Turma Formadores Certform 66

Thursday, September 19, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 284

Esta semana em que a "troika" começou a 8ª e 9ª avaliações tem sido fértil em acontecimentos, o que mesmo a presença dessas entidades não impediu. Desde logo, o crónico arranque polémico das aulas. Dizemos crónico porque infelizmente este não é o único ano em que tal se verifica. Isso só vem provar que o ensino é tratado sem grande empenho, o que infelizmente não é só apanágio deste governo. Muitas escolas, neste dia em que escrevemos, ainda não reabriram, ou porque não tem professores, ou por outra razão qualquer, onde o conceito economicista no ensino não é o menor. Enquanto uma grande parte delas são escolas onde ainda não está preenchido o quadro de professores na sua totalidade, enquanto existem professores à porta - até a levar os seus filhos - que se encontram a engrossar o exército de desempregados que temos. Uma suprema ironia num país em que o conhecimento nunca foi muito acarinhado. Depois é o regresso deste imbróglio em que se tornou o caso dos "swaps". Na comissão parlamentar nomeada para o efeito, Almerindo Marques - o antigo presidente das Estradas de Portugal - partiu a loiça, dizendo que os "swaps" feitos tiveram o conhecimento, concordância e até contaram com a assinatura de Maria Luís Albuquerque. (Ver notícia hoje publicada no Expresso Online onde são mostrados todos os documentos sobre esta matéria). Penso que já ninguém tem dúvidas de que a ministra não disse toda a verdade na comissão parlamentar, e quando vemos deputados do PSD a virem a terreiro tentar branquear este caso acusando o executivo anterior - coisa que ainda usam como arma de arremesso mais de dois anos depois o que prova que não têm a consciência muito tranquila - apenas serve para adensar as responsabilidades em torna da ministra que começa a não ter condições para continuar no cargo. É curioso notar que este executivo tem-se visto, por uma razão ou outra, mergulhado em escândalos de toda a ordem que tentam ocultar sempre da forma costumeira de culpar terceiros - normalmente o executivo anterior - forma bem aligeirada de tentar ocultar a sua incapacidade. Confusão governamental que teve o seu zénite - por agora - na crise que foi aberta por Paulo Portas. E embora muitos já se tenham esquecido do facto, os mercados não o esqueceram de todos. E face aos problemas de instabilidade política que se vivem, os mercados usam a sua habitual prudência e estão desconfiados. Vai daí que essa incredulidade se manifeste nos juros cada vez mais altos. Se a crise que Portas abriu deixou mossa, não nos parece que seja só isso a motivar tal facto. Ficamos com a sensação de, apesar das bonitas palavras que os políticos sempre usam nestas circunstâncias, a substituição de Gaspar por Maria Luís não foi bem vista pelos mercados. Gaspar, queiramos ou não, era coerente com o seu pensamento. Uma figura muita conhecida a nível das instâncias europeias que muito o estimavam. Isso não quer dizer que estivéssemos de acordo com ele, e disso fizemos eco na altura própria, mas tinha um carima bem diferente da sua sucessora, e disso também não temos dúvida. Para além disto, Gaspar era uma espécie de impoluto ministro a que nada se apontava, enquanto Maria Luís se viu no epicentro da polémica desde a sua nomeação e donde nunca mais conseguiu sair. A crise de Portas teve a ver com ela, os "swaps" que pretendiam atingir terceiros quando foram atirados para a praça pública, afinal vieram a tornar-se num dos maiores pesadelos para a ministra e para o governo. Assim, é hoje claro - como aliás já muitas vezes aqui dissemos - que Portugal está mais perto do segundo resgaste do que dum programa de apoio. A dívida está cada vez maior e por isso cada vez mais impagável, o défice apesar de algum abrandamento ainda não está ajustado como deveria estar nesta fase do programa de ajustamento, o desemprego continua enorme, embora dando sinais de alguma estabilidade, mas não esqueçamos a sazonalidade que as estatísticas nos mostram, enfim, tudo aquilo que o governo pretendia corrigir não foi capaz de o fazer. (Por isso, a continuidade da austeridade será um dado e isso constitui-se como razão para a S&P's ameaçar com o abaixamento do "rating" do nosso país por, precisamente, a continuação dessa mesma austeridade impedir a economia portuguesa de crescer. Convenhamos que até parece uma ironia!) Até a famosa reforma do Estado, pedra basilar em tudo isto, vem sendo adiada, com medidas avulsas aqui e ali, mas sendo incapaz de diminuir a despesa pública para valores razoáveis em tempo útil. Tudo tem falhado apesar do esmagamento a que os portugueses têm sido sujeitos nestes últimos anos. E as lágrimas de crocodilo do FMI no seu último relatório não chegam para encobrir uma instituição que mesmo reconhecendo a excessiva austeridade não parece quer dar sinais de mudar de rumo. Enfim, ainda temos um longo e espinhoso calvário pela frente. Não se iludam com os magos de última hora que sempre aparecem em períodos eleitorais. (Até porque não estamos certos de que as eleições possam alterar o rumo dos acontecimentos nesta fase). Portugal bateu no fundo, lá se encontra e não dá mostras de muita capacidade para de lá sair. Por mais atos de contrição que por aí se façam, esta é a dura realidade a que cada um de nós dificilmente poderá escapar.

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