Reflexões após férias (continuação)
A chamada desse Homem só, herói da nossa civilização, que foi Jesus, exorta-nos à vigilância, deve ajudar-nos a despertar da indiferença, da passividade e do descuido com que vivemos, frequentemente, a nossa Fé. Como disse alguém: " A Fé é uma vida, uma confiança partilhada e proclamada, é um encontro, um caminho, uma aventura; é a certeza de ser amado e de poder, enfim, amar. " A Fé é, também, em certas horas, uma dúvida, uma espécie de noite onde se procura. É uma promessa, uma herança, uma escolha, uma adesão, uma comunhão. É um Povo a que nos agregamos, uma Igreja, um Credo, um Mistério que se celebra em conjunto. A Fé é um testemunho, dia após dia, depois de tantos outros, ainda... A Fé é uma pequena semente que se torna árvore, é uma luta e um combate pela paz e pela justiça. A Fé é a contemplação pacífica de um rosto amado, uma conversão familiar com um amigo; é, no fundo do coração, uma alegria secreta, uma esperança que supera todas as provas; é uma vida, um amor, uma Fonte que jorra para a Vida eterna. A Fé, não o esqueçamos, é, também e finalmente, um Dom. Dom que se pede, que se reconhece e que se exercita na vida de cada dia para melhor lhe correspondermos, pois, como nos diz Jesus, os dons recebidos não são privilégios mas responsabilidades acrescidas... Mas quando falo de Jesus, não quero entrar no reducionismo que a religião - seja ela qual for - encerra. Como me dizia um sacedorte à uns dias atrás, "Deus não tem religião, porque tem que se relacionar com todas e com todos". Este é o espírito aberto que muita vezes nos falta, para que em nome de algo maior que nos transcende, envolver-nos em guerras que destroiem, em conflitos que amesquinham, no desrespeito pela natureza e pelo planeta, cada vez mais visível, enfim, na intolerância embora a rejeitemos liminarmente, atribuindo aos outros essa faceta que não somos capazes de ver em nós. Este desrespeito pelo mundo em que vivemos que leva a cataclismos cada vez maiores e mais devastadores, onde o ser humano perde tudo até a dignidade de se considerar humano, é cada vez mais evidente, por mais que olhemos para o lado. Eu, que sou um grande amigos dos animais, olho para eles com cada vez maior admiração. Ao seu desprendimento, ao seu não acumular nada para além do estritamente necessário à sua subsistência, à leveza com que passam pela vida. Nós, pretensamente seres superiores, vamos atafulhando a nossa vida com coisas que nos entorpecem os movimentos e que, na maioria das vezes, de nada nos serve a não ser para nos conseguirmos sentir superiores ao nosso semelhante, com o ego a rebentar. Se já tiveram pessoas que faleceram na vossa vida, onde reparar que, do muito que acumularam, apenas ficamos com este ou aquele símbolo - muitas vezes, nem sequer o mais valioso - para nos manter viva a memória do desaparecido. Mas embora saibamos tudo isto, nunca deixamos de acumular porque este é o nosso desígnio, porque esta é a forma com que a sociedade nos moldou, com valores associados, nem sempre tangíveis. Olhemos à nossa volta, e reflictamos sobre tudo isto. Poderá não ser a melhor forma de regressarmos à nossa vida activa mas, seguramente, será a melhor forma para nos libertarmos face aos outros e ao mundo egoista em que vivemos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home