Equivocos da democracia portuguesa - 291
A um dia da apresentação do OE 2014, o governo continua a embrulhar-se em polémicas estéreis. Desta feita foi o corte das pensões aos pensionistas e reformados. Nesta imensa trapalhada que se criou onde, ao que parece, houve uma fuga cirúrgica de alguém do ministério das finanças, levou a que Portas dissesse que vinha ontem repor a verdade. Não sabemos se houve ou não essa fuga cirúrgica, mas a ter existido, só vem demonstrar que afinal o que estava mal, mal continua, a desconfiança entre os partidos da coligação já é insanável, a relação Porta / Maria Luís está à beira dum ataque de nervos. Ontem, Portas veio repor a sua verdade - será que é a verdade do governo? - sobre o corte nas pensões. Se era assim como diz Portas, o corte só atingirá os valores acima das pensões cumulativas que perfaçam 2000 euros, é caso para perguntar, sendo assim, porque Portas ocultou a informação na conferência de imprensa na semana passada que já estava assinada com a "troika"? "Porque a medida não estava ainda totalmente desenhada" apressou-se o líder centrista a afirmar. Mas quando disse que não haveria mais austeridade, terá falado verdade aos portugueses? É obvio que não! Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa afirmava que "o governo andou atrás dum número (que fosse o teto) para esta medida". Pensamos que, de facto, foi mesmo isso que aconteceu. Depois desta trapalhada como será na apresentação do OE 2014, amanhã? Estas confusões no governo, a sua crónica desarticulação, o falar a várias vozes já todos estamos habituado. Mas parece que dentro do próprio executivo se assiste a uma batalha campal, onde os cortes cegos, feitos a esmo, apenas e só para agradar à "troika" que continua a sacar tudo até ao tutano, leva muitas vozes de peso a tomarem posição. Mário Soares já não exista nas palavras e chama-lhes um "governo de delinquentes". Marques Mendes não tem qualquer rebuço em trata-los como um "governo de adolescentes". Jorge Sampaio clama a um "assomo patriótico" contra este executivo que se esconde através do Tribunal Constitucional para justificar os seus falhanços e as suas insanáveis divisões. Não poupando a Comissão Europeia (Durão Barroso), nem o FMI (Christine Lagarde), pelos ataques que fizeram a este órgão de soberania. É uma clara ingerência na política interna dum Estado, e por isso, inaceitável. É nesta embrulhada que aguardamos a apresentação do OE 2014, amanhã na Assembleia da República. Mas com estas nuvens negras no horizonte é de esperar forte tempestade que por aí se aproxima. E, no entretanto, a descrença nos partidos não para de crescer, a desconfiança nos políticos é um dado cada vez mais evidente, o perigo para a democracia começa a ser preocupante porque não existe democracia sem partidos por mais voltas que lhe dermos. A vitória da Frente Nacional (partido de extrema-direita) que ontem se verificou numa região francesa, pode bem servir-nos de alerta. A extrema-direita está a cavalgar a onda de descontentamento que grassa pela Europa fora e isso é grave. Os políticos têm que olhar, sem tibiezas, para esta situação e concorrer para a mudança deste estado de coisas. Caso contrário, o doente pode bem acabar por morrer da medicação que lhe foi ministrada para o curar. Sinais de alerta que nos devem preocupar a todos, nestes dias de ira e descontentamento, que são os nossos.
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