Equivocos da democracia portuguesa - 279
Durante a semana passada viemos a conhecer mais alguns elementos divulgados pelo INE e pela Comissão de Orçamento. Deles se pode concluir o óbvio. Mais défice, mais dívida, mais desemprego. E quando alguns destes dados parecem mais favoráveis, logo se conclui que estamos numa época de Verão e alguns destes elementos vêm influenciados pela sazonalidade que todos os anos se repete, como é o caso do desemprego. E mesmo que o governo se agarre a alguns "pozinhos" de melhoria, uma análise mais cuidada e comparada com o período homólogo logo deita por terra esse discurso otimista. Não o dizemos com nenhum sentimento de regozijo porque todos nós seremos as vítimas da não recuperação desta malfada crise que não nos larga. Tudo isto fruto de políticas desajustadas que não prometem o vislumbre da esperança por mais que a tentemos enxergar. Se a isso juntarmos a trapalhada dos "swaps" cujos documentos parecem ter sido destruídos (!), se juntarmos um discurso do PM carregado de promessas - mais promessas - que todos sabemos que não se concretizarão, se ainda por cima olharmos para este país a arder que perde muitas das suas riquezas todos os anos, num ciclo infernal de onde parece que também não conseguimos nos libertar, é caso para dizer que mais nos irá acontecer!? Não parece razoável que se tente criar expectativas nos portugueses - obviamente falsas - de que o oásis está aqui tão perto. Não é assim. Isto é fruto duma ideologia ultraliberal que tomou conta de Portugal como já tinha tomado conta da Europa. Os resultados estão à vista e não só em Portugal. As medidas nunca chegam, são sempre precisas mais e mais duras, numa espiral que leva ao empobrecimento dos povos e ao realinhamento por baixo da sociedade. Esse é o caminho que o ultraliberalismo traçou - afinal é inerente à sua própria ideologia - que fez escola nos EUA nos anos 70 do século passado e que teve como campo de experimentação a América Latina, especialmente o Brasil, Argentina e Chile, com as consequências que muitos de nós se lembrarão. E só quando colocaram de lado essa estratégia é que os povos conseguiram erguer-se de novo. Por isso, é que defendemos que não basta Portugal alterar a política - embora isso já fosse importante - mas será necessário que a Europa siga noutra direção, caso contrário, tudo mudará para que tudo fique na mesma. Esta ideologia também foi a que foi lançada por um consultor famoso do governo e que ontem tivemos a notícia do seu falecimento. Chamava-se António Borges. Não somos dos acham que quando alguém morre passou a ser uma boa pessoa, mas também, não seguimos o modelo de perpetuar e estigmatizar a memória de alguém depois da sua morte. António Borges foi responsável como consultor, mas não foi/é o único. António Borges foi, apesar de tudo, um brilhante economista que chegou a ser nomeado número dois do FMI por Dominique Strauss-Kahn. Afinal nunca escondeu ao que vinha. Era um homem de direita. Era um liberal assumido que defendia com vigor as suas convicções. Tivemos o prazer de o conhecer em vida e de assumirmos publicamente as nossas divergências com a ideologia que ele defendia em algumas conferências em que participamos. Mas isso não significa que nesta hora não o reconheçamos como um economista de valor e um dos mais brilhantes da sua geração. E mesmo para aqueles que acham que se deve estigmatizar o seu nome, não esqueçamos que a política defendida por um consultor pode ou não ser seguida por um governo. E isso já não é culpa do consultor mas do governo que afinal pensa da mesma maneira e a quem cabe a decisão final das políticas. Por isso não confundamos as coisas.
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