Turma Formadores Certform 66

Sunday, September 04, 2011

Conversas comigo mesmo - XXVI

Por vezes pensamos que temos que ser seres especiais para entrar em contacto com o transcendental. Nada de mais errado. Para edificar a sua igreja e perpetuar a sua missão, Jesus não quis outras pedras senão os homens e mulheres, seus irmãos. Homens e mulheres de qualquer condição, homens como Pedro, e não anjos. Homens simples, sinceros, abertos, generosos, capazes de tudo, mesmo de trair em horas de fraqueza e de escuridão, como Pedro. Homens humildes, capazes de reconhecer os seus fracassos e recomeçar de novo, sem azedume, e cheios de confiança, como Pedro. Mas, sobretudo, homens e mulheres de fé, dedicados, livres, disponíveis, capazes de se comprometerem generosamente, até ao fim, como Pedro. Homens e mulheres capazes de se deixarem questionar por Jesus e de proclamarem, convictamente: "Tu és o filho de Deus vivo... Só Tu tens palavras de vida eterna". Pedro assumiu, e bem, o seu lugar e o seu papel na edificação da igreja, segundo o projecto de Jesus, um papel e um lugar determinantes, mas que nunca o levaram a considerar-se "pedra única" ou de natureza especial. Por isso, a todos e para sempre, deixou este apelo: "Vós, também, como pedras vivas entrai na construção deste templo habitado pelo Espírito de Cristo". Entremos, também, com vontade de ocupar o nosso lugar e cumprir a nossa missão. Assim, ser cristão é muito mais do que assistir ao ritual da missa, muito menos, em proclamar-se como tal. Ser cristão é ter fé em Jesus Cristo, é acreditar e confiar n'Ele como luz determinante na orientação da nossa vida, é acreditar e confiar na sua palavra, seja a que brota dos seus lábios, seja a que os seus gestos e as suas atitudes proclamam, e acolhê-la como referência constante e decisiva para o nosso pensar e agir. Por isso, S. Paulo nos recomenda uma atitude vigilante e crítica face à mentalidade que reina no mundo em que vivemos, uma mentalidade que, frequentemente, se distancia e se opõe àquela que o Evangelho nos inspira e propõe: "Não vos conformeis com este mundo mas transformai-vos pela renovação da vossa mente". Isto significa que temos de nos interrogar muitas vezes: Que faria Jesus no meu lugar? Como reagiria Ele nesta situação? Qual seria a sua resposta? Que atitude tomaria face a este problema? "Renunciar a si mesmo" como Ele nos propõe, outra coisa não é senão querer permitir que seja Ele, em todas as circunstâncias, a fonte essencial dos nossos critérios de avaliação e das nossas decisões, e o caminho sempre a seguir mesmo quando nos pareça duro e difícil. Esta atitude é também a melhor expressão daquele culto que S. Paulo pede que pratiquemos: o culto que se presta a Deus não apenas através de um rito praticado num momento e lugar determinados, mas através de uma vida que se oferece e se gasta, dia a dia, no cumprimento fiel e generoso da sua vontade e dos nossos deveres. Como se vê, o ser ou afirmar-se cristão, é muito mais complexo do que achamos, quando nos proclamamos como tal, no rito quiçá na filosofia, mas nem sempre, na prática, coisa essencial para connosco e com o nosso semelhante.

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