Equivocos da democracia portuguesa - 280
Neste país equivocado, - a primeira empresa falida criada por D. Afonso Henriques, como era costume ser apresentada a economia portuguesa aos estudantes da FEP -, não é de admirar que soframos do mesmo mal e que também vivamos equivocados. Tudo isto a propósito das afirmações da ministra da justiça quando afirmou que "deveríamos seguir o exemplo alemão que nos anos 90 depois de passar por uma terrível crise, aceitou baixar os salários em vez de haver despedimentos". Se calhar no essencial até podemos estar de acordo, mas seria necessário dizer toda a verdade. Nos anos 90 a Alemanha, apesar da crise por que passou, estava em bem melhores condições do que Portugal hoje, depois do desgoverno deste executivo a que a senhora ministra pertence. Depois, até aceitaríamos a legitimidade das palavras da responsável da justiça se a tivéssemos visto a defender o nivelamento dos salários, ainda antes de haver crise, para o nível alemão. E só damos o exemplo germânico apenas para utilizar a mesma bitola de comparação da Dra. Paula Teixeira da Cruz. Finalmente seria de lembrar à senhora ministra que o abaixamento dos salários já está a ser feito por via indireta como é o caso do aumento do horário de trabalho, o aumento do IRS, e por aí fora. Se mesmo assim, envereda-se-mos por um abaixamento generalizado de salários, estaríamos a proceder a um duplo abaixamento, que não foi o caso da Alemanha nos anos 90. Assim, pensamos que a senhora ministra deve uma explicação à grei que, pelos visto, anda profundamente equivocada, a menos que o ande a senhora ministra. Mas esta afirmação, vem na linha do que vem dizendo o executivo nos últimos tempos. Quando Passos Coelho afirmou há dois anos que "para sairmos da crise seria necessário o país empobrecer" - coisa que aliás já não diz porque estamos em período eleitoral e assim o "empobrecer" passou a chamar-se "ajustar" - ele já tinha em mente aquilo que se iria passar desde o empobrecimento claro do país, a desvalorização do fator trabalho, a diminuição do poder de compra, e daí ao cortejo de falências, desemprego e estagnação foi um ápice. Sabemos que muitas das políticas do governo não têm sequer origem no executivo - fazemos-lhe essa justiça - mas sim nas instâncias internacionais e, desde logo, a UE que pauta o rumo dos seus países membros. Mas será necessário tornar as coisas claras para que uma simples frase, que até pode fazer sentido, esconda uma realidade bem mais dura do que aquilo que pode fazer crer. Claro que os políticos deste país que vão dividindo os proventos entre si de quatro em quatro anos, numa democracia aparente que nos faz crer que somos os detentores do destino do país, não sentem nas suas bolsas o impacto das medidas onde o viver com pouco mais de 200 euros não é uma realidade tão escassa assim. Estes senhores não conhecem a realidade da vida das pessoas, encerrados nos seu confortáveis gabinetes pagos por todos nós. Só assim se compreendem algumas afirmações perigosamente equívocas, num país, já ele, equivocado vai para 900 anos!
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