Conversas comigo mesmo - LXIX
Mais uma vez trago a este espaço a problemática dos animais e da aparente incompatibilidade destes com alguns outros animais ditos humanos. Para isso, recorro ao nosso conhecido filósofo e matemático grego Pitágoras, (viveu por volta de final do ano 570 a.C. a 497 a.C.), que afirmou: "Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor." Esta já era uma verdade tangível no final do ano 500 a.C. e não deixa de ser estranho que passados mais de dois milénios e meio ainda o homem contemporâneo não tenha atingido um nível superior de consciência. A espécie humana que se acha superior aos outros animais, afinal tem um período de maturação intelectual muito longo, diria mesmo, demasiado longo, o que a coloca num patamar de superioridade bem questionável. E quando os humanos põem a questão ao nível da capacidade de pensar, vêm-me à memória as palavras de Jeremy Bentham, filósofo e jurista inglês que viveu entre 1748 e 1832, quando afirmou: "Não importa se os animais são incapazes ou não de pensar. O que importa é que são capazes de sofrer." Mais uma vez, vemos que à já mais de quatro séculos existiam pessoas a pensar desta forma, e mesmo assim, nós pessoas do século XXI, ainda não tivemos a capacidade e o discernimento de ver para além do óbvio. O que me leva a pensar que, ou a espécie humana está imbuída da maior bestialidade, ou então, reafirmo que o seu período de maturação intelectual é muito lento, demasiado lento, para que nos consideremos seres superiores. Mas recuemos de novo no tempo, desta feita para ouvir o que nos tem para dizer sobre esta matéria o famoso naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882): "A compaixão com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana." Pois é, e que fazemos nós, homens do século XXI, perante isto. Continuamos a massacrar, a torturar, a humilhar estes seres em nome, muitas vezes, daquilo que pomposamente chamamos de "investigação científica". Com que direito, utilizamos outros seres vivos para fazer testes clínicos e laboratoriais, por exemplo, para buscar soluções para a humanidade? Com que direito torturamos estes seres em prol da chamada "evolução científica"? Em nenhuma situação isso é justificável, mas sobretudo, nos dias de hoje, onde existem sucedâneos artificiais que podem substituir estas horrendas práticas. E afinal, porque se continua a fazer o mesmo e liderados por grandes instituições científicas e laboratoriais que tinham por obrigação dar outros e melhores exemplos à comunidade? Até aqui, se nota que afinal, a espécie humana ainda está longe do patamar superior que se atribui. Mas olhemos agora para uma das figuras mais emblemáticas da religião - a religião solidária não a da pompa - que mais marcou os nossos tempos, Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Dizia-nos ela que: “Os animais foram criados pela mesma mão caridosa de Deus que nos criou. É nosso dever protegê-los e promover o seu bem-estar.” Em finais dos século passado, esta figura que povoou o nosso mundo, não se coibia de fazer esta afirmação. O que não deixa de ser estranho. Parece que ao longo do tempo, ciclicamente, tem que aparecer alguém a lembrar o respeito que todos devemos aos animais, e mesmo assim, continuamos na mesma direcção, sem arrepiar caminho, colocando-nos bem longe daquele nível superior que temos como certo. Desde o início desta crónica, fomos passando por diversas personalidades que tinham ideias claras sobre esta matéria, e é bom lembrar que começamos com alguém que viveu à mais de dois milénios e meio! E até agora que fizemos para mudar o nosso comportamento. Para além de algumas generalidades e processos de intenção, não fomos capazes de fazer nada de substancial. Aos fim de tanto tempo que habitamos esta nossa casa comum, parece que ainda não tivemos a maturidade suficiente, - a evolução da espécie -, para evoluirmos. Continuamos tão primários, bárbaros, ignorantes como à milhões de anos quando aqui aparecemos. E não me digam que evoluímos, que tecnologicamente somos diferentes. Afinal que fizemos? Fomos subjugando tudo à nossa passagem, animais e natureza, fomos continuando para além dos alertas deixados, e hoje estamos à beira do abismo. O ser humano é a única espécie com capacidade de autodestruição, e fazêmo-lo todos os dias. Muitas vezes em nome dum "progresso" que só mostra a imaturidade da nossa espécie. E fizemo-lo de tal maneira que até este planeta, - nossa casa comum -, estamos na iminência de destruir. Afinal que espécie somos? Que objectivos perseguimos? Claro que nem todos pensamos da mesma maneira, felizmente! Há sempre aqueles, mais evoluídos, que se vão destacando da sua própria espécie, que não pactuam com isto. Mas ainda são poucos. Demasiado poucos. O que mais uma vez mostra a incapacidade da nossa espécie em evoluir. Enquanto as restantes se foram adaptando aos meio ambiente para sobreviver e viver, nós tivemos como objectivo apenas e só, o domínio, o poder, a destruição como forma de superioridade. Que pobres somos, que caminho longo ainda temos para trilhar. E, tal como comecei, termino recuando à dois mil anos atrás e à Bíblia. No Livro dos Provérbios lê-se: "O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel." (Provérbios 12,10). Assim, sem meias palavras. E aqueles que se dizem cristãos o que pensam disto? Será que acham que, nesta capítulo, a Bíblia está errada? Não somos capazes de nos sentir incomodados com tudo isto? Será que ainda temos que esperar mais uns quantos milénios - se não destruirmos o nosso planeta antes - para que atingamos o tal patamar superior que achamos que temos direito? Não somos capazes de pensar que, enquanto continuarmos neste caminho, apenas estamos a destruir o ecossistema que regula as nossas vidas? Afinal, quando seremos capazes de ter a ousadia de sair das "cavernas" em que ainda habitamos?
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