Homenagem aos heróis anónimos
Um novo mês se inicia marcado
pela tragédia que ciclicamente mergulha Portugal no caos. Estou a referir-me à
praga dos incêndios que aparece por efeito do clima mas também de mão criminosa
que todos os anos enluta o nosso país. Este ano a situação tem sido
verdadeiramente caótica, sobretudo o mês anterior, onde já morreram cinco
bombeiros que, por acidente ou por maior voluntarismo, acabaram por ser
colhidos pelo fogo. Ainda alguns estão nos hospitais e um número significativo
deles estão em estado considerado muito grave. Não sabemos se deste grupo
sairão mais alguns para engrossar o grupo dos muitos, que este ano, já deram a
vida pelo bem dos outros. As populações que clamam por eles são muitas vezes
responsáveis por tal situação. É o abandono da floresta, é a falta de limpeza
das matas, é o deixar que a vegetação quase que lhes entre pela porta adentro.
Mas o Estado também aqui tem uma responsabilidade muito grande. Perante algumas
afirmações surgidas nos media, o governo veio na semana passada justificar-se
dizendo que apenas possui cerca de 2% da floresta. Não sei se é assim ou não,
mas tomando como certa a afirmação e pelo que tenho vista nas imagens que as
televisões fazem chegar até nós, mesmo esses 2% não servem de exemplo para
ninguém. E assim sendo, como é que o Estado pode exigir dos particulares a
limpeza das matas quando o exemplo que dele se colhe é precisamente o
contrário? Quanto às ignições que todos os anos se verificam, certamente que
muitas serão por condições climatéricas, outras por negligência mas, um cada
vez maior número, parece ter origem em mão criminosa. Confesso que isso sempre
me causou muita incompreensão. No tempo do Estado Novo também as havia e
dizia-se então que eram aqueles que eram contra o regime. Em democracia
falava-se então nos madeireiros, depois nos negócios ligados ao imobiliário e
agora, pasme-se, cada vez mais se fala em vingança. Afinal que gente é esta que
ateia incêndios. Nem tudo pode ser justificado por alcoolismo ou perturbações
mentais, porque se assim o for, por mais que as autoridades façam, eles
acabarão por sair em liberdade logo de seguida para continuarem a sua senda
destruidora. Tenho por certo, talvez erradamente, que a falta de meios e a
formação não são as mais eficientes e necessárias. Num período de crise como o
que se está a verificar, onde todos os meios são sacrificados no altar do
défice e da dívida, será natural que muitos dos recursos sejam canalisados para
outros fins que não o de apetrechar as corporações de bombeiros. A formação
parece também ser uma pecha a que se deve dar atenção. Não sei se estou a ver
corretamente o problema, mas tanto quanto sei, os bombeiros falecidos são todos
voluntários, o que significa que os outros que são profissionais terão ao seus
dispor outros meios e outra aprendizagem. Não sei sequer se estou a ser justo
quando faço esta apreciação, mas é aquilo que me parece correto face ao que
vejo. Penso que agora não será altura para recriminações, para aproveitamentos
políticos, cuja tentação será fácil, mas sobretudo, será um tempo de juntar
esforços para debelar esta situação que estamos a viver. Mas depois, quando
tudo isto terminar, penso que será necessário fazer um balanço cuidado e tirar
as respetivas ilações. Tenho ouvido muitas críticas dos bombeiros, não sei se são
justas. Haverá o tempo para que tudo isso seja analisado. Agora é apenas o
tempo de cerrar fileiras e prestar uma homenagem sentida a estes heróis
anónimos que, a troco de quase nada, dão a vida para que a vida de outros se
salvem. Será justo um obrigado sincero a todos eles pelo que têm feito, e
àqueles que já não estão entre nós, será necessário mais do que um obrigado.
Eles deram aquilo que de mais precioso tinham que eram as suas próprias vidas.
O Estado, e porque não todos nós, mesmo em tempo de restrições, não possamos,
diria melhor, não devamos fazer um pouco mais pela sua memória e pelas famílias
que deixaram para trás. Um obrigado sincero e público, não tardio e timorato
como aquele que se viu das autoridades portuguesas que só o fizeram depois de
muito alarido mediático. Obrigado a todos pelo que sois, obrigado a todos pelo
que fazeis. Sois os melhores de nós todos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home