Equivocos da democracia portuguesa - 175
Na encruzilhada em que a Europa está e em que Portugal se vê envolvido, vamos fazendo o caminho de empobrecimento que está em curso, derivado não só do memorando da "troika" mas, também, da estratégia deste governo ultraliberal que está no poder. É sintomático que, para além dos elogios feitos pela "troika" na sua última visita, sobre o modo como o plano está a ser aplicado, não deixa de ser curioso que num outro relatório secreto, que foi à dias tornado público, esta tenha mostrado a sua preocupação sobre o não crescimento da economia e o aumento galopante do desemprego. Desemprego esse que tende, segundo os próprios relatores, a criar condições de agitação social que pode ser incontrolável. Talvez por isso, o governo se apressou a mandar um forte contigente policial para a greve geral que teve lugar na passada quinta-feira, com as consequências que todos vimos. Nós, que já tínhamos assistido a algo semelhante na ditadura, parece que revemos o mesmo filme volvidos quase trinta e oito anos sobre a implantação da democracia. O assunto acabou por ter repercursões muito maiores por nos incidentes estarem envolvidos dois jornalistas, o que levou a que a porta-voz da polícia no local, pedisse a que estes viessem com identificação clara. O que nos coloca duas questões: a primeira prende-se com a agressão a estes jornalistas que depois de se identificarem, mesmo assim, continuaram a ser agredidos e, em segundo lugar, isso significa que os jornalistas escapam - se escaparem - mas o cidadão comum que, não tem emprego, não tem dinheiro para pagar as suas dívidas, talvez até, nem o tenha para dar de comer aos seus filhos, esses estão expostos à violência gratuíta da polícia. E foi isso a que assistimos, violência gratuíta. Depois vêem as habituais desculpas das provocações de que foram alvo, das agressões de que foram vítimas, etc. Mas esquecem as provocações que são feitas por agentes infiltrados, assunto já denunciado publicamente em outras ocasiões, como também não vimos a mesma atitude quando os seus iguais se manifestaram contra o anterior primeiro-ministro de Portugal, chegando até aos insultos que não enobresse a instituição. Sendo assim, com que direito pretendem agredir cidadãos que eles querem fazer passar por "perigosos terroristas" que têm todo o direito à indignação face às condições de vida que todos estamos a passar. Claro que quando a situação se tornou mais visível, até houve um agente que, segundo um jornal, teria admitido que "a culpa não é de quem está no terreno, mas sim, de quem deu a ordem". Quando a recebem, ainda segundo esse agente, não olham a quem agridem. Isto diz bem do que se passou, esta afirmação dum dos seus agentes é a prova cabal da atitude que os movia. Esta foi a imagem que demos para o exterior a juntar a tantas outras que mostram a nossa debilidade. Os "media" internacionais esqueceram a greve geral e focaram-se naquilo que se passou, bem longe dos desígnios dum país europeu. Entretanto o governo que faz? Nada. Lamenta os jornalistas, porque o são e não querem ter problemas com eles, e quanto ao resto... abre-se um inquérito que não dará em nada, como é habitual neste governo - e neste país - que apenas tem força para com os mais fracos. E assim vai Portugal, desfazendo-se em pedaços, onde o papel das instituições que deviam defender o cidadão e não o fazem, não é, seguramente, o menor. E é esta a imagem que damos para fora, para os nossos pares, já não basta a triste imagem que estamos a dar a outros níveis.
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