Turma Formadores Certform 66

Thursday, April 18, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 248


Temos vindo a assistir nos últimos dias à maior encenação política digna dum qualquer filme de Hollywood. O governo que sempre ostracizou a oposição, nomeadamente o PS, faz uma inflexão digna de contorcionista, e chama o PS para conversações. Que terá acontecido para que esta inflexão tivesse ocorrido? Quando o governo afirmou por várias vezes que avançaria com o acordo ou sem o acordo do PS então porquê esta atitude? Não será difícil de compreender que por trás disto esteja a mão da "troika" que percebe que vai haver necessidade de implementar políticas que vão muito para além da legislatura e por isso necessitam do comprometimento do PS. Só assim se compreende tamanha acrobacia vinda dum governo que se tem mantido autista perante a oposição e perante o país. Com isto, para além de Passos Coelho ficar entalado, ele fica ainda pressionado, desde logo, pela "troika", depois pelo Presidente da República que, desde a Colômbia, não deixou de saudar a atitude e, depois, pelo seu parceiro de governo que no último fim-de-semana não deixou de lançar mais umas farpas. É certo que, também António José Seguro não fica em melhor posição. Com um congresso à porta, não quererá deixar transparecer que está disponível para um acordo. Mas, como disse ontem Seguro, "não houve nada de novo da reunião com o governo e com a "troika"", mas temos a firme convicção de que nada ficou como dantes. A necessidade dum consenso é já assumida por muitos, mesmo por figuras que nada têm a ver com o executivo. Sem ela, dificilmente a "troika" libertará qualquer ajuda e a sétima avaliação ainda não está fechada ao que nos parece face ao comunicado da "troika" emitido hoje desde Bruxelas. Mas, e apesar disso, temos muita dificuldade em acreditar que tal seja possível com Passos Coelho à frente do executivo. Com outro governo, mesmo que desta maioria, mas sem Passos Coelho, pensamos que tudo seria mais fácil. Com um primeiro-ministro casmurro, arrogante, que se acha detentor da verdade absoluta, com um projeto ultra-liberal como programa político, pensamos que dificilmente tal consenso apareça sem que o PS perca a face. Foi curioso ouvir hoje o novo ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro que, na sua primeira aparição repetiu até à exaustão o termo "consenso". (Se para alguma coisa serviu esta "remodelação" talvez tenha sido a de criar condições de maior abertura intelectual a um governo pouco inteligente). Mas também não deixou de ser estranho que nenhum ministro do CDS/PP estivesse presente nessa conferência de imprensa. É certo que como ontem afirmou Seguro "o governo só apela ao PS quando tem um problema" e, estamos certos que o problema é enorme e que a pressão da "troika" que começa a falar mais grosso com o executivo, não foi a menor das razões. Nesta embrulhada em que o governo nos meteu parece que estaremos perante grandes decisões a curto prazo. E elas têm que aparecer. Portugal está cada vez mais à beira da bancarrota - bem pior do que Sócrates deixou o país por mais que desagrade a muitos - e que o autismo do executivo só veio a potenciar. O desfasamento entre o orçamento e a execução fiscal é cada vez mais evidente, e o "gap" que daí deriva (por estimativa) pode levar a um aumento de impostos (embora o PM tenha negado tal!) nomeadamente o IVA. Aquilo que era a solução que o PSD tinha para em dois meses debelar a crise, afinal tornou-se num buraco negro cujas consequências ainda estamos longe de perceber. Este ajuste demorará uma geração - já aqui o defendemos por variegadas vezes - e agora Vítor Gaspar acabou por vir, há dias, confirmar esta nossa asserção. Daí que esta longa noite em que fomos mergulhados ainda esteja para durar e não sabemos bem quando um sol radioso fará a sua aparição. Até lá, continuaremos a assistir a estes contorcionismos circenses a que o desespero político inevitavelmente conduz.

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