Turma Formadores Certform 66

Friday, October 04, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 288

Ontem fomos brindados com uma conferência do governo cujo móbil era o de dar notícia do que tinha acontecido na reunião com a "troika". A conferência durou cerca de duas horas e meia e o mais interessante nisto tudo foi que durante esse tempo o executivo falou muito - oito perguntas a cada membro do governo - e nada disse. Para além do uso da palavra "extraordinário", o que, de facto, foi extraordinário foi o nada ficarmos a saber do que por aí vem, para além de sabermos que se passou a oitava e nona avaliações e que a "troika" não cedeu nas pretensões do executivo quanto ao alargamento do défice. A única coisa positiva terá sido a eliminação da chamada "TSU dos pensionistas" embora nada nos foi dito sobre como se vai compensar esta medida que terá que ser feita. Quanto ao resto apenas o saberemos no dia 15 quando for apresentado na AR o OE 2014. Quando se diz que não haverá mais austeridade, estamos a lavrar numa falácia, porque sem ela não se conseguirá implementar o programa. Aliás, os noticiários de hoje, já vão dizendo que a austeridade se manterá para 2014, coisa que era de fácil entendimento face ao comportamento do país nos últimos tempos. Quando se afirmou que não haveria aumento de impostos, estamos perante uma outra ilusão, porque podem não existir duma forma direta, mas enviesada pela diminuição dos benefícios fiscais, que vai dar ao mesmo. Mas a nossa dúvida existencial é outra. Se a "troika" insiste que se cortem quatro mil milhões de euros, como é possível atingir tal meta sem que exista o recurso a mais restrições? O que ficou disto tudo é que a dívida vai continuar a aumentar e o desemprego também. (E este que já é elevadíssimo apenas não o é mais porque muitos já viram que só a emigração lhes resta). Sobretudo numa economia que está virada para o apoio às instituições financeiras? Sabemos da importância destas para o arranque da economia mas temos dúvidas que seja só este setor a fazê-lo até pelo histórico recente. Com esta situação e com os juros ao nível que estão como será possível pagar a dívida? A resposta é simples, não conseguimos. E não nos importamos de correr o risco de que nos chamem de "masoquistas"! Sabemos que estamos bem acompanhados neste grupo - desde logo com Silva Lopes ou Carlos Costa, apenas para citar dois nacionais - e até poderíamos alargar este grupo a alguns analistas internacionais como é o caso do conselheiro de Bush, o economista Robert Kahn, que afirmou: "A dívida pública portuguesa é insustentável e vai precisar de uma considerável reestruturação". (Mais um masoquista!). Até o próprio Cavaco Silva já pertenceu a este grupo - vejam as declarações que fez na mensagem de Ano Novo em Janeiro último - e que agora contradiz. Nada de mais natural. Afinal estamos perante uma pessoa "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". Nós assumimos - e não é com agrado que o fazemos - que do modo como as coisas estão a correr a nossa dívida é, de facto, insustentável. A menos que tudo passe a correr bem, melhor dizendo, muito bem! E isso implica, desde logo, o que irá acontecer nos outros países de quem dependemos, numa Europa envelhecida e, embora em recuperação lenta, é detentora de economias decadentes. A situação de "shutdown" nos EUA só vem agravar a situação, embora tal não seja visível no imediato, o seu impacto acontecerá mais tarde como é normal nas economias globalizadas. A ilusão que nos querem vender é de tal monta, que ninguém gosta de falar que a dívida (efetiva, bruta) vai representar 127,4% do PIB este ano  (mais 5% do que estava estimada no memorando da "troika") - bem longe dos  cerca de 90% que o governo anterior lhes legou! - e que mostra bem o descalabro que esta política ultraliberal tem produzido  no país. Se depois deste vender de ilusões ainda nos chamam de "masoquistas", pois que chamem. Estamos convictos de que as coisas não estão a correr bem e que o futuro é cada vez mais incerto. Há analistas que falam numa perturbação das economias nos próximos quatro anos, e então, por que cargas de água em Portugal será diferente? É altura de falarmos claro, e não embandeirar em arco com pequenas vitórias, que são isso mesmo, pequenas e nada de significativo trazem para o nosso futuro.

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