Turma Formadores Certform 66

Friday, November 08, 2013

Homenagem a Mia Couto


Mia Couto, é o pseudónimo de António Emílio Leite Couto, escritor moçambicano e biólogo de formação. O escritor moçambicano natural da Beira, Moçambique, recebeu há dias o prémio Neustadt International Prize for Literature, prémio que, segundo o próprio, lhe chegou num momento difícil da vida, onde ele e a sua família vivem a ameaça do novo terror que recentemente se abateu sobre este país, o de se ser raptado a qualquer momento. Aos 58 anos de idade, Mia Couto é um dos mais notáveis e conhecidos escritores desse país e um digno divulgador da língua portuguesa. Em homenagem a este grande escritor moçambicano quero aqui deixar um pequeno trecho dum dos seus livros para que, quem aqui me segue neste espaço, veja ampliada a curiosidade de vir a conhecer a obra - caso ainda não a conheça - deste grande homem de letras.  Escolhi um trecho do seu livro "O Fio das Missangas". A estória tem por título "A despedideira" e diz assim: "Há mulheres que querem que o seu homem seja o Sol. O meu quero-o núvem. Há mulheres que falam na voz do seu homem. O meu que seja calado e eu, nele, guarde meus silêncios. Para que ele seja a minha voz quando Deus me pedir contas. No resto, quero que tenha medo e me deixe ser mulher, mesmo que nem sempre sua. Que ele seja homem em breves doses. Que exista em marés, no ciclo das águas e dos ventos. E, vez em quando, seja mulher, tanto quanto eu. As suas mãos as quero firmes quando me despir. Mas ainda mais quero que ele me saiba vestir. Como se eu mesma me vestisse e ele fosse a mão da minha vaidade. Há muito tempo, me casei, também eu. Dispensei uma vida com esse alguém. Até que ele foi. Quando me deixou, já não me deixou a mim. Que eu já era outra, habilitada a ser ninguém. Às vezes, contudo, ainda me adoece uma saudade desse homem. Lembro o tempo em que me encantei, tudo era um princípio. Eu era nova, dezanovinha." Este pequeno trecho dá uma ideia do tipo de escrita de Mia Couto, sempre tendo o seu povo, - o povo moçambicano -, no centro da ação tecendo sobre ele as suas estórias. Uma literatura que por vezes nos passa ao lado aqui em Portugal, talvez fruto ainda dum certo sentimento "colonialista "que marcou as gerações com mais anos. Por tudo isso, até para exorcizar fantasmas antigos, nada melhor do que mergulhar nestas páginas e vir a conhecer uma outra literatura que também é nossa irmã, fruto da convivência que forjamos ao longo de séculos, nem sempre pelas melhores razões. Aqui fica o repto à (re)descoberta deste grande escritor moçambicano, e os parabéns a Mia Couto por mais este prémio que vem abrilhantar a sua já longa e prolifica carreira de escritor consagrado.

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