Turma Formadores Certform 66

Friday, September 13, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 281

Estamos a poucos dias do início da campanha para as eleições autárquicas, embora com a pré-campanha já em curso, até parece que ela já começou. Mas esta campanha, para além das habituais promessas, atos de contrição, insultos e quejandos, tem um suplemento adicional que pode baralhar as contas dos diversos partidos. Trata-se dum elevado número de candidaturas independentes a que não se estava habituado a ver entre nós. Se algumas são, de facto, independentes, outras não são mais do que tentativas de alguns políticos se perpetuarem no poder por mais uns anos, nem que para isso se tenham de desfiliar dos seus partidos, até arrazoar contra eles. Nestas coisas da política como noutras na vida, a sobrevivência é mais importante do que as ideias, sobretudo, quando estes políticos profissionais nada mais sabem fazer do que política e quanto a ideia ou ideologias nem é bom falar como se vê. Se os partidos não os recandidataram então eles vão à luta com outras armas. E isso pode baralhar, e de certo irá acontecer, as contas dos partidos que de um dia para o outro não só têm que se combater entre si, como até alguns que eram seus correligionários num passado recente. Mas mesmo nestes candidatos independentes - estou a referir-me àqueles que renegaram os seus partidos nestas eleições - já nada importa. Até agora lutavam pela sua terra, donde eram oriundos, neste momento lutam pelo poder em terras que lhes são estranhas, e que mal conhecem, apenas e só porque querem manter-se na política. E isso será um verdadeiro teste à democracia que nunca entre nós se viu testada desta forma. Depois de quase quatro décadas duma democracia formal e enquadrada pelos partidos, parte-se agora para um outro tipo de democracia onde a ação cívica, a cidadania, tem um peso maior. É certo que a independência de grande parte dos candidatos vale o que vale, mas até a intervenção cívica dum grupo de cidadãos conhecidos como a "revolução branca" e que tanta perturbação causou nos últimos tempos, também são um sinal de que algo está a mudar. A lei de delimitações dos mandatos, que deveria ser um verdadeiro tampão a estas situações, afinal é como se não existisse, depois das decisões do Tribunal Constitucional. Mas seja como for, temos a sensação que as coisas estão a tomar outro rumo, face a partidos desacreditados, a um exercício do mandato político não tanto como uma comissão de serviços, mas como um "arranjinho" até à reforma, uma espécie de emprego para quem não sabe, ou não quer, fazer mais nada. Mas algo ficará diferente depois de tudo isto, e o nervosismo nos partidos é evidente, sejam quais forem as suas zonas de influência. No dia 29 deste mês saberemos o que aconteceu e como os partidos vão gerir a situação. Até lá, a campanha está na rua. Anda por aí embora duma forma menos mediatizada do que o habitual pelas questões levantadas pela Comissão Nacional de Eleições. Até isso será algo de novo neste teste à democracia. Contudo, isto pode ser a autonomia da democracia face a uma cidadania mais interventiva ou apenas algo que simplesmente muda para que tudo fique na mesma como é habitual entre nós.

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