A crise financeira e a recessão - XXII
A semana que hoje finda foi pródiga em acontecimentos económicos pelas piores razões. Depois da Grécia, Portugal e Espanha aparecem sob a mira dos especuladores internacionais. Toda a gente já percebeu que as economias portuguesa e espanhola, nada têm a ver com a grega. Os mercados já o sabem desde sempre, mas a fúria especulativa tem sido soberana, muito ajudada pelas empresas de "rating". Já aqui afirmei que estas empresas nem sempre têm critérios ajustados, servindo quase sempre, interesses inconfessáveis. Todos sabemos que estas empresas são americanas, da mesma América que sempre se opôs, - nem sempre duma maneira velada -, à UE e sobretudo ao euro. Aliás, estou convencido de que não é Portugal - país pequeno e periférico - que lhes interessa, mas sim, criar condições de ataque ao euro, quiçá, a sua extinção. Daí, o já por diversas vezes, ter afirmado que se deveria caminhar rapidamente para a criação duma empresa de "rating" europeia, que aliás, consta do programa de recandidatura de Durão Barroso. Mas se esta crise anunciada teve algum efeito positivo, tal verificou-se esta semana, com o encontro entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho, a pedido deste. Já aqui defendi, por várias vezes, que deveriam, os responsáveis políticos, buscar aquilo que os une, que é sempre muito mais importante, do que aquilo que os divide, em nome do interesse nacional. Parece que finalmente, os responsáveis políticos, compreenderam que o interesse nacional se deve sobrepor ao interesse partidário e eleitoralista. Todos sabemos que esta aproximação de Pedro Passos Coelho não é de todo inocente, e que será levada em conta na próxima campanha eleitoral. Mas o contrário, também é verdadeiro. Embora não seja um defensor do chamado "bloco central", acho que as grandes questões nacionais deveriam merecer o consenso dum leque alargado do espectro político português, porque só assim, poderemos mostrar ao mundo que temos capacidade para enfrentar os desafios que temos pela frente. Não deixou de ser sintomático que, após esta reunião, os mercados acalmaram e deram sinais de recuperação, desde logo o PSI-20, e o responsável da Standard & Poor's que baixou o "rating" da República Portuguesa, teve que vir a terreiro dar explicações. Mas, gostaria de deixar aqui uma crítica à UE pela maneira lenta como tem reagido à crise grega, - algo que já foi reconhecido pelo polémico comissário Almúnia -, mas sobretudo, pelos avanços e recuos da Alemanha. Todos sabemos que, a economia alemã, é o motor da UE, e que Angela Merkel é uma figura política incontornável. Mas nem todos saberão que, Merkel, percebe pouco, para não dizer nada, de finanças o que, desde logo, é um obstáculo ao bom desenvolvimento do ataque à crise. Não sei se algum dos conselheiros económicos de Merkel, já a alertaram para a sua posição que pode vir a significar o fim do euro e, concomitantemente, da própria UE. Porque se o euro se extinguir, será difícil manter agregada uma união que tem dado provas duma certa rigidez, face a grandes questões, sejam elas a crise financeira actual, seja o conflito nos balcãs, como aconteceu a algum tempo atrás. Contudo, a nível nacional, à que reter que, a exemplo do que aconteceu com o temporal na Madeira que uniu Sócrates a João Jardim, parece que este ataque a Portugal uniu Passos Coelho a Sócrates. Esperemos que seja para durar. O que é pena é que estas aproximações se verifiquem "in liminé" e não como uma estratégia nacional para evitar os problemas que nos assolam e que derivam da nossa pequenez, logo pouco peso político, e da nossa periferia, logo pouco relevância.
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