Turma Formadores Certform 66

Sunday, April 08, 2012

Feliz Páscoa a todos!

Páscoa, etimologicamente, passagem. Hoje celebra-se o domingo de Páscoa de acordo com o ritual cristão. Celebra-se uma morte seguida duma ressurreição, um fim seguido de um novo (re)começo. Este que para muitos será certamente um dia feliz para mim assume uma especial tristeza. Hoje comemoram-se onze anos do desaparecimento da minha mãe. (Era então um solarengo Domingo de Ramos e o meu coração estava triste e negro como a noite mais fria e profunda!). Tal como à quase dois mil anos, recordo a injúria, o ódio, a intolerância, o insulto, o vilipêndio e, por fim, o assassinato. Só que a diferença entre a ignomínia que se passou à quase dois mil anos e a que celebro neste décimo primeiro, é que à quase dois mil anos houve uma ressurreição, - um túmulo vazio! -, e neste último, tal não se verificou, apenas aconteceu um desaparecimento definitivo. A entrada nessa galeria imensa de ausentes que povoam a minha vida. Daí a conflitualidade de sentimentos que sinto no dia de hoje. Amor e talvez ódio, - nem sei bem definir o que sinto -, talvez resignação seja o termo mais correcto. Depois da passagem - o significado etimológico do termo Páscoa - não houve retorno. No escoar do tempo, na perfídia dos dias que não me deixam em sossego, a memória é tudo o que me resta. O coração chora porque os olhos, esses já não são capazes, já gastaram todas as lágrimas. Neste alinhar inexorável dos dias que vão passando o sentimento de amor e talvez ódio convergem, amor pelos ausentes, talvez ódio por aqueles que criaram o ambiente propício a uma morte. Apenas a dúvida de sentimento fica pela outra memória - a de à quase dois mil anos - de quem sofreu a mais vil e atroz morte que se podia infligir nesse tempo que, segundo o ritual, se cumpriu em nome do amor. Do amor maior, do amor por aqueles que não o sentem, por amor daqueles que o calcaram aos pés, por amor daqueles que mataram ou criaram condições para que isso acontecesse. Daí esta conflitualidade de sentimentos que não sei separar, que não sei definir, que me esmagam nesta "apagada e vil tristeza" em que se tornou a minha vida. A História um dia há-de julgar, nem que seja sob a forma da consciência individual, aqueles que, como à quase dois mil anos, espezinharam o amor, a solidariedade, a ajuda. Esqueceram quanta ajuda receberam em momentos de aflição, quanto conforto tiveram em momentos de angústia. Gente menor e desprovida de sentimentos houve-os sempre ao longo dos tempos. Mas desses, a História não fala deles, desapareceram na sua poeira, ignorados pelos seus actos. A História registou os outros, aqueles que aparentemente sendo os perdedores foram os que venceram, aqueles que foram arrastados na lama tiveram o condão de perdoar aos seus sicários. Esta é a lição deste dia que tento impôr a mim próprio, quanto mais não seja, em memória daquela, que já no fim do tempo que lhe restava, me pediu para perdoar como ela já tinha perdoado. (O mesmo exemplo que vinha de trás de à quase dois mil anos!) Não sei se sou capaz, ...não sei se fui capaz!... Neste drama em que me vi envolvido até ao fim dos meus dias, não consigo entender se há espaço para o perdão. Não o perdão sob a forma de palavra, muita vezes vazia de sentido, mas o perdão no coração, aquele perdão que sentimos lá bem no fundo, aquele perdão que também nos alivia e nos conforta. Hoje, para além das efemérides que celebro - uma alegre porque um recomeço, outra triste porque um vazio - resta apenas o espaço dado pelas mãos frágeis duma criança, a Inês do meu contentamento, que quero crer que na sua pureza e fragilidade transportam a minha redenção. E só isso me conforta. E só isso me dá coragem de prosseguir para cumprir este meu calvário, íngreme, duro e difícil até à redenção, quiçá, até à minha ressureição para uma vida com mais sentido e, sobretudo, com mais amor. Amor pelo meu semelhante, amor pelos animais, amor pela natureza. Amor, enfim, no mais amplo sentido do termo. Até lá apenas a mais bela flor do meu jardim de Outono, a Inês do meu contentamento, representa a minha redenção. Essa redenção que espero me acompanhe no esgotar inexorável dos meus dias. É nisso que quero acreditar! Quero desejar a todos, àqueles de quem gosto, mas também àqueles de quem não gosto tanto, que me seguem neste e noutros espaços, uma Feliz Páscoa! Sem ódios, sem rancores, sem reservas mentais de espécie alguma.

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