Turma Formadores Certform 66

Monday, September 23, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 285

Precisamente hoje, segunda-feira, dia 23 de Setembro de 2013, Portugal deveria ter regressado aos mercados. Deveria mas não regressou... (Já tínhamos afirmado há cerca dum ano atrás que os indicadores conhecidos tornariam essa meta inatingível). Num governo que parece fazer do embuste a sua política - Rui Machete ocultou o caso BPN, Maria Luís Albuquerque os famosos "swaps", Miguel Relvas o intriguista supremo, só para citar alguns - é confrontado com o ceticismo dos mercados. Neste governo cheio de mentiras os mercados já não acreditam. Porque a reforma do Estado não se fez, e tantas outras medidas que nem sequer começaram, os objetivos não foram atingidos. Por tudo isto, estamos na iminência do segundo resgate. Já longe vão os tempos de fazer do "programa do FMI ser o nosso programa" (Passos Coelho dixit), do "não termos problemas em governar com o FMI" (idem), do "de irmos para além da 'troika'" (idem ibidem). Neste emaranhado de confusões que vemos? Vemos um primeiro-ministro a achar que com os juros acima dos 7% é difícil regressar aos mercados no final do programa. Agora chama aos mercados "preconceituosos" no passado recente dizia que "era a falta de credibilidade do governo (anterior) que a isso conduzia". Vemos que o primeiro-ministro culpa essa situação da crise criada no Verão pelo seu parceiro de coligação e, sobretudo, na figura de Paulo Portas. O Tribunal Constitucional também não escapa, afinal o importante, é justificar o insucesso seja lá com quem for. O Presidente da República quer voltar a apelar ao consenso depois das autárquicas num gesto que, como disse e bem Marques Mendes, "aligeirar a sua responsabilidade face à iminência dum segundo resgate". Sabendo de antemão que esse consenso é impensável neste momento. Mas para além da gravidade da situação continuamos a ouvir o governo a falar a diversas vozes, desconexo, sem rumo. Passos Coelho prepara o país para um segundo resgate, Maduro acha que nem pensar, Portas diz que o pior já passou! Assim não. Esta é a imagem que dá um governo sem diretriz, sem objetivo, que já assume que falhou, que não tem alternativas. Não nos regozijamos com isso e achamos que ninguém de bom senso o pode fazer. O segundo resgate está iminente, - como muitas vezes já aqui o afirmamos - e custará muito a cada um de nós. Afinal a ânsia de "ir ao pote" (PM dixit) soube a pouco. Que deixa este governo? Um país destroçado, de terra queimada, sem esperança e desalentado. A crise governamental no início do Verão alterou a maneira como o exterior olha para nós sem dúvida, mas não foi só isso. Faltou chama e arrojo para lutar por Portugal e bater o pé às instâncias internacionais. Afinal o ser "bom aluno" não chega, se não formos capazes de associar a teoria à prática. E é neste ambiente desajeitado que vamos a votos dentro de dias para as autárquicas. Terreno também ele fértil para a especulação e o aproveitamento político. E estas eleições são a verdadeira imagem do Portugal atual. Onde muitos falsos independentes mostram a sua apetência de continuarem agarrados ao poder, talvez porque não saibam fazer mais nada, talvez porque o país que temos nem a eles dá perspetiva de futuro. Estas eleições são bem o retrato do nosso descontentamento, nesta democracia "superficialmente democrática" para utilizar a feliz expressão do historiador José Miguel Sardica. Afinal que nos resta depois de tudo isto? Nada, definitivamente nada. Vítor Gaspar falhou a profecia que fez em Maio de 2011. Não regressamos hoje aos mercados, nem sabemos quando o faremos de novo em condições capazes. Mas ele avisou redimindo-se na carta que escreveu a quando da sua demissão. Parece é que ainda ninguém a leu com atenção, ou o espaço de manobra é tão estreito que não permite arrepiar caminho. Basicamente o que Gaspar escreveu foi que esta política falhou, não iremos ser capazes de atingir os nossos objetivos seguindo por este caminho. É tempo de ideias novas, de políticas diferentes. E isso o governo não consegue fazer porque está demasiado comprometido com este caminho (errado) e sem alento para voltar atrás. Caímos num embuste quando elegemos estes governantes, eles próprios defensores de embustes, num governo que faz do embuste a sua matriz política. Afinal que podemos esperar mais?

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