Turma Formadores Certform 66

Tuesday, July 02, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 263


A semana começa com uma surpresa ou talvez não. Vítor Gaspar demitiu-se de ministro das finanças. Assume o fracasso das suas políticas - o que só lhe fica bem - mas diz também que não tem condições para continuar. Já há muito se falava sobre esta possibilidade que foi crescendo nos últimos dias. Hoje sabemos que tivemos um ministro das finanças demissionário durante oito meses e que só ao terceiro pedido para sair este foi aceite por Passos Coelho! O que não deixa de ser estranho. Com que vigor Gaspar poderia fazer orçamentos retificativos, negociar com a “troika” ou representar Portugal no exterior quando se sabia a prazo? (Sem pôr em causa o profissionalismo do ministro como é óbvio). Isto vem demonstrar aquilo que já por aqui vimos afirmando há muito tempo, a saber, que este governo está sem rumo e sem liderança apenas mantido pelo Presidente da República - que é da mesma tendência política - numa teimosia que ninguém compreende apesar das anotações mais ou menos esfarrapadas que lança nos media. Mas quando se está em lenta agonia, como parece ser o caso deste governo, já nada se espera de razoável. A substituição de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque – que está envolta em acesa polémica por causa dos "swaps" - diz bem do desnorte de que, por variadas vezes, já aqui fizemos eco. Substituir um ministro por um secretário de Estado é sempre polémico e trás constrangimentos até ao nível do relacionamento, mas quando o novo ministro está envolto em polémica ainda antes de o ser é, no mínimo, grave. Não está em causa a figura ou a competência da antiga secretária de Estado do tesouro, nem sequer a sua envolvência no caso dos "swaps" - e sobre este assunto temos uma leitura bem diferente da voz corrente como já tivemos oportunidade de assinalar neste espaço - mas dá um sinal de que Maria Luís foi uma segunda, terceira ou quarta escolha. No limite até se pode pensar que Passos Coelho convidou várias personalidades e que nenhuma aceitou, o que coloca o governo ainda em maior fragilidade. No entretanto, sabe-se que a “troika” já não acredita nas reformas e na força política do governo para as levar a cabo. A mesma “troika” que aplica a receita tipo a todos os países sem se preocupar com as especificidades de cada um, conduzindo os países para a vereda da miséria e do esgotamento, como está a acontecer a Portugal! Neste emaranhado de confusões, em que os conflitos internos do mesmo não são coisa menor, só a clarificação da situação política nos parece atitude sensata, e para isso só resta devolver a palavra ao povo. A saída de Gaspar - o ministro mais forte do executivo, o número dois - diz bem do nível de desagregação deste. Mas na hora da despedida, Gaspar quis deixar uma carta para memória futura. (Que podem ler no link http://downloads.expresso.pt/expressoonline/PDF/carta%2001072013.pdf ). Nela Gaspar assume os seus erros, como atrás já fizemos referência,  mas vai mais longe, dizendo da falta de condições e até da autoridade que não lhe foi dada - sobretudo na 7ª avaliação da "troika", avaliação complicada e nunca cabalmente explicada - mas põe a nu as fragilidades e os desentendimentos dentro do próprio governo. Assumimos aqui a nossa visão diferente da de Gaspar, vítima da sua visão ideológica ultraliberal, mas não queremos aqui deixar de sublinhar o desassombro dum texto que é esclarecedor sobre muitas coisas. Apenas nos fica a bailar na mente uma singela questão: porque foi divulgada publicamente esta carta? Já muitos ministros se demitiram e nunca as suas cartas foram divulgadas. Porquê esta e neste momento? Mais uma nublosa das muitas que povoam este executivo.

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