Turma Formadores Certform 66

Wednesday, August 30, 2017

A Europa aculturada e vulnerável

Não é a primeira vez que trago aqui o tema. Seriamente que me sinto preocupado porque acho que é nele que reside os problemas que a Europa enfrenta nos nossos dias e que se irão agravar no futuro. Mas para melhor ilustrar o meu pensamento, quero aqui trazer uma experiência pessoal como gosto de fazer. Visito Paris desde à muitos anos e, como a França tem uma grande tradição na cultura mundial, não deixo de estar atento ao que nela vejo. Há cerca de trinta ou quarenta anos, era frequente visitar Paris e ver jovens - muito jovens ainda - nas suas visitas escolares aos museus e a outros espaços de cultura e, depois da visita, sentarem-se nas escadas e, cada um com o seu caderno, registar o que viu e como viu. Num desses dias, quando descia as escadas interiores do museu militar, deparei-me com um grupo desses jovens que não tinham mais que sete ou oito anos. Abordei-me dum deles e questionei-o sobre o que estava a fazer. Ele disse-me que estava em visita escolar e que agora, (depois de finda a mesma), tinha que escrever sobre esse tema. Disse-me também que visitas daquelas eram frequentes na sua escola. Achei interessante como a cultura era tão levada a sério naquele país e fiquei bastante agradado com isso. Até dei esse exemplo em vários fóruns em que participei. Mas as visitas foram-se sucedendo e foi vendo cada vez menos jovens nesses espaços. Já não os via à saída com os seus famosos cadernos a refletir sobre o que tinham visto. E essa visão tão edificante foi-se esfumando visita após visita. Fui percebendo que a França estava a abdicar dessa famosa maneira de transmitir cultura às novas gerações que tanto a tinham celebrizado. Foi-me deixando triste porque parecia que a Europa em geral estava a abdicar de valores que eram (são) importantes para a sua identidade. Há cerca de dois meses, passou um documentário na RTP2 sobre o aniversário da torre Eiffel e fiquei siderado com o que vi. Se aos estrangeiros o perguntar quem fez a torre Eiffel poderia levar a algumas confusões - que na verdade não aceito - quando se tratou de jovens franceses, então foi o descalabro. Ouvi os maiores disparates que poderia imaginar. Aqueles jovens não sabiam nada sobre algo tão emblemático do seu próprio país. O próprio narrador a isso fazia referência. Concluí rapidamente que aquela geração era, nada mais, nada menos, que a dos filhos cujos pais deixaram de ser levados pelas escolas aos centros culturais do seu país. E isso deixou-me preocupado. Porque este fenómeno é transversal às sociedades europeias em geral. A Europa está a abdicar dos seus valores culturais e identitários que fará dela preza fácil para outras correntes de pensamento. A ignorância cada vez maior do ocidente - disfarçada atrás da tecnologia, dos ipads e ipodes, escudada no seu estar económico e social -, fará com que se venha a desagregar fruto duma identidade perdida. Quando se fala de outros valores ou ideologias e nos acantonamos, - cheios de receio sobre o futuro -, isso tem que ser assacado a uma política despersonalizada, aculturada, que a Europa em geral está a seguir. A Europa está a sacrificar os seus valores ao seu bem estar, esquecendo que, se por trás disso não existir uma coesão social identitária e, mais cedo ou mais tarde, será confrontada com a despersonalização. E uma Europa despersonalizada é uma Europa vulnerável. Queiramos ou não, a cultura duma nação, dum continente, é a argamassa de coesão, duma série de tijolos que vão sendo empilhadas pelo tempo. Cada vez à menos tempo para se corrigir o tiro. Não sei é se existe força, determinação e vontade para isso.

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