Equivocos da democracia portuguesa - 171
E, finalmente, a máscara caiu! Como se ainda existissem dúvidas o livro de Cavaco Silva que hoje é editado, esclareceria todas as questões. As fortes acusações de Cavaco a Sócrates dizem bem da situação que se vivia em Portugal à pouco mais de oito meses, e como Cavaco terá contribuído para a queda do governo de Sócrates, afirmando-se assim, - como já aqui o dissemos por diversas vezes -, como um presidente de facção e bem longe de ser o presidente de todos os portugueses. Cavaco nunca gostou que o enfrentassem, - são normalmente assim, todos os autoritários -, e Sócrates não o temia, bem pelo contrário. Cavaco deixa assim para a História, o registo do único presidente de facção que tivemos em democracia e, talvez, mesmo durante a I República, e que se assume como tal. Para os que têm a memória mais curta, é bom lembrar o que Cavaco, então primeiro-ministro fez ao então presidente da República Mário Soares. As deslealdades que na altura foram anunciadas, o mal-estar, a sobranceria, que Cavaco sempre teve. Ele que se assume como um "infalível" - o tal que "nunca se engana e raramente tem dúvidas"! - já se deve ter esquecido que governou no início da adesão de Portugal à então CEE, numa altura em que o dinheiro entrava em Portugal "às pasadas" e que nem sabíamos bem o que lhe fazer. Isso até deu para construir o maior elefante branco da democracia, o CCB. E alguém se lembra de que foi no "reinado" de Cavaco que se começou a criar o famoso déficit. (Para os mais esquecidos será bom que recuperem as palavras do Prof. Miguel Cadilhe sobre esta matéria produzidas ao longo do tempo). Um dia se há-de fazer história deste período da vida nacional e depois veremos o que ela fixará do comportamento dum e doutro. Será necessário que passe algum tempo sobre os factos para que, com clareza, se atribuam as respectivas responsabilidades. Afinal o que moveu Cavaco foi a ideia de, pela primeira vez, colocar um governo da mesma cor política do presidente. E que ganhamos com isso? Nada. Hoje vivemos pior do que no passado recente. O governo quer aproveitar o "memorando da troika" para ir mais além e aplicar o seu programa ultra-liberal, onde as questões sociais não existem, onde os portugueses não existem, onde apenas existe o egocentrismo governamental. E este a braços com cada vez mais dificuldades, - até já se vai falando do titular da pasta da economia para possível embaixador na OCDE -, onde os desentendimentos e os arranjos são cada vez mais evidentes e ainda passaram apenas oito meses! E entretanto, os portugueses são atirados para a miséria, a classe média foi destruída, Portugal está à beira do abismo. (Basta ver como as populações começam a receber o primeiro-ministro!) E estes senhores que apenas tinham como meta a ânsia de "ir ao pote", nada mais têm para mostrar. Eram eles que tinham a receita para em dois meses "endireitar" o país (Miguel Macedo dixit). E não basta continuar a justificarem com o passado a incompetência da presente governação. Daí que se comecem a ouvir as vozes de algumas figuras públicas que reclamam que Sócrates é que tinha razão e que se se tivesse aprovado o famoso PEC IV não teríamos chegado aqui. Afinal é com medidas como as que estão se defendiam que a Itália, a Espanha, a Irlanda, a própria França, estão a combater as suas dificuldades. Mas isso será o julgamento que a História, lá mais para a frente, há-de fazer. Agora apenas fica a ideia de que temos um presidente de facção que não representa a totalidade dos portugueses, como se ainda fosse preciso algum esclarecimento adicional... E, como Sócrates ainda incomoda, ao fim deste tempo, mesmo ausente do país! O que significa que a sua força ainda perturba.
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