Equivocos da democracia portuguesa - 34
Assistimos na passada terça-feira, dia 19 de Janeiro de 2010, a um dos actos mais hipócritas da democracia portuguesa. Estamos a falar-vos da condecoração de Santana Lopes com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo por Cavaco Silva. Se já era irónica a condecoração de Santana Lopes, ainda a torna mais ridícula ser este acto presidido por Cavaco Silva, que tanto fez para derrubar Santana Lopes do poder. Ainda há quem se lembre do famoso artigo de Cavaco sobre a "má moeda" que viria a despoletar o fim tragicómico do governo de Santana Lopes. A justificação de Cavaco Silva aos jornalistas antes da cerimónia, era que se "tratava duma prática política de sempre, que se tinha institucionalizado". Ficamos assim a saber que, as condecorações na democracia portuguesa - não serão todas com toda a certeza - se prendem não com o mérito da pessoa, mas sim com um hábito que se enraizou. Como disse a jornalista Maria Flor Pedroso, nas "Escolhas de Marcelo" no passado domingo, haveria muita gente a sorrir neste acto, ou pelo menos, a disfarçá-lo. Mas o mais irónico foi Cavaco Silva no seu discurso fazer referência ao "desempenho de cargo relevante", e Santana Lopes, talvez ainda mais irónico, dizer que era "uma honra recebê-la das mão de Cavaco Silva". Enfim, neste Carnaval de máscaras - muito à moda de Veneza, mas sem o seu brilhantismo - lá vamos olhando para o lado e fazendo de conta que nada aconteceu. Os valores da ética, do profissionalismo, da integridade, do desempenho relevante, são cada vez mais, letra morta. Todos já vamos percebendo que a nossa democracia está doente, mas tanto assim, era impensável. As atribuições honoríficas não podem ser atribuídas invocando a tradição, porque assim, reduzimos o seu significado a nada, e quando alguém receber uma condecoração, teremos o legítimo direito de nos interrogarmos se ela é merecida ou não. Aqui fica mais um equívoco da democracia portuguesa.
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