Equivocos da democracia portuguesa - 304
Anteontem, tivemos a noite da ira com os polícias a manifestarem-se pelas condições a que estão sujeitos. Polícias que por terem a condições que têm de ser uma força de segurança não podem deixar de ter o direito à ira quando os seus interesses são arrasados como qualquer outro cidadão. Quanto a isto pensamos que estamos todos de acordo. Já quanto à invasão - como foi gritado junto à Assembleia da República e depois de terem subido a escadaria - aí já as coisas mudam radicalmente de figura. Os cidadãos sem farda não deixam de continuar ligados às instituições a que pertencem e ninguém ali ignorava a condição de membro duma força de segurança. A subida das escadas, - ou melhor, "conquista degrau a degrau" como um dos membros que se manifestavam afirmou a um canal de televisão - já não é coisa de pouca monta. Primeiro, porque não respeitaram a lei, eles que deviam mais do que ninguém serem os seus guardiões; depois, porque abriram um perigoso precedente em manifestações futuras. Com que direito um grupo de polícias vai impedir - muitas vezes de forma violenta - que outros cidadãos subam as escadas do Parlamento, quando eles o fizeram e os seus colegas de serviço permitiram? (Será que agora ainda terão coragem para ter atitudes como a da foto anexa que correu mundo e envergonhou Portugal?) Um precedente grave que levará a que toda a gente esteja atenta ao que vai acontecer numa próxima manifestação nesse local. E vindo de membros das forças de segurança é, no mínimo, lamentável. O governo não poderia ficar indiferente, e chamou logo o chefe da polícia e dessa conversa, este veio a pôr o lugar à disposição, coisa que o governo aproveitou. O governo não poderia fazer diferente, o chefe da polícia, talvez, também não, embora se fique com a sensação que se tinha que encontrar um bode expiatório e o chefe da polícia ajustou-se a essa situação. Mas o mais insólito ainda estava para vir e que só foi conhecido ao final do dia. Foi nomeado para o cargo deixado vago, o polícia que chefiava o grupo de operações especiais, que afinal foi o que permitiu que os seus colegas subissem a escadaria! E aqui é que as coisas não batem certo. Se o chefe da PSP demissionário teve alguma responsabilidade, o novo chefe da PSP não a tem menor. E não basta dizer que foi por estratégia que isso se passou assim, pelo facto de se pensar que havia elementos armados entre os manifestantes. Aqui duas questões se colocam: se foi por estratégia, então pode ser que em nome dessa mesma estratégia se faça o mesmo no futuro; depois se se pensava que haviam elementos armados entre os manifestantes, aqui a questão ainda é mais grave, primeiro porque se deviam neutralizar esses elementos armados, ou tentar pelo menos neutralizá-los; depois não é comum os manifestantes irem armados para as manifestações, mesmo que isso diga respeito a membros de forças de segurança. Porque de futuro, basta alguém lançar o boato de que existem elementos armados no meio duma qualquer manifestação para logo, em nome da estratégia, a polícia recuar e dar a escadaria aos manifestantes. As afirmações que alguns elementos que se manifestavam são por isso demasiado graves. Na ânsia do seu minuto de fama criaram uma situação muito complexa, talvez até, sem terem a noção disso mesmo. Mas para além disto tudo, o que fica é a nomeação do novo comandante da polícia. Mas vindo dum ministro, que enquanto líder parlamentar do PSD, afirmava que a crise se resolvia em dois meses quando o PSD fosse governo, já ninguém espera nada. Depois de tanto disparate dito acabou ministro. Parece que esta nomeação está em linha - para usar uma expressão cara ao governo - com o ministro da tutela. E isso já todos perceberam.
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