Turma Formadores Certform 66

Wednesday, July 03, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 264


Ontem foi um dia em cheio! Depois de Gaspar bater a porta com estrondo e ter divulgado a carta de demissão onde arrasa o governo e o PM, foi a vez de Portas lhe seguir os passos. Na génese de tudo isto parece estar a nomeação da nova ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque. Dizemos, parece, porque o PM dá uma outra versão dos factos. O que temos como certo é que ontem assistimos a um espetáculo degradante, tragicómico qual libreto de opereta da moda. Portas diz que apresentou a demissão de manhã, o PR à tarde parece que não sabia de nada, até achava que uma qualquer situação de conflito deveria ser dirimida entre os partidos e ele nada teria a ver com o caso, contudo, o que temos como certo é que Portas se demitiu meia-hora antes da tomada de posse da nova ministra, a tal que, segundo Passos Coelho tivera o acordo de Portas no sábado passado, embora este – Portas – diga que é esse o pomo de discórdia. Quanto a Cavaco, o tal que nunca se engana e raramente tem dúvidas, parece que se enganou desta vez ao deixar passar a nomeação de Maria Luís sem avaliar as consequências políticas do ato. (Esta viria a ser nomeada numa cerimónia grotesca - sem a presente de nenhum elemento do CDS/PP - cerimónia essa com sabor tragicómico!) De toda esta confusão que foi transparecendo pelas televisões, foi resumida duma forma subliminar por Pedro Marques Lopes – jornalista e simpatizante do PSD – que a classificou de “um bando de irresponsáveis”! Agora que resta deste governo esfarrapado, a cair de podre? Nada. Quanto a todos nós vai ficar o agravar duma situação já de si difícil, onde tudo dependerá, e cada vez mais, daquilo que a Europa quiser fazer. Por cá, apenas vemos os ratos a abandonar o barco o mais depressa possível, até aqueles que foram mentores do governo, como o ex-dirigente do PSD, Nogueira Leite, que ontem afirmava que “os portugueses devem julgá-lo – ao governo – com severidade”! Quem os viu e quem os vê na hora da debandada. No entretanto, e enquanto este espetáculo digno duma república de bananas passava em frente aos nossos olhos, a dívida agravou-se pelo facto simples da reação dos mercados face à demissão de Portas. Os juros aumentaram 30 pontos em apenas 15 minutos! (Já vinham a aumentar paulatinamente face aos rumores que já iam surgindo aqui e ali sobre a crise profunda do governo). Ontem ouvimos de tudo. Havia quem chamasse a Passos Coelho impreparado, incompetente e outros mimos do género. Só foi pena que o tivessem visto tão tarde. Já por diversas vezes tínhamos apontado nesta direção porque era por demais evidente que quando se chega a PM da forma que Passos chegou, nada de bom se pode auspiciar. O lamentável em tudo isto, como ontem alguém afirmou, é que o PSD tenha gerado dois PM do género Santana Lopes e Passos Coelho. Uma geração de políticos sem escola, sem saber o que andam a fazer, apenas com a sede de poder. Santana era conhecido pelas famosas “santanetes”, Passos é conhecido pela incapacidade de liderar. Não temos PM, como nunca tivemos PM desde o momento de posse deste governo. Os ministros não se falam, ao que se sabe, o mal-estar é latente, ninguém consegue agregar esta massa informe de gente que é paga por todos nós. Face a tudo isto, apenas temos uma certeza, o país está mais pobre, mais acossado, a eminência dum segundo resgate é cada vez mais uma realidade, o caminharmos em direção à Grécia é cada vez mais o nosso desígnio. Depois de todos estes sacrifícios que nos foram vendidos como a nossa redenção por um PM que dizia que queria ir para além da “troika” sem saber sequer do que falava, apenas a devolução da palavra ao povo parece ser o rumo mais acertado. Provavelmente não se irá resolver grande coisa porque venha quem vier será confrontado com uma realidade avassaladora. Dois anos depois da sua tomada de posse, este governo deixa um país bem pior do que aquele que encontrou, por mais que o queiram negar. Os portugueses devem ter isso em consideração quando forem chamados a escolher um novo executivo. Errar é humano, errar outra vez, já será bem mais difícil de compreender. Quanto a Cavaco murado no interior do seu palácio deve estar aflito sem saber o que fazer e, sobretudo, sem querer que qualquer ónus lhe possa ser atribuído. Mas disso não se livrará depois de se ter colado ao governo e ao discurso deste, duma forma vergonhosa como nunca tínhamos assistido em democracia. Sempre aqui afirmamos que Cavaco era um presidente de fação e aqui o reafirmamos. O capital político por ele granjeado ao longo dos anos, tem sido desbaratado nestes anos de presidência. Cavaco ficará para a História como a imagem dum político incompetente que não soube ler os sinais que a realidade lhe ia transmitindo, assumindo o patrocínio dum governo desgovernado apenas e só porque era da sua força política. Quando ontem ele dizia que o PR não demitia governos, seria bom lembrar a ligeireza com que dois anos antes demitiu Sócrates. A ânsia do poder pelo PSD era imensa quando rejeitou o PEC IV numa estranha coligação que ia até à extrema-esquerda. Era o sonho que a direita tinha de ter uma maioria, um governo, um presidente. Consegui-o nessa altura, o preço que todos estamos a pagar por isso é evidente. Está na hora de, como afirmava o poeta, dizer não, a esta ópera bufa de gosto mais do que duvidoso!

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