Turma Formadores Certform 66

Wednesday, August 28, 2013

Göethe, Luther King e a crise!

"Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler um livro, admirar um quadro e, se possível, dizer alguma coisa sensata" afirmava o poeta alemão von Göethe que hoje comemora mais um aniversário. E é de facto de coisas sensatas que precisamos. Sabemos das dificuldades que assolam o país, sabemos das angústias que povoam a mente de muitos portugueses. Portugueses que não vendo saída no seu país, acabam por rumar a outras paragens. Normalmente jovens e qualificados, uma emigração bem mais preparada do que aquela que assolou o nosso país nos anos 60 do século passado. Gente jovem, o sangue novo dum Portugal a renovar, que vê assim essa renovação adiada sabe-se lá por quanto tempo. Gente desesperada que deixa para trás aquilo que mais lhes é querido, o país e a família, apenas e só porque não vislumbram um futuro nos tempos mais próximos. Se deste lado, o das populações este é o sentimento, do outro, do lado político parece que tudo corre bem. Ontem ouvimos um membro do governo afirmar que "Portugal vai crescer, não pensem que viveremos sempre em recessão". Claro que sim, essa é uma verdade absoluta à maneira de M. de la Palisse. Em sociedades de economia de mercado, dentro do modelo capitalista, todos sabemos que este modelo evolui em ciclo ondulatório, isto é, a seguir a uma expansão vem uma recessão, a que se seguirá um novo ciclo de expansão. Esta é uma verdade que tem muitos séculos e que foi muito estudada e detalhada por economistas como Adam Smith e David Ricardo. Por isso, senhor secretário de estado, esperávamos que nos dissesse algo mais porque isso já todos sabemos. O problema aqui é saber se o ciclo é mais longo ou mais curto, isto é, se a recessão é mais longa ou não do que a anterior e se o período de expansão é mais alargado ou não do que o que o precedeu. E isso é que não se consegue mensurar pela simples razão que não depende só dum país, e mesmo que assim fosse, mesmo assim seria difícil afirmá-lo porque a economia é baseada em expectativas e essas dependem sempre da maneira como cada agente económico olha para a realidade envolvente. E aquilo que os agentes económicos hoje afirmam é uma terrível desconfiança no futuro, e para isso, basta analisar o índice de confiança dos consumidores, estatística que regularmente é publicada pelo INE (Instituto Nacional de Estatística). E neste contexto, vem-nos à memória as palavras dum famoso discurso de Martin Luther King quando afirmou "I have a dream"! (Discurso que foi efetuado à precisamente 50 anos que se completam hoje). Sim ele tinha um sonho, um sonho de maior igualdade entre as pessoas, desde logo, entre as diferentes raças separadas pela cor da pele, mas a sua mensagem deve ser entendida numa maior abrangência, a do esbater, cada vez mais, as diferenças entre os vários estratos sociais. E aqui é que as coisas se tornam mais complicadas. Num envolvimento ultraliberal que campeia na Europa essa realidade é cada vez mais uma miragem. E aquilo a que assistimos é a uma concentração da riqueza na mão duns tantos - cada vez menos - enquanto um leque cada vez maior é atirado para as franjas da pobreza. Portugal é um bom exemplo disso e não pensem que é só por culpa da crise. Este modelo ultraliberal já fez o mesmo quando foi imposto noutras paragens e num outro tempo. O cerne da questão é o processo ideológico utilizado que gera um modelo macroeconómico assente nessas teses. A crise é apenas uma justificação, um "modus faciendas" que ajuda a implementá-lo duma forma sub-reptícia. E enquanto as classes não se vierem a aproximar de novo nunca poderemos dizer que vivemos em democracia. A menos que pensemos o contrário pelo simples facto de quatro em quatro anos irmos depositar um voto nas urnas.

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