Turma Formadores Certform 66

Thursday, July 01, 2010

Reflexões em torno de "Os Jardins de Luz" de Amin Maalouf

Todas as revoluções e utopias trazem o projecto de um Homem novo: um homem mais livre, mais justo, mais solidário, a viver responsavelmente em comunidade. Esse homem novo é o fermento dessa humanidade, onde cada um se sentirá e agirá como membro dum só corpo. O homem novo é possível. É um dever. É uma tarefa a realizar. Mas não será o fruto espontâneo de nenhum decreto ou revolução, nem consequência normal de meras transformações económicas e sociais. O seu nascimento exigirá sempre, como condição, a rejeição do homem velho que se aloja no íntimo de cada um de nós: esse homem fechado e egoísta que quer ser acolhido mas não sabe acolher; que quer ser amado mas não sabe amar; que quer ser compreendido mas não sabe compreender; que quer ser ajudado mas não se dispõe a ajudar; que quer ser respeitado mas não respeita; que quer ser desculpado mas não desculpa... Rejeição que não se faz sem sacrifício, sem renúncia, sem cruz... Rejeição que não é obra de um instante mas propósito e esforço de cada dia. Neste início do segundo semestre de 2010, - depois da euforia dos Santos Populares, da participação portuguesa no Mundial, que muito nos alienou dos problemas actuais -, neste início de semestre em que passamos a ganhar menos e a descontar mais para o omnipresente Estado, com as férias aí ao dobrar da esquina, pensemos um pouco em tudo isto. Vêem-me à memória ainda os ecos do livro "Os Jardins de Luz" de Amin Maalouf,quando Mani afirma: "Respeito todas as crenças, e é afinal este o meu crime aos olhos de todos. Os cristãos não escutam o bem que digo do Nazareno, eles censuram-me por não dizer mal dos judeus e de Zoroastro. Os magos não me ouvem quando faço o elogio do seu profeta, só querem ouvir-me amaldiçoar Cristo e Buda. De facto, quando reúnem o rebanho dos fiéis, não é em volta do amor mas do ódio, é apenas em face dos outros que eles se encontram solidários. Apenas se reconhecem como irmãos nos interditos e nos anátemas. E eu, Mani, longe se ser o amigo de todos, em breve passarei a inimigo de todos. O meu crime é o de querer conciliá-los. Pagá-lo-ei, pois eles unir-se-ão para me condenar. No entanto, quando os homens se tiverem farto dos ritos e dos mitos e das maldições, hão-de recordar-se de que um dia, no tempo em que reinava o grande Sapor, um humilde mortal fez ressoar um grito através do mundo". Reflictamos sobre tudo isto, e tentemos buscar a união dentro da nossa diversidade, que será tão necessária para enfrentar as dificuldades que nos assolam neste momento e que, infelizmente, continuarão a apoquentar-nos ainda, durante algum tempo.

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