Equivocos da democracia portuguesa - 283
A "troika" aí está, mas se ela representa aquilo que de mais negativo sentimos em Portugal, também é bom dizer-se que ela, a "troika", em bom rigor, não é culpada de tudo o que de mau acontece entre nós. Há muito que se fala sobre Portugal e o euro. Será bom estarmos dentro da zona euro ou seria melhor sairmos? Pensamos ser claro para todos, que Portugal fora da zona euro estaria hoje a enfrentar uma situação bem mais agreste do que aquela que hoje temos. É certo que o alinhamento seria mais rápido fruto da possibilidade de desvalorizarmos a moeda nacional, mas outros fatores seriam impeditivos do bom desempenho face a esta situação. Aliás, pensamos ser evidente que Portugal e os portugueses estão confortáveis no euro, é o que as sondagens dizem, mesmo numa população que de economia e finanças percebe pouco. Mas há o sentimento intrínseco que leva a que as pessoas percebam que se não fosse assim, estaríamos ainda pior. Mas se o desemprego que se verifica pode ser assacado à famigerada "troika", isso só por si, é redutor. Porque quando as economias contraem em bloco, como é o caso das economias da zona euro, e até fora dela, obviamente que países pequenos e pobres como o nosso, terão muitas dificuldades em se realinharem. Se o mercado encolhe, as empresas ficam com mais excedentes, a contração do lucro é evidente e a necessidade do reajustamento é inadiável, e o fator trabalho é o mais imediato e que produz efeitos mais rápidos e consistentes, infelizmente. Isto é uma evidência que mesmo o Sr. de la Palisse não ignoraria. Pensamos ser correto afirmar que Portugal e os portugueses estão a adaptar-se à nova realidade, que afinal o mercado - sempre soberano neste tipo de economias - acaba por impor. Apesar de tudo, o comportamento das exportações tem surpreendido todos, mesmo aqueles que não vêm nesta política o rumo ajustado para se debelar as dificuldades por que todos estamos a passar. Mas a economia portuguesa tem apresentado efeitos tão surpreendente que a tornam até, se o podemos afirmar assim, como algo "sui generis", das suas concorrentes, ou pelo menos não tão normal, dentro daquilo que os compêndios de economia assinalam. O que as últimas estatísticas nos mostram é que entre a faixa etária entre os 15 e os 34 anos, diminuiu o emprego e o... desemprego!... Este é um fenómeno raro em economia, embora na faixa para lá dos 35 anos tudo é radicalmente diferente. A diminuição da população é um fator evidente e claro nesta faixa etária. É óbvio que esta situação é potenciadora de perigo de conflitualidade social, mas isso é algo que temos de resolver (o governo naturalmente) e nada tem a ver com a ação da "troika". Queremos com isto dizer que, apesar de discordarmos do caminho que as coisas estão a seguir, apesar da incapacidade que o governo tem demonstrado para se impor às diretivas externas, não podemos culpar só ou quase exclusivamente a "troika". Eles fazem o seu papel de representantes dos credores que querem a todo o custo receber o dinheiro que emprestaram, e compete-nos a nós lutar contra esta maré negativa e avassaladora. Coisa que até agora ainda não vimos.
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