Carta à Inês no dia do seu 3º aniversário
Cumprem-se hoje 3 anos desde o dia em que fizeste a tua entrada no mundo e, simultaneamente, na minha vida. Três anos é tão pouco na vida dum ser, mas pode simultaneamente ser tanto e tão marcante e significativo. Sobretudo, quando o nosso tempo se vai esgotando, neste Outono da vida a caminho do Inverno. Quando o nosso tempo é curto, qualquer segundo é importante. Não compreenderás agora o que te digo, na tua ainda tão tenra idade. Mas gostava que soubesses que desde o dia em que te peguei ao colo pela primeira vez - horas depois de teres nascido - não mais deixaste de ocupar um lugar cada vez mais amplo na minha vida. (Quando falo aqui no singular, deves entendê-lo no plural, porque tudo aquilo que aqui te digo é válido para a tua "mamie"). Foram as primeiras conquistas, a primeira papa, os primeiros dentes, os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras traquinices. Tudo era novo para ti, mas para mim o não era menos. No Outono da minha vida aprendi a viver com uma criança, a descobrir os seus gostos, os seus quereres, as suas ânsias. Aprendi a brincar contigo, ou melhor, recordei os meus tempos já longínquos de brincadeira com outros que me ensinaram a brincar. E isso foi um retorno aos meus tempos de menino, no aconchego do lar e da família, bastiões importantes que cedo me ensinaram a respeitar. Três anos passaram, e transformaste-te dum bebé lindo, numa bela menina, na mais bela flor do meu jardim de Outono, como gosto de dizer. Tiveste o primeiro contacto com o jardim de infância, os primeiros amigos surgiram, os primeiros mestres fizeram a sua aparição, as primeiras regras vieram por arrasto. (Agora na pré-escola vais subindo mais um degrau descobrindo novos saberes, privando com novos mestres, fazendo conhecimento com novos amigos.) Foste crescendo nesse anseio de novidade, de descoberta do mundo, deste mundo desalinhado que ainda não entendes, e que achas belo, como belo o deveríamos achar todos nós. Começaste a frequentar a minha casa, a brincar com os meus cães de que tanto gostas, começaste a aprender que um animal é puro e belo, sente dor e prazer, frio e calor, como todos nós e, por isso, deve ser respeitado. Fui-te tentando ensinar os três pilares fundamentais duma sã convivência com o mundo: a solidariedade para com o teu semelhante, o amor pelos animais e o respeito pela natureza. Três pilares importantes sem os quais nunca serás um ser perfeito se não os considerares na tua vida. Podes ter uma formação elevada - e espero que isso venha a acontecer - mas se não entenderes estas três questões fundamentais da vida, nunca serás um ser de parte inteira. (Desculpa insistir sempre nesta questão. Mas com a persistência da mensagem mais facilmente a assimilarás). Mas ainda tens muito tempo para aprender estas e outras coisas, embora ache que é na tua idade que estes valores devem ser inculcados, porque é este o tempo certo. Aprender coisas sérias a brincar é o meu lema. Por isso a tua idade é a justa para isso. Ainda espero que o destino me deixe caminhar algum tempo nesta vida para que te possa ajudar a caminhares na tua. Com a experiência dos mais velhos para evitares alguns obstáculos que o futuro te colocará, ou para melhor saberes ultrapassá-los. Mas isso não significa que desperdicemos o tempo. Porque ele urge, porque ele é precioso, e ainda tenho tanta coisa que gostaria de te ensinar. Mas hoje é o teu dia de aniversário, o terceiro. É tempo de fazermos aqui um parêntesis para celebrarmos este dia. O dia em que chegaste até nós. O dia em que entraste na minha vida e lhe deste outro rumo e sentido. O dia duma felicidade adiada que chegou numa madrugada cálida de Outubro vai para três anos. Estou grato pelo que me tens dado embora ainda não o percebas, como espero que sempre te sintas bem comigo. És de facto algo muito importante para mim. Nunca o esqueças. Não quero aqui dizer que sou melhor que ninguém, que sou imprescindível, muito menos substituir-me a quem quer que seja, longe disso, mas seguramente que em mim terás sempre um companheiro que tentará caminhar sempre ao teu lado, mesmo quando as forças me forem faltando e já não puder acompanhar o teu passo. Mas tentarei porque és muito importante para mim. És uma parte da minha vida. És o sol brilhante que ilumina o meu Outono. És o calor dos dias frios que a vida pré anuncia, és a alegria quando o riso desaparecer dos meus lábios. És o meu futuro, Inês, quando o meu já deixar de existir. Como gostaria de ter tempo de o preparar para bem de ti e tranquilidade da minha consciência. Afinal seguindo o trilho do que outros fizeram por mim quando tinha a tua idade. São coisas que ficam. Legados passados como testemunho, a que nós daremos o nosso cunho pessoal, mas o essencial aí estará. Porque o essencial da nossa vivência acaba por ser sempre o mesmo, pautado pelos mesmos princípios basilares, embora adaptados ao novo tempo, ao tempo que é o nosso, ao tempo que é o teu. E agora vamos à festa. Porque ela promete e a tua ausência já dói. Parabéns, Inês. Feliz aniversário.
Com muito amor do teu,
Padrinho. (O Pi como tão carinhosamente me chamas!)
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