Equivocos da democracia portuguesa - 179
A derrapagem do déficit não é coisa pouca. Noutros tempos teria havido um sem número de ensaios sobre a situação, mas agora, os membros da maioria tendem a desvalorizar aquilo que não pode ser desvalorizado. As contas públicas agravaram-se, o déficit agravou-se, a receita caiu e a despesa aumentou. A agitação social começa a dar sinais - vejam a preocupação de Miguel Cadilhe sobre esta matéria - e a situação ainda não chegou à inversão de tendência, mas as famílias começam a ver a situação desesperada em que se encontram, bem longe daquilo que algum dia imaginaram. De tudo isto, parece que o ministério de Vítor Gaspar ficou surpreendido! Surpreendidos ficamos nós por tal interrogação. Afinal se a economia está a contrair, se as empresas estão a fechar, se o desemprego está e continuará a estar a aumentar, o que implica mais encargos por parte da segurança social, é perfeitamente normal que tal venha a acontecer. Se as empresas fecham à menos IRC. Daí que não se vislumbre as surpresas por parte do ministério das finanças. O contrário é que seria de admirar e que, certamente, iria ao arrepio de todos os manuais de economia e finanças. Mas o mais grave de tudo isto é a incapacidade do governo de cortar nas chamadas gorduras do Estado. Esta maioria que tantas soluções tinha na manga, que tinha uma solução para o país que resolvia a situação em dois meses - ainda se lembram? (Miguel Macedo dixit) - afinal quase um ano após a sua chegada ao governo nada foi capaz de fazer para inverter tal situação. (E o desnorte é tal que até a ministra da justiça já fala em "bancarrota", perante o incómodo dos seus pares!) Ao que se vê, parece que cortar nos ministérios, nas mordomias dos ministros e noutras alcavalas do Estado, não parece ser assim coisa tão fácil. E aqui sim, Vítor Gaspar terá que estar preocupado, porque isso significa a incapacidade do governo e, desde logo, do seu ministério em fazer as correcções que urge fazer. Como diz o ditado "olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço". Este parecer ser o lema do governo, deste governo que nos desgoverna e coloca o país na vereda da indigência mais abjecta. Afinal para quem tinha tantas soluções para o país parece não ter nenhuma e nem sabe bem o que anda a fazer. Há quem vá falando, entretanto, num novo resgate. Não nos surpreenderia tal, visto que, as coisas a continuarem como estão e com a tendência para se agravar, não deixará de ser necessário. Perante este governo sem política, sem ideias, incapaz de resolver os problemas mais básicos para além da austeridade que se assume como uma cultura, não deixa de ser surpreendente o que dizem as sondagens. É incompreensível que, quem tanto se lamenta no dia-a-dia, depois vá ver o seu lamento esbatido nas intenções de voto que continuam a dar a maioria ao governo. Afinal em que é que ficamos? Ou somos masoquistas, ou loucos, visto não haver espaço para mais. Como nos vem à memória as palavras de Miguel Torga: "Somos um povo de revolucionários pacíficos"! Nem mais! Pensamos que a isso se chama mais de masoquismo, de auto-flagelação, dentro da sina lusitana do "fado" que perpassa pelos quase oito séculos de História que levamos. Entretanto, na França as eleições parecem querer dar sinais de mudança. Se isso se vier a verificar, e se Sarkozy as perder, veremos o que será a "nova" Europa, sem o "par romântico" do directório franco-alemão. E que consequências daí advirão para o nosso país.
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