Turma Formadores Certform 66

Monday, July 08, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 266

Depois duma semana truculenta acabamos por compreender o porquê da saída de Gaspar. Embora na sua carta de demissão muita coisa fosse dita nas entrelinhas, a verdadeira razão prende-se com aquilo que o jornal espanhol El País publica hoje e que faz manchete nos media nacionais. Bruxelas está a preparar um segundo resgate a Portugal sem o FMI, um resgate que, a acreditar na notícia, será mais "soft" do que o anterior. Seja como for, a inevitabilidade dum segundo resgate, bem como, a renegociação da dívida, eram duas linhas de força que há vários meses vimos dizendo, neste e noutros espaços, que eram inevitáveis face aos dados disponíveis. Um segundo resgate vem afinal dizer que a política de austeridade "custe o que custar" falhou rotundamente. Quando se quis ir para além do "memorandum" não se sabia o que se estava a dizer, e o desconhecimento do país era evidente. Hoje estamos chegados ao fim da linha. Se se percebe a saída de Gaspar, compreende-se a nomeação de Maria Luís Albuquerque, para que dê sinais à UE de que a linha será mantida. Não sabemos se o nome foi imposto por Bruxelas, mas a sê-lo não nos causaria grande admiração. A saída de Portas essa é mais estranha. Todos sabemos que Portas é um político em quem não se pode confiar, onde os interesses pessoais, normalmente mesquinhos, se sobrepõem a tudo. Mas também pode ter sido um "fait-divers" para dar a ideia que não tem nada a ver com o que aconteceu até aqui, e muito menos, com aquilo que está para acontecer no futuro próximo. Pura ilusão. Só se deixará enganar quem andar distraído. Portas e o CDS é tão responsável por estas políticas e por este falhanço quanto o é Passos Coelho e o PSD. Que não se tenham ilusões quanto a isto. Assim, iremos assistir nos tempos mais próximos a um discurso de justificação do injustificável para preparar terreno para o segundo resgate, que virá, talvez, embrulhado numa outra coisa qualquer para que o cidadão comum não dê pelo embuste. Um colossal embuste que significa que este governo falhou na sua política, que este governo é responsável por levar o país para a bancarrota, - agora sim -, que este governo é responsável pela delapidação dos bens públicos vendidos a preço de saldo para justificar esta política ultraliberal de destruição do estado social. Agora a máscara caiu duma forma tão evidente que até os mais distraídos começam a perceber. Portugal está a ser arrastado para o abismo por políticos impreparados e irresponsáveis, a quem mais interessam as benesses pessoais - veja-se o caso de Portas - do que o bem do país. O Presidente da República continua com a encenação de ouvir os partidos para depois tomar a decisão. Decisão já tomada pela colagem que Cavaco tem feito a este governo duma forma despudorada. Este "circo político" - para usar a expressão dum media russo - que se vive em Portugal está a dar a verdadeira imagem do que é o ultraliberalismo na Europa e o que dele se pode esperar. Um país destruído, um desemprego sem precedentes, uma dívida impagável. Este é o cenário de terra queimada que nos está a ser legado. "Os riscos e os desafios dos próximos tempos são enormes" avisava Gaspar na sua carta de demissão. Agora estamos a perceber o que ele queria dizer. Quanto à "irreversibilidade" de Portas nem é bom falar... O discurso que era para fazer conjuntamente com o primeiro-ministro e não foi feito é apenas mais um episódio que degrada a política à portuguesa. Quanto ao resto... o abismo segue dentro de momentos!...

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