Equivocos da democracia portuguesa - 290
Ontem assistimos à apresentação dum novo programa com um novo formato, - novo entre nós mas já muito utilizado em muitas cadeias televisivas mundiais. Trata-se do programa, "O País Pergunta" e teve lugar no canal 1 da RTP. Nesse programa é dada a oportunidade a um grupo de portugueses de questionarem uma figura pública convidada sobre matéria relevante. O primeiro convidado foi Passos Coelho, o primeiro-ministro de Portugal. Quando se esperava que as perguntas fossem acutilantes no sentido de esmiuçar os problemas da governação que tanto nos tem condicionado e afligido, assistimos a algo insólito. As pessoas que tinham direito a fazerem perguntas parece que se sentiram amedrontadas com o momento - ou com a figura - e aquilo que poderia e deveria ter sido um debate interessante e esclarecedor tornou-se num marasmo que se arrastou por cerca de duas horas. E aqui é que está a nossa perplexidade. Com tantos problemas, com tantas angústias, com tantos insultos até à governação e ao seu rosto não percebemos a apatia das pessoas perante uma situação de confrontação direta. Isso mostra bem um certo acobardamento das populações, mas também uma falta de formação intelectual mesmo daqueles que, embora apresentando graus académicos relevantes, ficaram muito aquém daquilo que deles se esperava. Isto só confirma aquilo que todos já sabemos, que um povo inculto, um povo amorfo é sempre muito fácil de conduzir, talvez por isso, a degradação do ensino a que assistimos esteja em linha com esta estratégia. Se estivéssemos na pele do primeiro-ministro teríamos saído dali com um grande sorriso pela bacoquice do debate e das questões. (Veja-se os comentários hoje dos apoiantes da governação!). Passos Coelho passeou a sua argumentação sem oposição sem ser verdadeiramente confrontado com as questões que podem e vão condicionar a nossa vida futura. Afinal até damos razão a Passos Coelho que tem um desprezo claro pelas manifestações de desagrado dos portugueses porque sabe que quando chega a hora do confronto todos se acobardam num misto de medo e de ignorância da causa pública que é de facto confrangedor. Daí que pensemos que todas estas manifestações de desagrado que por aí andam são apenas um "fait-divers" para entreter as pessoas e dar protagonismo aos sindicatos, porque afinal está tudo bem, as paredes nunca jorraram tanto leite e mel como agora, e assim, qualquer tentativa de crítica às políticas seguidas são inconsequentes. Isto diz bem do povo que somos, povo cobarde que joga rasteiro, na trica e no ataque soez, bem dentro daquilo que Eça de Queiroz, escrevia do já longínquo século XIX. Este debate foi frustrante até pelo que já vimos acontecer noutros países com programas similares. Esta é a diferença entre os povos mais evoluídos e os outros. Daí não se estranhar a miséria do país que somos, desafortunado e desesperançado. Está no nosso gene o sermos um povo submisso e isso sempre foi bem explorado pelas tiranias com que fomos brindados ao longo da nossa longa História. Agora e depois disto, carece de fundamento as críticas que se façam, os arrazoados contra este ou aquele, ou contra esta ou aquela política. Os povos têm os dirigentes que merecem. E nós não fugimos à exceção temos aquilo que merecemos...
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