o que faz é dar protecção à banca duma forma desabrida? Estas vão sendo as habituais contradições da nossa democracia, onde a simples mudança de governo - como já aqui tínhamos afirmado - não iria de todo resolver o problema. Afinal, será interessante verificar que os partidos do chamado "arco governamental" vão repartindo entre si os "jobs", dependendo da força que cada um, momentâneamente, tem. O ciclo não se quebra, porque não à interesse em quebrá-lo, porque quer queiramos que não, têm sempre que existir "jobs" para os muitos "boys" que a eles se candidatam. Como também já aqui afirmamos amiúde, a solução está na refundação da democracia - em que os actuais partidos não estão interessados - com vista à criação da 3ª República, uma República mais solidária, mais séria, mais próxima das populações e dos seus anseios e interesses. E agora, à que ir de férias para retemperar forças. Quem pensava que os nossos políticos iam trabalhar nas férias, desenganem-se, se fazem pouco no resto do ano, porque haviam de fazer algo em Agosto. Assim, a AR já decretou férias entre 8 e 21 de Agosto. Para os grandes defensores de que os políticos deveriam trabalhar em Agosto dada a situação do país, como Miguel Macedo e Paulo Portas, - enquanto oposição, bem entendido -, agora já não pensam o mesmo, e os partidos que representam, não nos consta que tenham votado contra. Estes são os políticos que temos ou talvez, mereçamos.
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